Capítulo 78 - A despedida

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Eu olho para o relógio chique delicadamente pendurado na sala e reparo que já são 2:27 da noite. Todos nós já cantamos, até Baltazar, já que Monty puxava todos para o palco improvisado. Eu posso ter alguns talentos, mas cantar não é um deles. Quando subo ao palco e a minha voz tímida e desafinada começa a soar, provoca o riso em quase todos. Com um sorriso no rosto continuo a cantar mas puxo o Monty para cantar comigo assim, não sou a única a passar por esta vergonha . A voz dele é tão desafinada quanto a minha por isso, o ambiente fica cada vez melhor entre nós. Quando termina a música, as minhas bochechas doem tanto de rir. Para descansar um pouco, sento-me no sofá massajando as minhas doloridas maças do rosto. O Diego, o rapaz loiro, o Monty e o Baltazar estão a conversar no meio da pista enquanto Octavia se prepara para fazer outro espetáculo. A sua melodiosa voz entra pelo meu ouvido numa música desconhecida mas alegre logo, levanto-me e junto-me aos bailarinos desajeitados. Eu olho para o meu lado direito e observo o sorriso aberto no rosto de Diego a dançar sozinho, no seu mundo, bem longe daqui. No meu lado esquerdo tenho o Monty a dançar numa forma tão engraçada que me faz abrir um sorriso e voltar a sofrer. Quem me dera que toda a dor que passa no meu peito fosse sempre a dor das minhas bochechas. Suspiro este desabafo. Eu tento ensinar uns passos ao Monty e de repente cai no chão pois rodopiou e desequilibrou-se, caímos na gargalhada. Ele levantasse, continua a dançar, mas os meus olhos deixam de se focar nele e observam um copo a ser enchido pela quarta vez. Eu sei que é paranoico eu estar a fazer a contagem mas o meu desagrado aumenta a casa soma que realizo. Não consigo evitar. Eu tento ficar indiferente ao seu estado embriagado, admite, Elizabeth, não consegues! Por isso é que estás a disfarçar ao beber o resto do sumo do meu copo, imaginando que ele está a beber o mesmo. Quando vejo o seu fundo, afasto o copo da minha boca e dou de caras com o rapaz loiro e os seus olhos avermelhados.

- Pega, bebe, hoje é dia de festejar!- ele segura na sua mão uma garrafa de whisky que aproxima do meu copo com o intuito de o encher.

Ele está tão bêbado ou mais que o Diego.

- Não, obrigado. – nego educadamente afastando o meu copo.

- Não sejas cortes! É só um pouco. – ouvi essa frase tantas vezes a sair da boca de meu pai mas nunca era só um pouco.

Ele arranca o copo da minha mão e aquela frase ecoa na minha cabeça despertando a raiva.

- Eu já disse que não. – elevo o tom sem conseguir controlar e tento arrancar o meu copo da sua mão.

Quando o puxo na minha direção, ele acaba por escorregar das nossas mãos espedaçando-se no chão de madeira.

- Calma, miúda. – vejo o seu olhar espantado e vermelho que me trás péssimas recordações, desvio o olhar.

- Desculpa. – agacho-me e começo a apanhar os cacos de cristal para a minha mão.

Observo um pedaço maior, quando o pego o seu bico pontiagudo rasga um pouco a pele do meu dedo.

– Aih!- exclamo baixinho enquanto observo o sangue a sair aos poucos pelo rasgo.

- Lisie, estás bem? - queria que fosse a voz de Diego, mas é a voz caraterística de Monty e a sua mão no meu braço.

- Sim, mas parti o copo. – coloco os pedaços maiores na minha mão saudável enquanto o sangue escorre pela minha outra mão.

- Estás magoada! - apesar de estar de costas, consigo sentir a preocupação na sua voz.

- Isto não é nada. – desdenho a ferida e continuo a pegar nos cacos.

- Lisie, deixa estar isso e anda cuidar do teu dedo. – começa a puxar o meu braço para cima.

- Não é preciso. – afirmo continuando a limpar a minha confusão.

- É sim. – a força que ele exerce no meu braço é enorme e obriga-me a levantar do chão.

Sem hipóteses de reclamar, coloco os cacos que tenho na minha mão no lixo que estava próximo de mim e caminho seguindo o Monty para o corredor. Eu olho á minha volta e observo o loiro, a Octavia e o Diego a conversar e dança no meio da pista. O Diego está completamente bêbado e já cambaleia. Entristeço tentando não o fazer.

******

- Lisie, o que se passa contigo? – saio dos meus pensamentos e vejo o Monty a desinfetar o meu dedo com um pouco de algodão chumbado em remédio. - Tu és mesmo distraída. Eu estou a falar contigo desde que saímos da sala e tu nem ouviste uma palavra que eu disse. – observo o cuidado com que trata a minha ferida.

-Desculpa, tu estás e tratar de mim e eu no outro mundo com o meu pensamento. – observo o algodão a pousar no meu dedo pela segunda vez.

- O que vai aí dentro? – questiona enquanto abre a caixa vermelha e retira um penso.

-Nada. – evito falar sobre o que martela na minha cabeça.

- Se quiseres contar sabes que podes contar comigo. – encosta com delicadeza o penso no meu dedo colando-o.

- Eu sei, obrigado. – abro o meu honesto sorriso.

-Sabes que o Diego não viu o que se passou contigo. – defende-o. – Para além de agora não ver nada á frente. – conclui.

- Pois. – não consigo esconder o desagrado no meu rosto.

- Essa tua cara diz-me que se passa alguma coisa. Para além do que aconteceu com o Francis. – então esse é o nome do loiro. – Algo me diz quer tens algo contra o álcool. – retiro a minha mão do balção da casa de banho e fico a olha-lo sem reação, ele é bom observador.

- Eu só não gosto. É isso. – as palavras saem aos tropeções porque tento mentir apesar de saber que sou péssima a faze-lo.

-Sabes que és uma péssima mentirosa.- diz sorrindo de lado.

- Eu não gosto porque o meu pai era bêbado. – as palavras saem da minha boca sem eu asconseguir controlar.

 – as palavras saem da minha boca sem eu asconseguir controlar

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bj queridos leitores

BETWEEN I - entre corpo e voz [Português De Portugal]Onde histórias criam vida. Descubra agora