⏩ Adversidade

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O sol começava a nascer quando Selena pôs sua mala no chão da sala. A sua viagem de retorno durou toda a madrugada com João como motorista. Ela estava cansada e queria somente dormir. Aproveitaria aquele feriado de segunda-feira para repor suas forças a fim de estar descansada para o trabalho na manhã seguinte. Ela olhou em volta e suspirou. Voltar para sua casa era uma benção, mas, estranhamente, sem a presença de seus novos amigos e Danilo, não se sentia em seu lar completamente.

Selena deu uns passos para trás para trancar a porta e ouviu:

– Ah, é você! – exclamou Juliana com o celular na mão e os olhos vermelhos.

– Obrigada pelo entusiasmo em me receber – brincou com a irmã mais velha, contudo a menina não sorriu. – Ei, o que você tem? – ela perguntou preocupada.

– Fábio não retornou para casa desde o sábado – respondeu já sendo tomada pelo copioso choro, novamente. – Meu Deus! Onde esse homem se meteu? – a irmã clamou aos céus, e Selena se frustrou com a situação terrível de Juliana.

– Onde estão as meninas?

– Dormindo. Todo dia perguntam pelo pai, mas não sei mais o que responder. – Juliana passou as mãos pelos cabelos longos e ondulados, mostrando seu desespero.

– Ele vai aparecer! – Selena disse sem muita convicção. – Ele não já fez isso outras vezes? Pois é, e todas as vezes voltou.

– Você não está entendendo! – a irmã declarou exasperada. – Fábio estava sendo ameaçado de morte por estar devendo uma quantidade exorbitante de drogas. – Selena arregalou os olhos, sentindo seu coração bater acelerado. – Sabe-se Deus o que fizeram com ele – a irmã jogou-se no sofá, apoiando os braços nas coxas e afundando o rosto entre as mãos. Juliana chorava sem parar pensando em milhões de teorias sobre o que tinha acontecido com seu marido.

Selena podia ver seu mundo desabando mais uma vez. Sua mãe no hospital, seu cunhado desaparecido, a irmã aflita, e o pior: ela não podia fazer nada! Era muita tribulação para uma família. Contudo, sentou-se do lado da irmã e massageou as costas da jovem, procurando de algum modo proporcionar algum consolo.

– Juliana, só o Senhor pode trazê-lo de volta. Só Deus para libertá-lo desse vício e fazê-lo um homem novo. – Tentava trazer palavras de esperança para o coração angustiado da irmã, levando-a a olhar para a única solução: Cristo. – Sozinha você não pode, Juliana! Não vai transformá-lo. Se iludiu com isso, achando que ele mudaria por você.

O corpo da irmã tremia por conta da grande tristeza que dominava a sua alma.

– Eu queria... – disse, gemendo. – Mas eu não tenho forças para voltar. Não sou digna de retornar. Eu deixei Deus por ele. Eu sei, a culpa foi minha. E eu mereço esse casamento fracassado como castigo. – Ela afundou-se ainda mais em sua agonia, sentindo toda a dor de anos em suas costas.

Selena a puxou para deitar em seu colo, e a jovem aceitou a oferta de carinho. Juliana fechou os olhos enquanto sentia a carícia de um cafuné reconfortante em seus cabelos. De repente, escutou a letra da doce melodia ecoando da voz da irmã.

“Me leva pra casa
Eu quero voltar
Pois longe de Ti
Não é o meu lugar.

Eu corro depressa
Pra te encontrar
De braços abertos
Em meu lugar.”

Juliana chorou muitíssimo com as palavras que eram entoadas pra ela. Podia se lembrar dos dias em que se reunia com os jovens na igreja para cantar e estudar as escrituras. Naquela época possuía tantas certezas sobre o futuro que teria. Imaginava amar um homem que compartilharia com ela da obra de Deus; viajariam juntos explorando novos lugares e teriam seus filhos.

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