⏩ Armadilha

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As nuvens no céu estavam acinzentadas e carregadas. Parecia que em breve a chuva se derramaria pela terra. Selena com os olhos semicerrados fitava o firmamento enquanto sua irmã abotoava seu vestido. A mãe sentada na beirada da cama observava o jeito fechado da filha.

– Aconteceu algo? – Laura perguntou, tirando a caçula de seus vastos e longínquos pensamentos.

– Ahn? – balançou a cabeça. – Não aconteceu nada. Eu estou bem.

– Está nervosa, Selena. Se não quiser ir, avise.

– Acho que vai ser bom sair de casa. – Ela sentou-se ao lado da genitora. – Estou cansada deste quarto de paredes brancas – brincou sem muito alto astral.

A mãe sorriu e segurou as mãos frias da filha.

– Vai dar tudo certo! – Tocou com amor o queixo de sua menininha.

Selena fez um gesto de assentimento e seguiu para sentar numa cadeira a frente do espelho a fim de Juliana fazer uma trança lateral, além de uma leve maquiagem. Passou-se meia-hora e a jovem achava-se pronta para sua saída noturna.

– Danilo vai se achar muito sortudo por ter uma mulher tão bonita assim ao lado dele – Juliana cochichou no ouvido de Selena, que acabou sorrindo do troçar da irmã.

As duas mulheres acabaram saindo do quarto, deixando-a sozinha por uns instantes. Selena abriu sua bíblia na área que estava marcada e para sua surpresa era o mesmo versículo que recebera logo no início do seu trabalho: "Daniel 1: 8. Daniel, porém, decidiu no seu coração não se tornar impuro consumindo as iguarias do rei, nem com o vinho especial servido à mesa real, e solicitou ao chefe dos oficiais permissão para se abster daqueles alimentos." Como pôde se esquecer de todo aquele aviso? Mas apesar de todas as circunstâncias, ainda estava de pé e a cada dia mais forte.

A voz do Sr. Renato reverberou pela casa com o nome dela, Danilo havia chegado. Ela caminhou à sala e encontrou seu acompanhante trajando, elegantemente, blazer e calça preta com uma gravata azul marinho. Ela suspirou! As palavras fugiram da boca do rapaz ao ver sua dama com um vestido rose com corpete de renda e uma saia levemente rodada. Estava belíssima! A simplicidade e a beleza exaltada.

– Não chegue muito tarde – o pai pronunciou.

– Não se preocupe, Sr. Renato. Eu não pretendo estender a nossa presença lá, além do necessário – Danilo replicou e um aceno positivo por parte do dono da família foi dado.

– Senhorita, dê-me a honra. – Num gesto cavalheiresco ofereceu o braço para conduzi-la ao carro. A jovem com nobreza aceitou sua cortesia.

Após um tempo, Selena atentou-se para o silêncio de Danilo enquanto ele dirigia. A expressão facial do jovem era cansada, provocando nela um instinto de cuidado para com o amigo.

– Dormiu bem? – sondou o colega.

– Não muito, tenho trabalhado até tarde esses dias – respondeu sem desviar sua atenção do trânsito, que estava fluido. – Os balancetes mensais são cansativos.

– Eu posso tentar imaginar – ela fechou o espaço entre o polegar e o indicador –, mas só um pouquinho. – Em seguida esboçou um sorriso.

Danilo riu. Contudo, não era somente aquilo que lhe tirava o sono nas noites. Precisava tomar uma decisão – e rápido – sobre assumir o novo posto na outra filial da empresa. À cada dia seu padrinho lhe pedia uma resposta decisiva. Ele orou, mas tudo que recebia era o silêncio. Estava exausto. Selena, compreendendo o colega, aquietou-se durante o restante da viagem.

***

O veículo parou num vasto estacionamento, Danilo abriu a porta do carro para Selena e a jovem logo sentiu o vento frio percorrer por sua pele. Em seguida, sentiu algo sendo colocado sobre seus ombros, era um casaco.

FIELOnde histórias criam vida. Descubra agora