As ações que se seguiriam eram incertas. O medo aflorava na alma, as emoções estavam a pico de explodir, as mãos molhadas a deixavam mais nervosa. Tudo deveria correr bem, não é mesmo? Estudou tanto, precisava confiar que daria certo.
– Meu Deus! Meu Deus! – Selena exclamava, esfregando uma mão na outra.
– Acalme-se, moça, logo será chamada – a secretária avisou a olhando de escanteio, enquanto digitava algo no computador.
As pernas de Selena balançavam freneticamente – seu tique nervoso desde a infância –, as pontas dos pés batiam no chão.
– Está me perturbando! – reclamou novamente a secretária, com o cenho franzido e os olhos semicerrados a encarando de lado.
– Perdão – Selena abriu a boca para tomar um gole de ar fresco e passou as mãos nos longos cabelos ondulados –, mas não estou conseguindo deter o nervosismo. – Sentou no banco de espera e esfregou as mãos nas coxas cobertas pela calça jeans.
– Nunca passou por isso? – A secretária vendo a aflição estampando no rosto dela, se apiedou.
– Não – Selena negou com a cabeça –, é a primeira vez.
A mulher averiguou o horário no relógio branco e redondo na parede e disse: – Ele vai chamá-la em 3,2,1 e...
– Selena Cadori pode entrar.
Uma voz grave ressoou chamando-a. Selena encarou a secretária que lhe ofereceu um sorriso amistoso. Ela fez uma pequena oração interna, pegou sua bolsa e caminhou até a devida sala. Ao entrar, observou uma mesa imponente centralizada no cômodo, alguns livros no armário ao lado direito e uma parede de vidro, que dava acesso a uma ampla visão da paisagem urbana, atrás do homem. Ela se acomodou na cadeira a frente da mesa, colocou o envelope com seu currículo e documento diante do recrutador, que logo retirou os papéis e começou a ler. Ela engolia em seco, sentindo a saliva ficar escassa na boca enquanto seu formulário era minuciosamente avaliado. Não tinha nenhuma experiência na área a qual se formara, mas contava com a graça de Deus para passar naquela seleção.
– Suas referencias são boas – o homem declarou, ainda checando as informações preenchidas para a vaga de assistente administrativo.
– Que bom. – Cruzou os dedos debaixo da mesa.
Selena não havia se detido ao homem diante dela, porém quando ele levantou a cabeça, notou sua aparência: os cabelos cor de mel, os olhos verdes, postura ereta, e vestido naquele terno totalmente alinhado, harmonizavam-no de forma a fazê-lo uma bela imagem a ser contemplada. Ele se levantou, sorriu e estendeu a mão para cumprimentá-la, ela tremeu um pouco, esperava que essa ação tivesse passado despercebido, mas, infelizmente, ele notou.
– Seja-bem vinda, Selena.
– Obrigada, senhor...? – Ela levantou a sobrancelha em interrogação.
– Gustavo Devin à sua disposição. – Apresentou-se com um sorriso charmoso nos lábios.
– Prazer! – Apertou a mão de Gustavo.
– A Ezenete dará todas as informações necessárias para sua nova função –
assegurou. – Mais uma vez, seja bem-vinda – concluiu, soltando a mão dela e sentando-se novamente.– Tudo bem. – Ela assentiu com timidez e soltou a respiração em sinal de alívio.
Selena saiu da sala ainda pasma por ter realmente conseguido o seu primeiro emprego e logo numa empresa tão boa como aquela. A alegria aflorou em seu coração e um sentimento de gratidão a Deus por ter ouvido durante dois anos consecutivos as suas insistentes orações sobre um emprego, e agora recebia aquela benção da melhor forma. Seguiu até a secretária que deveria lhe passar as devidas informações. Ezenete já sabia das ordens dadas por seu chefe. Quando avistou a jovem caminhando em sua direção, falou:
– Parabéns por ter ganhado a vaga.
