Capítulo 35 - Ele voltou

93 8 4
                                    

Eu perdi-me no tempo das suas palavras, sem reparar as lágrimas correm pelo meu rosto. Porém, não são lágrimas de tristeza, são de emoção. As suas palavras foram tão belas como as palavras de um poeta, mesmo sendo simples e diretas. A simplicidade das suas frases e o amor que cada palavra despertava sentimento em mim, faz-me querer lê-la novamente. Eu deito-me na cama e amarro-me á carta enquanto os pensamentos daquela noite correm na minha mente. Depois observo a paisagem através da minha janela e as nuvens taparam o sol que brilhava gloriosamente. Eu fecho os olhos e deixo-me levar pelo cansaço do meu corpo enquanto as minhas mãos não largam esta folha com a escrita itálica de Diego.

********

O som da chuva a bater na minha janela faz-me acordar. O vento sopra bem forte lá fora e os trovões por detrás da montanha deixam este espetáculo magnífico. Eu aconchego o meu rosto na minha almofada e deixo-me aqui entre o calor da minha cama e o espetáculo que a natureza me oferece. Após algum tempo um bichinho começa a corroer dentro de mim e rapidamente eu procuro o meu caderno na minha mesinha. Eu sento-me na cama e o meu tronco fica destapado pela sua roupa. Eu pego a caneta que estava presa ao caderno e sinto o metal frio a tocar os meus dedos. Por fim, abro uma página em branco e as palavras fluem naturalmente.

Posso parecer enlouquecida
Mas por ti morro de amores
Amo ouvir-te a assobiar
Tua bela força a tiranizar

Eu deitada no aconchego
Oiço-te e corro pra janela
Aih como moves o mundo
Deixa-me ser tua donzela!

Abro a janela desesperadamente
Espero que toques em mim
Aih como me fazes sentir viva
Não vás! Vive dentro de mim!

Descalça procuro-te sem medo
Tudo á minha volta está agitado
os ramos das árvores dançando
Tua belíssima melodia suando

Eu sei, minha mente desligou
rodopio de felicidade
Meus livres braços aberto
Meu peito enfrentando a gravidade.

Talvez me chames de louca
De te enfrentar numa tempestade
Mas contigo sinto-me viva
Espero-te, novamente, majestade.

*** (Mudo de página para que possa escrever outro poema.) ***

Vento, o quanto te venero...
Mas tenho de admitir
Quando a luz te acompanha
Melhor espetáculo a assistir.

Aquela luz espontânea
Que desce do céu
Suas cores palpitantes
Leva tudo que é meu!

Logo chega o poder
Teu som estrondoso
Não me fazes recear
Neste peito ruidoso!

Só quero que te aproximes
Admirar-te de perto
Descobrir o teu interior
Um mistério de esplendor!

Eu sei que és tirana
tua escrava, eu sou
Deixa-me só ver-te outra vez
Depois prometo que vou.

Já passaste por mim...
Não me quiseste levar
Volta rapidamente, majestade,
Para meu peito despertar!

Eu fecho o meu caderno e dentro dele guardo a bela carta de Diego que estava em cima da minha almofada. É nestes momentos que sei que o meu coração está dividido. Quando os meus dedos tocam a carta de Diego o meu peito aperta mas, sempre que a chuva toca a minha janela, o meu peito aperta outra vez. Numa intensidade equivalente e de formas diferentes. Eu respiro fundo tentando saber quem aperta mais o meu coração, missão impossível. Não consigo desvendar este não complicado enigma. Levanto-me da cama e observo os números vermelhos do meu relógio que me dizem que são seis horas da tarde. Se fosse um dia normal eu ficaria arrependida por ter dormido durante o dia no entanto, a minha noite valeu por vários dias vividos. Seguidamente, caminho para a minha casa de banho, retiro as minhas roupas e deixo a água quente relaxar os meus músculos. As minhas metades do meu coração começam a bombardear-me com as imagens dos dois donos delas. As mãos de Diego a deslizar pelo meu peito misturado com o corpo de Thomas tão próximo do meu. No meio da confusão dos meus pensamentos, acabo o meu banho e no fim enrolo-me numa toalha. Eu saio da casa de banho e logo pego do meu armário castanho um pijama quente e simples. A minha mente, outrora relaxada, é bombardeada com os pensamentos da noite passado porque encontro-me petrificada a observo na minha cama as minhas roupas, que ainda se encontram dobradas com cuidado. Guiada pelo meu peito, aproximo-me, pego no robe dele e levo-o até ao meu nariz para que possa sentir o seu cheiro. Eu não quero larga-lo. Deste modo, desato o seu nó, coloco os meus braços onde já estiveram os seus e o meu corpo fica coberto até abaixo dos meus joelhos. Ele tinha razão, eu sinto-me como se estivesse nos seus braços devido ao seu cheiro que paira á minha volta. Eu saio do meu transe, pego o meu telemóvel da mala, os meus fones e levo-os comigo para a cozinha. Distraindo-me na melodia da música que sai pelos meus fones, faço o jantar no silêncio dos meus pensamentos. A chuva bate ainda mais forte na janela e é música para os meus ouvidos. Eu sento-me no meu sofá com um enorme gelado nas minhas mãos e ligo a televisão num canal de filmes. Eu mudo consecutivamente o canal porque não encontro nada que combine com o meu peito. O meu telemóvel toca, pouso o gelado na mesa de centro e aproximo-me do balcão da cozinha onde ele estava pousado.

BETWEEN I - entre corpo e voz [Português De Portugal]Onde histórias criam vida. Descubra agora