⏩ Proteção

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Regressou para casa a noite e a sua alma encontrava-se em muitas perturbações. Todas aquelas indagações do Sr. Berilo rodava em sua mente lhe trazendo um peso esmagador. Perguntava-se por que estava passando por aquilo. Ela sentou-se na beirada da sua cama e afundou a cabeça entre as mãos se sentindo cansada, triste e longe de Deus.

Ao olhar para a sua parede branca, lembrou-se do presente de Gustavo aquilo lhe trouxe uma pequena alegria no meio de todo mar de confusão em sua mente. Aquele momento com o dono dos olhos verdes e brilhantes havia sido muito especial para Selena. Ela simplesmente se encantava cada dia mais por ele. Devin a fazia se sentir especial e querida, um sentimento não muito comum em sua vida.

Virou-se para o lado e enxergou o livro de capa dura e preta em cima do seu criado mudo. Lembrou-se do devocional e as dúvidas voltaram em seu coração. Parecia difícil de acreditar que a fé dela havia sido abalada de forma tão forte. Mas, na verdade, as ervas daninhas chegaram aos poucos com as conversas do Sr. Berilo e criaram suas raízes. Por muito tempo discutia com ele tais questões sobre a bíblia, porém ela percebeu que não agia de forma sensata. A exortação do apóstolo Paulo lhe veio à memória: “As más conversações corrompem os bons costumes”. Ela não era uma “super crente” deveria compreender o quanto o seu coração era corrupto. Resolveu se ajoelhar para orar, mesmo com pouca fé.

Senhor Deus, nem sei se tu estás aí mesmo... Mas, eu te peço forças para continuar e crer novamente. A minha mente está cheia de dilemas acerca de ti. Por favor, se tu existes, renovas a minha fé. Amém.

A oração foi um pouco duvidosa, mas assim o fez. Não poderia simplesmente negar a Deus. Ele era a base sobre a qual ergueu sua vida. Se o mesmo não existisse, todos os seus fundamentos despencaria e seria difícil reerguer novamente. Que o Senhor a ajudasse a encontrar sua fé.

***

Na manhã seguinte, acordou e se aprontou. Ao chegar na cozinha, só havia a mãe coando um café novinho, cujo aroma se espalhava pela sala. Selena percebeu não haver ninguém mais além delas duas. De certa forma algo bom, pois poderia conversar com sua mãe sobre sua situação.

– Mãe, eu preciso conversar com a senhora. – A menina sentou na cadeira e dobrou as pernas, demostrando assim um pouco de sua aflição interna.

– O que foi, minha filha? – perguntou a Sra. Cadori, pondo a garrafa de café na mesa.

Selena abaixou a cabeça e umedeceu os lábios, era difícil falar sobre seus dilemas, mas mesmo assim, pronunciou: – A senhora sempre teve certeza sobre a existência de Deus? – Ela estava receosa sobre o que a mãe acharia daquela conversa.

A Sra. Laura se sentou na cadeira a frente da filha e disse: – Sim, só de contemplar a natureza eu tive plena certeza de um criador soberano.

– Hum...

– Por que a pergunta? – A Sra. Cadori semicerrou os olhos para a filha e viu o semblante abatido.

– Minha fé esses dias está sendo assaltada – confessou, sinceramente. – Não sei explicar exatamente, mas é como se Deus não passasse de uma invenção pra mim. Eu olho para o céu e pergunto: Existe mesmo alguém ali? Vejo a natureza e indago: Teve mesmo um criador? Somos realmente criados por alguém? – Selena deixou uma lágrima cair, respirou fundo e soltou o ar, querendo naquele gesto se livrar do peso que carregava no peito. – Não queria ter que passar por isso, mas está acontecendo. – Virou a cabeça para o lado, sentindo sua aguda tristeza.

A mãe a observou e pensou nas perguntas da filha, ela orava internamente para que o Senhor Deus lhe desse sabedoria para ajudar sua pequena

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A mãe a observou e pensou nas perguntas da filha, ela orava internamente para que o Senhor Deus lhe desse sabedoria para ajudar sua pequena.

– A fé precisa ser testada de vez em quando – declarou a Sra. Cadori com um sorriso carinhoso. – Serve para nós compreendermos que servimos a Deus não somente com a emoção e sim com a razão. Porque quando o Senhor lhe der a resposta para esses questionamentos, você poderá testemunhar com provas concretas que Ele é real e quem sabe consolar outras pessoas.

