O céu estava acinzentado naquela manhã de sábado, a água estava parada com apenas alguns reflexos das árvores sobre ela. Danilo passava por aquele ambiente natural dentro do condomínio onde morava e se aproximou de uma senhora sentada sozinha num dos bancos perto da piscina.
– Sra. Gracinda, o que faz aqui fora a esta hora? – Checou a hora em seu relógio de pulso ao perceber o quão cedo era.
A mulher estava com os olhos fixos no horizonte, sem vitalidade ou a alegria costumeira.
– Sra. Gracinda? – Ele chegou mais perto e a tocou nos ombros. – Está tudo bem? – Em sua voz podia se identificar um tom de preocupação, pois nunca a vira daquela maneira.
– Cristo é muito melhor! – ela declarou e o rapaz não entendeu muito bem ao que a senhora se referia. – Você poderia me levar em um lugar? – perguntou, mas logo balançou a cabeça em negação. – Deixe pra lá! Não precisa gastar de seu tempo para lidar com uma velha como eu.
Aquelas palavras doeram em Danilo, por vê-la tão cabisbaixa.
– Não é incômodo nenhum – ele adiantou sua resposta, antes que a mesma pudesse alegar outra coisa. – Onde gostaria de ir?
– Quero estar perto dele mais uma vez. – Os ombros murcharam quando ela expeliu o ar saudoso.
Sem compreender muito bem, Danilo a conduziu até seu carro e se dispôs a levá-la até o local que a senhora o direcionava. Ao chegar ao respectivo lugar, ele percebeu ser um cemitério. Havia poucas pessoas ali. Ofereceu o braço para a velha senhora de cabelos brancos e vestido florido e juntos caminharam a passos lentos em direção a uma das lápides. Danilo observava como a Sra. Gracinda parecia tão diferente dos dias habituais, nos quais ela sempre estava se aprontando para trabalhar junto com as demais irmãs da igreja, levando sua cesta de costura que tinha como proposto ensinar as jovens. Ele duas vezes na semana dava uma carona a deixando na porta do templo e seguia para a empresa, mas seu sorriso e alegria não estavam ali. Sentiu um pesar profundo por isso.
"José Albragantes de Azevedo – De 14/03/1950 a 12/10/2009"
Com Cristo, que é muito melhor! (Filipenses 1: 23)
Danilo leu aqueles escritos e não possuía uma palavra de consolo para dar. Um nó lhe encheu a garganta ao ver como algumas lágrimas desciam do rosto da senhora tão amável.
– Nos conhecemos quando ainda éramos jovens. Ele era um ferreiro e eu ajudava minha mãe nas limpezas das casas. José nunca foi muito romântico, mas sua postura de ser um homem de verdade que prometia sempre cuidar de mim e suprir minhas necessidades, fizeram meus pais abençoar a nossa união. Contudo, nunca vou esquecer quando ele subiu uma alta montanha só para buscar a flor que eu mais gostava. – Ela sorriu e suas rugas apareceram, mostrando como os anos de vida passaram.
Danilo escutava tudo em absoluto silêncio. Ele entendeu que a senhora só gostaria de poder compartilhar um pouco de sua história de vida.
– Nós nos amamos. – A entonação demonstrava como aquele amor ainda existia até quando o outro partira. – Lembro-me quando José segurava em minhas mãos no fim de algumas tardes e partíamos rumo a passeios gloriosos até as montanhas. A cada curva se revelava uma paisagem mais graciosa e o clímax se instaurava quando podíamos ver o mar além das árvores que cercavam nossa vila, e as casas sobre os rochedos pareciam ninhos de andorinhas. – Ela olhou para o céu e suspirou calmamente, sentindo o vento balançar seus cabelos e roçar em sua pele lhe trazendo conforto. – E ele sempre me perguntava se existia algo mais pleno do que aquelas demonstrações de beleza da criação de Deus, eu respondia que não, e por mais que não houvesse um mínimo de encanto no cenário, só de tê-lo ao meu lado eu já podia desfrutar de exultante felicidade.
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FIEL
SpiritualSelena Cadori, após anos de estudos, consegue seu primeiro emprego. Ela recebe um aviso solene de como se portar naquele local, mas as lutas em seu coração logo começam: Incredulidade; Paixão e Dilemas. Sentimentos que outrora lhe eram desconhecido...