⏩ Um Só Coração

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“Os dois viram a mão do Senhor uni-los, mesmo quando Ele os manteve separados durante as ‘noites longas’. Com o tempo eles veriam muito mais sinais da bondade do seu Pastor. Eles sabiam que o mesmo Criador que faz crisântemos florescerem no escuro os guiaria, como Ele faz com todos Seus filhos, pelos dias sem Sol.” (Valerie Elliot Shepard sobre o romance a distância de seus pais, Jim e Elizabeth).

Danilo estava parado a poucos metros de distância, seus olhos azuis demonstravam paz e serenidade, mas também profunda saudade. Selena achava que era uma alucinação ou alguma visão do além, não podia ser verdade! Ela se apoiou no banco na tentativa de ainda sustentar o corpo em pé, mas não conseguiu. Sentou-se e permaneceu olhando fixamente para nada específico, sua cabeça estava rodando e sua respiração oscilante lhe trazia um profundo cansaço. Bethany quis ajudar, mas o rapaz ao se aproximar pediu para conversar em particular com a jovem.

Ele segurou aquela mão gélida e sem forças. Ao sentir aquela aproximação, uma onda de lágrimas rompeu em Selena, que caiu num copioso pranto acompanhado de soluços constantes. Danilo também foi tomado pela emoção e suas lágrimas desceram. Ambos por extensos minutos apenas se permitiram viver todas as emoções que aquele reencontro trazia, e eram sentimentos fortes, pulsantes, maiores do que qualquer dos dois pudesse algum dia imaginar.

Assim que aliviou sua exsudação, Selena mirou as telhas de barro do templo e soltou uma lufada de ar. Respirou e inspirou muitas vezes até voltar ao seu estado natural, ou ao menos perto do que deveria.

– O que faz aqui? – ela perguntou com a voz ainda embargada.

– Eu vim por você – respondeu, acariciando a mão dela com o seu polegar.

Selena abaixou a cabeça e não conteve mais uma vez o pranto. Seu coração estava sensível, suas emoções abaladas de sobremodo. Enfim, não conseguia lidar com aquilo. Um silêncio profundo repousou entre eles. Havia tanto para ser dito, mas o vocabulário parecia ter se esvaziado, não restando nada para formar uma frase sequer que explicasse aquele momento.

Mas não precisava de palavras quando as ações tomavam vez, Selena se lançou aos braços dele e chorou compulsivamente. Ela segurava-o com força para ter certeza que não o perderia outra vez. Danilo correspondeu àquele gesto utilizando a mesma intensidade, querendo dizer tudo que sentia e, certamente, não podia mais negar ou adiar. Quantas noites passou acordado, sonhando com o dia em que a veria novamente, e declararia com todas as suas forças o amor que por tanto tempo guardou no coração.

– Você voltou! Voltou pra mim! – ela exprimia, soluçando no ombro dele. – Eu achava que nunca mais o veria; que não ouviria sua voz ou o som de seu sorriso. Meu Deus! Meu Deus! – exclamou do fundo de seu ser o agradecimento que não conseguia expressar em palavras.

– Selena, eu preciso te dizer... – Danilo se afastou um pouco e a jovem entendeu que as explicações se iniciariam. Ele a conduziu a se sentar e fez o mesmo. – Primeiramente, peço perdão pela dor que lhe causei por tantos meses, mas se serve de consolo, eu sofri a cada instante longe de você.

Ela repuxou os lábios num pequeno sorriso.

– Mas você precisava disso e eu também. Nós dois não conseguiríamos entender os nossos próprios sentimentos se estivéssemos perto um do outro. O coração é enganoso demais, e quando existem outras emoções falando a confusão se torna pior – expôs suas razões. – Então, muitas vezes precisamos nos retirar para ficar a sós com o Senhor até que a sua vontade esteja clara.

– Eu não entendia – a jovem balançou a cabeça. – Mas depois de sua carta, eu compreendi suas intenções e motivações. Eu precisava me recuperar de todo sofrimento causado pelo meu envolvimento com Gustavo; necessitava reaver minha comunhão com Deus; aprender assuntos práticos. Nossa! Foram tantas revoluções em minha mente e coração que eu nem sei como contar.

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