Capítulo 91 - Sufocante

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(confesso que as lágrimas vidraram os meus olhos)

(Após algum tempo de viagem)


A sua respiração alterada, o seu corpo irrequieto e o seu olhar focado no telemóvel faz todo o meu corpo estagnar. Algo se passou e o facto de não sabermos o que é aumenta o meu desespero. Praticamente estou em pânico por dentro pensando nos piores cenários, como um acidente ou algo pior! Olho á minha volta e procuro com os olhos o meu casaco, eu vou pegar no meu telemóvel e perceber o que se está a passar.

- Desculpe, o meu casaco vermelho ficou aqui esta manhã. O senhor não o viu? – falo apressada apesar de tentar controlar o pânico que está dentro de mim.

- Sim vi, eu coloquei na bagageira do carro. – bufo.

Merda! Vou ter que esperar até chegar ao hotel.

- Obrigado. – coloco a mão na testa e tento respirar fundo, não adianta, pois o meu peito continua acelerado devido a este mistério que me consome por dentro.

O que será que se passou?!

- Sabes de mais alguma coisa? – olho para o banco na minha frente, onde está Monty.

- Infelizmente não, só sei que precisamos de chegar o mais rápido possível ao hotel. – não sabia que o meu coração podia bater ainda mais rápido, o desespero é devorador de cada batida.

*******

Saio do carro ao meu passo mais acelerado e dirijo-me á mala. O motorista abre-a e lá está o meu casaco de cor vermelha a destacar-se do fundo preto da mala. Velozmente, pego-o, retiro o meu telemóvel do seu bolso e digo o obrigado mais rápido do mundo. Olho em frente e Monty espera-me impacientemente á porta do hotel. Coloco o casaco para aparar o frio e, de seguida, desbloqueio o telemóvel. Eu fico chocada com a quantidade de chamadas perdidas, catorze chamadas perdidas da Denie e uma de Thomas. Oh meu Deus, e se foi a minha mãe? Coloco a chamada a recorrer para a Denie e, em segundos, oiço a sua voz preocupada do outro lado.

- Onde andaste? Andei o dia todo a ligar-te! – resmunga gritando do outro lado.

Caminho devagar até Monty.

- O que se passou? Foi a minha mãe? Ela está bem? – questiono cheia de medo da resposta.

- Não, ela está bem. – suspiro de alivio. – Mas é algo bem pior, amiga. – o meu coração dispara, novamente.

- O que se passou, Denie? – quase que grito.

As palavras vão saindo da sua boca enquanto o meu peito vai espremendo o meu coração que bate apressadamente. Sinto que uma bomba explodiu na minha vida fazendo-a despedaçar em mil bocados.

*******

Desligo a chamada e de repente dezenas de carrinhas param em frente do hotel. De dentro delas saem várias câmaras e vários repórteres. Oh meu Deus! As luzes dos flashes começam a ofuscar-me e o cerco a apertar. Na minha frente dezenas de microfones e várias vozes que criam uma confusão na minha cabeça. Eu tento cobrir o meu rosto com as mãos e vou recuando mas os jornalistas não me deixam mover.

- Peço desculpa mas ela não fará alguma declaração. Peço que se afastem, por favor. – oiço a voz num quase grito de Monty.

Ele puxa-me pela mão e finalmente consigo respirar fundo quando entro no hotel. Quando passo pela sua porta enorme dou de caras com Baltazar, de mão na cabeça enquanto fala com a rececionista. A vergonha domina o meu peito fazendo-me corar um pouco, como é que isto chegou tão longe? Quando ele nota a minha presença vejo nos seus olhos a deceção mas, acima dela, a preocupação. Ele caminha brutamente até nós o que faz o meu peito estremecer a cada metro que é encurtado entre nós.

BETWEEN I - entre corpo e voz [Português De Portugal]Onde histórias criam vida. Descubra agora