– Ele entrou em depressão quando perdeu o emprego e decidiu "beber para esquecer". A situação foi agravando ao longo do tempo. Ele não conseguia segurar um emprego porque trabalhava bêbado até chegar ao ponto de nunca mais ser chamado para um. Ele tinha um carro que era uma das suas paixões, mas perdeu-o quando o banco veio busca-lo a casa devido ao atraso do pagamento do empréstimo. O buraco ficou cada vez mais fundo e a melhor solução era beber para não se lembrar que estava a perder tudo. O que ele não compreendia é que o álcool não o fazia esquecer mas era a razão da sua perda. A mais clara verdade que ele não via. O dinheiro que recebia do fundo de desemprego era para o álcool e, quando não chegava, pegava ás escondidas no dinheiro da minha mãe. Quando chegava o fim do mês, ela não tinha dinheiro para pagar a luz nem para nos alimentar porque o álcool roubou-lhe. Também lhe roubou um marido que era perfeito para ela. Ela aguentou o vício dele e tentou de tudo para lutar contra ele, era impossível porque quando numa canoa se rema para lados opostos ela não consegue avançar e só permanece ali, á deriva. Porém, ele e o seu vício estavam a ir longe demais e minha mãe teve de tomar uma medida severa, dormir no sofá. Naquele dia, ele perdeu-a para sempre e ela só o deixava viver na mesma casa do que ela porque sei que cada vez que ela olhava para os seus olhos, eu via a esperança que ela sentia e rezava. Esperança de reerguer um marido exemplar, trabalhador e bom pai.
- E o que lhe aconteceu? – eu respiro fundo enquanto repenso se lhe conto o resto da história da minha vida, suspiro bem fundo.
- Fugiu porque um dia ele perdeu tudo quando tentou, tentou, violar-me. – as palavras saem ao solavancos da minha boca.
Eu sinto-me bem a falar sobre o que vai dentro de mim. Olho para os meus pés para não perder a coragem de libertar este peso.
- Ele o quê? – sinto o choque nas suas palavras e um pouco de raiva.
- Ele pensava que eu era a minha mãe. Ás vezes penso que ele não o fez de prepósito. Foi um erro. Foi o álcool. Eu tenho tantas lembranças boas dele, mas quando vem á minha cabeça a palavra "pai" é sempre aquele momento que preenche o meu pensamento. – explico observando o seu queixo a cair abrindo ligeiramente a sua boca de espanto. – É por isto que não consigo beber e custa-me muito tocar numa garrafa porque sempre que vejo o álcool, vejo o meu pai adormecido no chão ou as garrafas espalhadas pelo sofá. Ele perdeu tudo para o álcool, perdi um pai, perdi uma boa infância e perdi uma bela família. Acho que tenho muita coisa contra o álcool, não achas?
- Agora compreendo o porquê de andares estranha a noite toda. Não gostas de ver o Diego a beber. – confirmo com a cabeça. – e o Francis. – acrescenta e ficamos em silencio enquanto recuperamos desta viagem ás trevas do meu ser. – Sabes que partiste um copo de dois mil euros? – desvia do assunto, olha-me sério, o meu peito aperta e os meus olhos arregalam cheios de preocupação. – Estou a brincar. – dou-lhe um leve soco no braço e percebo que estou a sorri com a sua gracinha, talvez fosse esse o seu objetivo, pôr-me a sorrir.
Ambos rimos e o clima alegre trás uma leveza ao meu peito.
- Tu lançaste-me um feitiço! – falo séria. – Confessa a verdade! – tento manter o meu rosto fechado mas abro um grande sorriso que tento fecha-lo mas não consigo.
- Eu? – diz ainda ofegante por estar a gargalhar.
Sorri. Fogo este rapaz tem um dos sorrisos mais lindos que eu já vi.
- Sabes que poucas pessoas sabem a minha história. Só as que me viram a passar por cada capítulo ou aquelas que eu confiei o meu maior segredo. E tu! Em dois dias fizeste-me abrir o livro do meu passado e mostrar-to sem um único obstáculo.
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BETWEEN I - entre corpo e voz [Português De Portugal]
RomanceTEM AUDIOBOOK E ESTÁ CONCLUIDO Ser abusada deixa traumas para a vida! Apaixonada pelo lutador de boxe mas não pode se relacionar sexualmente devido ao seu trauma. Elizabeth Carter ou Lisie é uma menina simples com uma vida normalíssima mas com um p...