O tempo passou desde do momento em que eu vi os olhos verdes de Diego e que dormi entre as asas de Thomas. O mês de fevereiro está a acabar e a primavera já força em aparecer. O sol já consegue aquecer a minha pele e as tangerinas da quinta na minha rua já estão a desaparecer. Todos os dias, antes de ir para a escola, retiro dos ramos que estão estendidos sobre o muro, uma pequena e bem laranja. Eu adoro as mais pequenas porque são um pouco azedas, o seu sumo a escorrer pela minha boca é uma boa miragem que desperta a sede em mim. A minha vida tem sido uma monotonia: vou para a escola, treino, casa e retorna tudo outra vez. Como sempre a minha mãe grita por mim, eu abro os olhos e em vez de olhar aquela luz vermelha pego no meu telemóvel. Eu concluo que Thomas ainda não acordou porque não tenho uma mensagem dele por isso, opto por lhe retribuir o gesto:
" Bom dia, dorminhoco."
Seguidamente, ponho-me a pé e, sonolenta, preparo-me lentamente. Por incrível que pareça, não estou atrasada. Desloco-me até á cozinha.
- Filha, já viste as notícias? - interroga minha mãe com uma euforia enquanto vê a televisão.
- Calma, mãe, tanta agitação pela manhã. - comento enquanto venho do corredor e entro na sala.
- Conheces aquele rapaz? - diz ela ainda eufórica, a vontade de voltar para o silêncio do meu quarto domina a minha mente, aliciando-a. - Ele é da nossa cidade! - alteia mais a voz.
Com os ouvidos a implorar o silêncio, eu desloco o meu olhar para a televisão e meu coração aperta-me com força. Eu olho novamente e vejo uma multidão de jovens, maioria raparigas, a rodear o Diego. Eu observo-o com atenção e reparo nas suas marcas no rosto devido ao boxe. Ele caminha seguramente, sorri para a multidão enquanto oiço os gritos das raparigas. Não consigo estar indiferente e a raiva controla o meu corpo. Um homem vestido com um casaco cumprido e preto afasta a multidão dele e eles entram num avião. Sem entender o que se passa eu leio as informações que passam no roda pé.
" Diego Collins ganha o campeonato nacional e representará o nosso país no campeonato internacional de Boxe em Tóquio"
Tóquio! Eu não acredito que ele vai para Tóquio! Neste momento não sei o que fazer! Eu pego no meu telemóvel e procuro o seu contacto. Eu escrevo Parabéns. Que lindas palavras, Elizabeth! Eu apago a mensagem e fico irritada por não saber o que fazer. Minha mãe insiste na pergunta:
- Sim, ele é meu amigo. - afirmo só para a sossegar.
- Tens que traze-lo cá a casa! Eu quero conhece-lo. - eu fico com os olhos arregalados enquanto penso nessa possibilidade.
- Um dia quem sabe. - que nunca chegará, pego na mochila e abro a porta. - Até logo, mãe. - profiro enquanto fecho a porta e oiço a sua despedida bem lá no fundo.
Quando chega o bom tempo, eu adoro ir para a escola de bicicleta. Eu sou dorminhoca logo ajuda-me a despertar. Eu chego a escola, cumprimento o senhor Di, pouso a minha bicicleta e corro para o ringue. Quando lá chego vejo a Vera e a Ana sentadas e aproximo-me lentamente.
- Eu estou cansada, Ana. Eu tenho tantas saudades de ter paz na minha vida.
Eu sento-me ao lado delas, elas olham-me em silêncio. Eu não sei o porquê de o fazer mas estou cansada da distância nos intervalos, ou seja, de passar o meu tempo sozinha. Também não me posso esquecer da tristeza de Ana, não posso ser totalmente egocêntrica. Sinceramente, não sei se estou pronta para perdoa-la mas, estou disposta a fazer um esforço.
- Se soubessem o quanto eu estou feliz por vos ter aqui às duas! - Ana fala com uma alegria contagiante, consequentemente, eu dou um pequeno sorriso.
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BETWEEN I - entre corpo e voz [Português De Portugal]
RomansaTEM AUDIOBOOK E ESTÁ CONCLUIDO Ser abusada deixa traumas para a vida! Apaixonada pelo lutador de boxe mas não pode se relacionar sexualmente devido ao seu trauma. Elizabeth Carter ou Lisie é uma menina simples com uma vida normalíssima mas com um p...