– E se ele não responder? – Selena retrucou, olhando para suas mãos entrelaçadas em cima de suas pernas.

– A bíblia fala que as suas ovelhas não podem ser arrancadas de suas mãos. Diz também que ainda que o justo caia sete vezes, em todas elas Deus o colocará de pé. Se o Senhor a salvou, ele cuidará de você. – A mãe levantou com dedo indicador o queixo da filha, a fazendo olhá-la face a face. – Quando o mesmo percebe que seus filhos estão saindo do caminho, Ele vem como o bom pastor e os traz de volta ao aprisco – acariciou o rosto da jovem -, porque nenhuma ovelha dEle se perderá.

Algumas lágrimas escorreram na face de Selena ao ouvir aquelas promessas bíblicas. Ela com uma semente de esperança em seu peito abraçou a mãe.

– Irei orar por você, minha pequena. – Laura retribuiu o abraço e beijou o topo da cabeça de Selena.

– Obrigada. – A menina se afastou enxugando as lágrimas de seu rosto avermelhado. 

***

Mais tarde naquele dia, Selena se encontrava na faculdade – local onde cursava sua especialização. Uma chuva forte caia e trazia consigo trovões fortes e grandes relâmpagos. A universidade era envolta por muita natureza, sendo alguns dos corredores que davam no hall da faculdade repletos de árvores em toda a sua extensão, e a tempestade fazia que os galhos se agitassem e estivessem prestes a quebrar dependendo da força do raio.

Selena passava por aquele caminho, pois acabava de voltar de uma revistaria. No momento, em que andava pelo corredor ao ar livre um grande relâmpago rasgou no céu, trazendo espanto a todos os estudantes. Os alunos sentados no hall, quando a viram passar ali gritaram, pois, assim que Selena passou, não demorou dois segundos e um galho grosso e enorme caiu ao chão se despedaçando para todos os lados. Teria acertado em cheio a sua cabeça, não a deixando viva. Ao ouvir o som do galho quebrando aos seus pés, ela correu em direção ao hall onde alguns dos alunos até a abraçaram e perguntaram como ela estava.

– Meu Deus! Você está bem? – perguntou uma menina de cabelo rosa.

– Estou sim, obrigada – Selena respondeu, olhando para sua roupa molhada e percebendo suas mãos tremulas.

– Olha, agradece a Deus pelo livramento – disse um menino de camisa branca e óculos. – Quer dizer, não sei se fosse acredita em Deus, mas... Foi muita sorte.

Ela o observou por um momento e falou: – Eu acredito sim.

Ao redor de Selena se reuniram mais alguns alunos e a encheram de pergunta sobre como ela estava, e com educação, ela procurava responder a todos. Depois de um tempo, agradeceu aos estudantes pela sincera preocupação e partiu ainda confusa e assustada por tudo que havia acontecido. No ônibus, sentada do lado da janela pensou seriamente sobre a aquilo. Após um tempo, ligou para sua mãe falando sobre o ocorrido.  A mulher assustada pediu para a filha retornar imediatamente para casa.

Selena assim que pôs os pés dentro de casa, percebeu como a notícia de seu incidente já havia percorrido a todos os membros da residência. O pai preocupado quando a viu a abraçou e orou a Deus agradecendo.

– Deus foi generoso com você, filha. – O Sr. Renato a abraçava cada vez mais apertado. 

– Eu sei – disse ela, olhando para o nada e ainda sentindo sua incredulidade.

A mãe entrando na sala, tomou a filha nos braços e a envolvia em seu amor maternal, deixando até mesmo uma lágrima descer.

– Selena, não me assuste assim – disse a Sra. Laura. – Se eu perder um filho, eu vou junto.

– Terei mais cuidado – declarou a jovem, ainda presa nos braços da mãe.

A Sra. Cadori se afastou e limpando as lágrimas de seu rosto, disse:

– A janta está pronta. Vamos comer.

– Tudo bem, só vou me trocar. – Selena caminhou para o quarto em silencio.

Ao entrar, fechou com calma a porta atrás de si, lançou a bolsa na cama e foi à janela, mirando o céu estrelado, declarou com a voz embargada:

Obrigado, Deus. – Umedeceu os lábios e sentiu as lágrimas salgadas descerem. – As minhas dúvidas ainda estão aqui, mas eu quero crer que vou passar por todas elas. Ajude-me, por favor! – Selena abaixou a cabeça e engoliu em seco. Ela tinha o desejo sincero de lutar por sua fé, não iria deixá-la morrer totalmente.

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