– Muito obrigada. – Selena soltou o ar e sorriu. Ainda nem conseguia acreditar naquela maravilha.
– Vamos, mostrarei o seu departamento. – A secretária se levantou, deu meia-volta na mesa em que trabalhava e seguiu com a recém-contratada até o elevador.
Enquanto esperavam, Ezenete perguntou:
– Você é formada em quê?
– Gestão Pública.
– Quase anos tem? – Ao ver uma menina tão magra, cuja aparência parecia ser de alguém de 15 anos de idade, a curiosidade aflorou na secretária.
– 21 anos. – Selena riu, percebendo o espanto da mulher.
– Com que idade fez essa faculdade?
– Comecei aos 18 anos. Ela só tem duração de 3 anos – explicou, pacientemente.
– Compreendo – disse, logo detendo a atenção ao celular na mão que não para de apitar. Enfim, o elevador chegou.
As duas seguiram até uma sala no 12º andar. No ambiente havia duas pessoas, uma tão jovem quanto Selena, e o outro era um senhor mais velho de cabelos grisalhos. O local era composto por três mesas, cada uma com computadores – duas já ocupadas – armários e parecia haver uma boa corrente de ar circulando por ali também.
– Dário, esta jovem fará parte de sua equipe. – A mulher apresentou Selena ao homem de óculos e de aparência asiática.
– Humm – ele resmungou, olhando-a rapidamente e logo voltando a atenção ao computador.
– Não ligue. Ele é assim mesmo – declarou Ezenete. – Bom, está entregue! – E então se foi.
– Eu sou a Pilar, muito prazer. – A menina de cabelos longos e castanhos claros, estendeu a mão para ela e a cumprimentou com um largo sorriso. Selena gostou de saber que provavelmente teria uma boa colega de trabalho. – É muito bom ter uma nova pessoa aqui.
Selena deu um riso tímido.
– Vocês terão muito trabalho pela frente. – O timbre anasalado de Dário interrompeu a interação das duas. – Pilar, explique a ela suas funções.
Pilar levou-a até sua mesa no canto esquerdo, ligou o computador e mostrou algumas das atividades que mais tarde seriam desenvolvidas por Selena, e esta fazia de tudo para prestar atenção em todos os detalhes que lhe eram ensinados.
– Quem fez sua entrevista? Já estávamos perdendo a esperança de termos uma nova pessoa – perguntou Pilar, enquanto remexia em algumas tabelas no excel no computador.
– O Sr. Gustavo Devin.
– Ah, sim! Ele está responsável por essa área de contratação mesmo. O último recrutador fez algumas coisas fora dos padrões da empresa. Até contratarem alguém de total confiança, o Gustavo ficará responsabilizado.
Selena apenas assentiu.
– Gostou dele? – Pilar deu um sorrisinho sagaz.
– Como? – Selena franziu o cenho.
– Achou ele bonito? – A menina explicou sem cerimonias.
– Ah! – Selena arregalou os olhos. – Ah, acho que sim. – Ela não tinha uma resposta.
– Pena que ele parece não se interessar por ninguém – Pilar soltou o ar.
– Faz bem. Devemos escolher com cuidado a pessoa com o qual queremos nos relacionar.
– É... – A colega de trabalhou consentiu, mas desconversou e atentou-se para o computador mais uma vez.
Ao receber todas as informações necessárias regressou para sua casa, ela só iniciaria no outro dia. Ao sair daquela empresa olhou para trás e viu a portaria principal mais uma vez. A Selena sorriu para aquele lugar onde o Senhor tinha preparado para ela, enfim, poder trabalhar. Uma nova etapa de sua vida estava começando.
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FIEL
SpiritualSelena Cadori, após anos de estudos, consegue seu primeiro emprego. Ela recebe um aviso solene de como se portar naquele local, mas as lutas em seu coração logo começam: Incredulidade; Paixão e Dilemas. Sentimentos que outrora lhe eram desconhecido...