BETWEEN I - entre corpo e voz [Português De Portugal]

Capítulo 73 - O gelo que derreteu

Eu desvio o olhar e volto a observar o meu prato com a comida maravilhosa, tento abstrair-me. Respiro fundo. Suspiro.

- Todos estamos muito felizes. – diz Monty com um tom de voz estranhos e no fim tosse de uma forma esquisita.

Mantenho-me a olhar para o prato, assim sofro menos e posso recompor a minha capa que nunca devia de ter deixado ir.

- Vamos comer. – oiço a voz de Diego, que mesmo não estando a olhar para ele, sinto um aperto no peito pois ainda não a tinha ouvido.

Apesar de sentir a Icegirl no sítio certo, eu sei que irei perde-la, bastava ele olhar para o seu belo cabelo loiro ou para os seus olhos verdes gémeos dos seus que eu ficaria desarmada.

Durante todo a jantar a loira provoca-me brincando com Diego, sorrindo para ele e acariciando o seu braço. Tudo era uma desculpa para tocar nele e olhar para mim de lado, aquele sorriso de lado provoca o sentimento de raiva em mim. No entanto, Monty ia falando baixinho para eu ter calma e respirar fundo. Cada palavra deste meu novo amigo fazia com que eu conseguisse aguentar todos estes sentimentos dentro de mim e permanecer ali sentada. Eu aceito esta dor, já que eu mereço sofrer depois do que lhe fiz deste modo, guardo o meu sofrimento e mantenho-me o mais plena possível. Diego mostrava uma boa relação com o rapaz loiro, que ainda não sei o nome, ele praticamente obrigou o meu charm... o Diego a beber e a beber. Baltazar dizia que era dia de festejar e não contrariava quando o loiro enchia-lhe o copo vezes sem conta. Com o passar do tempo conseguia ver o aumento das gargalhadas de Diego e o seu comportamento feliz e relaxado. Eu refugiava-me no meu prato, que já observei e decorei cada pormenor seu, assim como dos talheres que carrego nos meus dedos.

- Esta sobremesa é ótima. – diz aquele voz melodiosa e horrível (quero pensar assim), sem eu conseguir segura-los levo os meus olhos a ela.

É incrível que á medida que vou observando o seu rosto, eu acho-a ainda mais bonita e o seu nariz pequeno dá-lhe um ar fofo. Uma fração grande minha quer procurar a imperfeição nela, aquela que é inencontrável. Eu sei que dói ver os seus atos de carinho mas, prefiro ver como os meus próprios olhos do que usar a minha imaginação, sei que veria coisas muito piores.

Durante todo o jantar, Diego nunca a afastou ou bloqueou os seus atos de carinho. Ele gosta dela, o que significa que ele também gostava de mais alguém enquanto estava comigo. Eu sei que estou a ser castigada por Deus ou pelo Karma e, sinceramente, eu mereço e aceito. Eu não acredito que ele foi capaz de me fazer isto, de me fazer sofrer desta forma humilhando-me. Para que é que vim para Tóquio se ela estava aqui? Espera... Quer dizer que eles estiveram juntos aqui em Tóquio durante este tempo todo?! As lágrimas começam a forçar em aparecer devido á imagem que corre no meu pensamento, seguro-as com todas as minhas forças. Eu nunca devia de ter deixado a minha capa cair para ele, assim continuava afastada e não sofria. A minha capa impossibilitava-me de me dececionar e sofrer. Eu fui burra em pensar que podia ser feliz. No entanto, repito mais uma vez a mim mesma, eu aceito este castigo, eu mereço-o e ele merece alguém como ela, alguém bem arranjada e na moda para acompanhar um campeão. Não uma rapariga de camisola simples, jeans e umas botas castanhas com a sola um pouco desgastada. Eu não sou boa o suficiente para acompanhar um campeão. A suite era para eles e não para nós! Suspiro e a imagem deles os dois naquela cama faz com que uma pequena lágrima fuja do meu controlo. Rapidamente, limpo-a para não mostrar as minhas fraquezas, ninguém repara. Eu coloco o olhar mais frio que tenho e seguro esta tempestade de sentimentos dentro de mim, suspiro como se o ar que saiu dentro de mim arrastasse alguns destes sentimentos.

- A tua é diferente da minha. Pega, prova a minha, é deliciosa. - ela direciona o seu garfo com um pouco de sobremesa para a boca de Diego e neste momento tudo me cai ao chão.