capítulo 22 - Um trauma revivido

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Eu olho para cima e as estrelas brilham como inúmeras lanternas no céu. A noite está escura logo, elas podem mostrar o seu belo brilho. As lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto enquanto eu caminho sozinha pelas ruas vazias. Apesar da solidão, o medo não consegue dominar os meus pensamentos conquistados pelo Thomas e pelo Diego. Eu continuo a arrastar um corpo morto que suporta uma mente pesada. O frio arrepia os meus braços que só estão cobertos por uma camisola vermelha e fina. Neste momento não tenho telemóvel, dinheiro e o meu quente casaco. Eu sei que Denie guardará as minhas coisas, eu não sou capaz de voltar para trás e encarar os olhares de todos. Como é que me esqueci que estava no bar cheio de pessoas? Eu deixei-me levar pela música e por os meus sentimentos pelo Diego. Eu já não o via á algum tempo e através da dança mostrei o quanto ele é importante para mim. Nesta mente confusa, o Thomas contraria-o como numa balança. Quem pesa mais na minha saudade? Já se passaram alguns minutos e eu continuo a caminhar numa cidade fantasma. Cada passo que dou é acompanhado pelas minhas lágrimas. Ver aqueles olhares foi rever demónios do passado, nunca é fácil relembrar momentos onde a nossa vida ficou de tal forma destruída, tão destruída como o meu ser que teve de renascer. Eu percorro as minhas mãos pelos meus braços tentando aquece-los e distrair a minha mente. Eu olho na minha frente e vejo o cruzamento da rua de minha casa, felizmente estou a chegar. Eu limpo as minhas lágrimas e não consigo esconder um ligeiro sorriso ao chegar ao cruzamento. Eu só quero o conforto do meu porto seguro.

-Olá linda. - dou um salto de susto já que pensava que a rua estava vazia.- Queres um pouco?


Um homem pouco mais velho do que eu, surge com uma garrafa de whisky na mão. O seu aspeto não é mau, mas o seu estado embriagado faz-me temer. Eu viro para a minha rua e vejo a minha casa no seu fim. Eu começo a caminhar mais rápido evitando-o.

- Não fujas de mim! - o meu maxilar agita-se e os meus pés movem-se mais rápido.

A minha boca está congelada e a minha mente abstrai-se pensando só em chegar a casa. O meu coração acelera devido aos seus passos acelerados repetindo os meus.

- Eu disse não fujas de mim! - sinto o seu braço no meu ombro que me empurra contra uma parede fazendo-me imóvel á sua força.

Neste momento o meu corpo está paralisado e a minha voz continua congelada ao ver os seus olhos nos meus. As minhas mãos tremem, não devido ao frio, mas gerado pelo medo que corre no meu corpo. Os seus olhos observam-me mirando os meus lábios e descem para o meu peito que está bastante tapado pela minha camisola vermelha.

-Deixa-me ir. - enuncio com a minha voz tremula.

Coloco as minhas mãos junto ao meu pescoço e os meu braços ficam na frente do meu peito para afastar o seu corpo do meu. Neste momento estou entre a parede e os dois braços que me cercam numa masmorra, onde ar que me rodeia é o seu hálito a whisky.

-Deixa-me ir, por favor. - é o máximo que consigo reagir, sinto-me petrificada.
- És bonita e jovem. - aproxima o seu rosto do meu e navega com o seu nariz pelos meus cabelos. - Cheirosa.

- Por favor, deixa-me ir! - a minha voz é a única parte do meu corpo que é funcional.

O meu corpo treme cada vez mais e as minhas palavras são inúteis á sua intimidação. O meu corpo treme ainda mais ao ver os seus olhos a penetrar os meus. Eu viro o meu rosto para o lado e fecho os olhos tentando afastar a minha mente deste lugar. Eu tento controlar a minha respiração e por breves instantes a minha mente leva-me para aquela ilha onde novamente vejo-me descalça sobre a erva verde. Eu olho no horizonte e vejo um corpo a mexer-se e rapidamente corro na sua direção. Uma figura preta continua imóvel, chego à sua beira com um sorriso no rosto e coloco a minha mão no seu ombro.

BETWEEN I - entre corpo e voz [Português De Portugal]Onde histórias criam vida. Descubra agora