Um homem, de cabelos negros e brancos á mistura e com os olhos castanhos-escuros iguais a Monty aproxima-se de mim enquanto observa-me com um sorriso no rosto. O seu cabelo está arranjado de uma forma elegante, tal como era quando jovem. Quando chega á minha beira, vira o seu corpo de frente para o quadro para que os seus olhos possam observar a sua arte.
- É, é um pouco estranho, diferente. Vai além da realidade. – digo olhando para o quadro e tentando interpreta-lo.
- Boas palavras, além da realidade. Para real já chega a maldade do mundo em que vivemos. – viajo nas palavras que se assemelham ás de Thomas.
A saudade aperta no meu peito, quero pegar num telemóvel e ouvir a sua voz. Uma força magnética do seu lado do meu coração quer puxar-me até ele. As palavras do pai de Monty ecoam na minha cabeça afastando um pouco a saudade.
- Mas é onde vivemos e nele existe algo mais para além da sua maldade. Algo mágico mesmo sem estrelas e portais. – olho-o nos olhos e observo a surpresa que as minhas palavras geraram. – Como o sentimento e as sensações que os seres humanos podem transmitir uns aos outros.
- Acabaste de me dar uma ideia para um novo quadro. – sorri e eu devolvo-lhe o sorriso. – Aquela força que nos faz querer completar o espaço vazio dentro de nós. Imagino num quadro dois corpos juntos quase num contacto labial e entre eles várias raios azuis e vermelhos.
- Porquê azuis e vermelhos? – pergunto enquanto o meu cérebro procura a resposta.
- Os raios de uma tempestade podem ter diferentes cores e cada uma delas para um meteorologista transmite-lhe informações importantes sobre a atmosfera. – olho-o nos olhos mas a minha mente começa a projetar imagem do futuro quadro. – Para mim, a troca de sentimentos e sensações é como se fosse uma atmosfera carregada de raios que levam as emoções e os sentimentos de um corpo para o outro. Se um raio for vermelho significa a presença de precipitação na atmosfera. Diz-me, menina realista, porque escolhi a cor vermelha? – olha-me com curiosidade, penso durante poucos segundos.
- A precipitação faz-me uma ligação com lágrimas e com a limpeza da alma. – o seu olhar abre-se admirado com as minhas palavras. - Por vezes a precipitação é um milagre mas também pode ser destrutiva quando é em demasia. Assim temos dois polos. Num mundo irreal, pensando "além da realidade", um beijo normalmente é o começo de uma história de amor. Ela pode trazer o seu lado destrutivo que causará muitas lágrimas de tristeza mas, poderá regar as flores que estavam murcham dentro de nós. – paro de falar devido á lembrança da primeira viagem á nossa ilha, que agora está a murchar. Entristeço. – Mas também pode limpar a alma da solidão que a habitava. – digo com a cabeça no outro lado do mundo, no meu Thomas Mitchell.
Tu foste um bom raio vermelho mesmo sem nunca tocarmos um no outro. Os nossos raios são especial, viajam quilómetros nunca perdendo da sua intensidade.
- É bom ir além. – a voz do artista retira-me dos meus pensamentos.
Há quanto tempo estou a olhar para o quadro? Na verdade estou a olhar para o vazio enquanto a minha mente navega bem longe do mundo real.
- Mas voltamos sempre á realidade. – digo sorrindo. – O que significam os raios azuis? – pergunto curiosa enquanto tento colocar a mente no lugar.
- A presença de partículas de gelo. – a Icegirl surge no meu pensamento. – Eu sei que já foste para além da realidade e pensaste no segundo significado. – eu sorrio dando-me por derrotada, eu gosto de ir além da realidade.
- Venham almoçar. – olho para trás e vejo a pequena mesa da cozinha recheada de comida que desconheço.
- Agora prefiro a realidade. – diz o senhor e uma pequena gargalhada foge-me pela boca.
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BETWEEN I - entre corpo e voz [Português De Portugal]
RomanceTEM AUDIOBOOK E ESTÁ CONCLUIDO Ser abusada deixa traumas para a vida! Apaixonada pelo lutador de boxe mas não pode se relacionar sexualmente devido ao seu trauma. Elizabeth Carter ou Lisie é uma menina simples com uma vida normalíssima mas com um p...