O corpo de Selena se esticou na cama quente e envolto em lençóis macios, questionou sobre o fato de ter de se levantar cedo. Ela, com dificuldade, abriu os olhos e avistou o horário brilhando no relógio em luz vermelha em cima de seu pequeno criado-mudo. Após se dar mais cinco minutos de descanso, levantou-se e foi ao banheiro para se arrumar. A preguiça – naquela ocasião – não era maior que a empolgação para seu primeiro dia de trabalho. Andou em silêncio pelo corredor para não perturbar o sono dos demais habitantes daquele lar e seguiu para o lado de fora de sua casa para esperar sua rota. Ela iria tomar café da manhã na empresa.
O ônibus branco com uma onda azul na sua lateral e de número (93) em vermelho na pequena placa na frente do automóvel passou no horário marcado 6h00m, e durante o trajeto ela aproveitou para dormir mais um pouco nas poltronas acolchoadas do transporte. O percurso durou cerca de 1hrs, tempo suficiente para um cochilo produtivo. Ao descer do ônibus, avistou mais umas mil pessoas descendo das mais variadas rotas que chegavam ali. Passou seu crachá na catraca e seguiu junto com os demais funcionários em direção ao refeitório. Tomou sua bandeja nas mãos e esperou na fila, que estava imensa. Suas pálpebras querendo fechar denunciava sua sonolência, bocejou até ouvir uma voz:
– Olha que a mosca entra.
Selena virou-se para ver quem era, quando avistou disse:
– Oi, Pilar – Ela quis sorri, mas um bocejo saiu no lugar do cumprimento.
A colega de trabalho riu da preguiça tão evidente de Selena, e pegou a bandeja laranjada, ficando também na espera daquela fila andar.
– Dormiu bem? – Pilar indagou vendo as olheiras de Selena.
– Sim, só que não sou acostumada a acordar tão cedo. – Mais um bocejo e Selena balançou a cabeça, procurando espantar de si mesmo aquele sono.
– Depois acostuma – riu, dando de ombro – ou não.
Selena riu e caminhou mais uns centímetros à frente, estando mais perto do balcão com comida. Aquele lugar cujo seu estomago vazio desejava assim como a corça anseia pelas águas.
– Queria poder comer ali. – Pilar apontou para uma sala reservada ao lado esquerdo do refeitório. – Pelo menos não tem fila. – Selena olhou em direção ao local e considerou que também gostaria de poder comer tranquilamente e sem precisar esperar tanto para ter sua fome saciada.
Enquanto as duas estavam com seus olhares direcionados para a sala, enxergaram os senhores de alto porte entrarem no ambiente particular e um deles era o belíssimo Gustavo Devin, que caminhava de cabeça baixa atento ao celular, mas seu terno de lavagem escura e seus sapatos ingleses não o deixavam passar despercebidos.
– Meu Pai! É até um pecado ter tanta beleza assim – ironizou Pilar, se acudindo com a bandeja, sem nem piscar enquanto apreciava aquela obra de arte em forma humana.
– Concordo! – Selena riu. – Eles se vestem tão bem que parecem soberanos sobre todos. – O olhar dela se desviou do local quando Gustavo entrou na sala, perdido em suas notificações.
– Não digo todos, mas sobre nós eles são. – Pilar deu piscadela em direção à colega.
– Realmente.
Enfim, depois de 15 minutos, as duas se serviram e encontraram duas vagas numa das mesas do imenso refeitório, todo cheio pela maioria esmagadora de homens com fardas brancas. Elas se sentaram e comiam entre uma conversa e outra sobre vários assuntos aleatórios como: infância, professores da universidade e uma infinidade de histórias a mais. As risadas das duas faziam que, vez ou outra, algumas pessoas as olhassem de escanteio. Não era normal de manhã ver jovens tão bem humoradas. Ambas, ainda no mesmo ritmo de conversa, seguiram em direção ao departamento administrativo, após o termino do café da manhã. Enquanto esperavam o elevador, um cheiro agradável invadiu o ambiente. Selena olhou para trás e avistou Gustavo se aproximando, deixando Pilar um pouco eufórica com a presença do homem. Selena apenas entrelaçou os dedos e, sem perceber, andou para o lado até encostar-se à parede fria.
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FIEL
SpiritualSelena Cadori, após anos de estudos, consegue seu primeiro emprego. Ela recebe um aviso solene de como se portar naquele local, mas as lutas em seu coração logo começam: Incredulidade; Paixão e Dilemas. Sentimentos que outrora lhe eram desconhecido...