⏩ Coincidência

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Selena arfou no sofá de sua casa com as mãos no rosto, pensando novamente na recusa do banco em lhe fazer um empréstimo. A desculpa era sempre a mesma: seu salário era baixo demais para isso. Seu pai há uma semana tentava arranjar o dinheiro, mas todas as portas se fechavam diante de seus olhos. Uma nuvem negra de desesperança parecia envolvê-los a cada novo amanhecer. Ela ainda presa nos seus pensamentos, ouviu o celular vibrar em sua bolsa e ao tomá-lo em suas mãos atendeu a chamada.

– Alô? – sua voz estava fanhosa.

– Sel, é a Bethany. Queria saber como você está – a voz da amiga enunciava receio.

– Ah, Bethany! – Mal terminou a fala e um nó se formou na garganta a sufocando por tanta tristeza.

– Eu vou à sua casa – a amiga disse. – Me aguarde! – E a chamada foi encerrada.

Selena se levantou e se conduziu até seu quarto para se ajeitar a fim de receber sua visita. Não demorou 20 minutos para que a campainha fosse tocada. Juliana recebera a jovem morena e se encaminhou para chamar a irmã, que logo eclodiu na sala com os cabelos molhados.

Bethany ao ver o estado da amiga, apenas a abraçou com carinho, procurando oferecer a colega o consolo necessário. As duas se assentaram no sofá e Selena não conseguia pronunciar nada além de gemidos.

– Não quero que minha mãe morra, Bethany. – Ela balançou a cabeça e estremeceu com o corpo, as palmas das mãos geladas apontavam seu profundo temor para com as circunstâncias. – Ela faz uma imensa falta. Eu estou cansada dessas lutas que parecem não ter fim. – Soluçou mais uma vez.

Bethany orava internamente pedindo a Deus alguma palavra de sabedoria para dizer à amiga.

– Meu pai está a cada dia se afundando em tristeza, minha irmã e sobrinhas não reagem a nada e essa casa virou um lugar pesado para se viver – Selena relatou sua convivência amarga durante aqueles longos e depressivos dias.

A jovem morena suspirou e disse:

– Deixe-me orar por você? – Olhou para Selena, que apenas assentiu. – Senhor Deus, graças Te damos pela sua benevolência mesmo quando conseguimos enxergá-la. Te peço nesse momento a graça para sua filha amada e toda a sua família, dê-lhes a sua paz e então suportarão as lutas. Em Cristo Jesus, amém!

Selena sorriu para a amiga, apesar da dor se sentia amada por ter alguém ao seu lado no momento de maior sofrimento. Bethany lhe deu umas batidinhas na mão e declarou:

– Quero lhe fazer um convite. – Os olhos de Bethany brilharam e a amiga se atentou para sua fala. – Desde que cheguei de viagem ainda não tive tempo de visitar minha avó e ela todo dia me cobra uma visita.

Selena riu da careta engraçada de Beth.

– A Sra. Gracinda é um amor – a jovem Cadori declarou, se lembrando de quando ia com Beth brincar em sua casa de campo. A senhora preparava variadas guloseimas para comerem e as levava até a beira do riacho para tomar banho e ficarem de molho o dia todo.

– Sim, e depois da morte do vovô e sua mudança, acredito que ela se sinta um pouco só – Bethany expressou com certa saudade. – Então, ela me ligou mais cedo e me convidou para ir a seu apartamento para comer e conversar. E vendo como você precisa sair um pouco daqui quero te convidar a passar esse momento conosco.

– Mas não irei atrapalhar o reencontro das duas? – Selena inquiriu com o cenho franzido.

– Claro que não! – Bathany abanou a mão no ar. – Na verdade será um prazer ter você junto e podermos relembrar das nossas peripécias na infância. – Ela colocou a mão na boca para conter o riso extravagante.

Selena gargalhou e aceitou o convite.

***

Danilo fechou a porta de sua residência e no caminho até o elevador viu a porta do apartamento 63 se abrir. A senhora de vestido de algodão branco com estampas floridas ao enxergá-lo esticou um belo sorriso nos lábios finos.

– Meu filho, nem te conto – ela o chamou com as mãos e Danilo se aproximou com um sorriso.

– Conte-me. – Ele se inclinou para ficar do mesmo tamanho da senhora.

Ela colocou as mãos ao redor da boca como quem iria contar um grande segredo: – A minha neta vem hoje – piscou para ele. – Daqui a pouco estará chegando.

Danilo soltou uma risada ao perceber como a idosa estava convencida de lhe fazer conhecer a neta. Não estava num momento da vida o qual ansiava se relacionar com alguém, mas também não queria magoar aquela velhinha tão querida que sempre lhe preparava comidas gostosas e também o proporcionava momentos preciosos de conversas, no Senhor.

– Você está de saída, não é? – Sra. Gracinda desfez o sorriso ao ver a chave do carro na mão dele. – Desculpa, não quero atrapalhá-lo.

Danilo repuxou os lábios para o lado ponderando a situação e proferiu:

– Não era nada tão importante assim. Eu posso resolver depois. – Ao ouvi-lo dizer aquilo, a senhora o tomou pelo braço e o puxou para dentro de casa. – Então, se sente que ela logo chega. Você irá gostar dela, meu filho – a mulher de cabelos brancos suspirou –, eu acho que podem se tonar grandes amigos.

O jovem apenas assentiu com um sorriso cortês. Ele acompanhou com os olhos a locomoção da senhora até a cozinha. Vendo-se sozinho se atentou para alguns papéis em cima da mesinha de centro, entre estes um jornal que Danilo logo pegou, colocando a perna direita sobre o joelho esquerdo e começando a ler as notícias do dia. Não passou muito tempo quando a campainha soou.

A senhora veio às pressas do outro cômodo, ainda enxugava as mãos molhadas no pano de prato. Ela girou a maçaneta e abriu a porta. Danilo ouviu um pequeno gemido de alegria da mulher ao ver sua amada neta diante dela. Ela empunhou a jovem num abraço apertado e até mesmo deixou umas lágrimas descerem.

Danilo de seu lugar admirou a afetividade entre as duas mulheres e se alegrou por Gracinda, pelo modo que falava da neta, realmente a amava demais. Concebeu que a moça vinha acompanhada de alguém, conseguia ver a sombra parcialmente, mas não deduzia quem seria.

– Entre, minhas queridas, vamos – a senhora convidou as meninas e Danilo se colocou de pé para recebê-las.

Assim que as avistou seu olhar repousou somente sobre uma das meninas. Selena estava ali.

FIELOnde histórias criam vida. Descubra agora