Prólogo

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     Enquanto eu me dirigia para a roda de capoeira que acontecia todas as quintas-feiras na praça do centro do meu bairro, vejo meu irmão vindo em minha direção.

      — Mano você demorou, o Mestre Mosquito já tava pensando que "cê" não vinha mais.

      — Teve simulado no pré hoje, tá chegando perto do ENEM e o bagulho tá ficando tenso na turma. Tenho que me preparar bem se quero realmente conseguir passar pra Medicina. Já jogou? E a Rosa, não veio hoje?

     — Não, tava te esperando pra gente jogar juntos, e ela tá de plantão, mas o teu admirador já tá aí te esperando.

     — Para de graça Quinho, o garoto gosta de capoeira pelo visto. Ele fica vendo todo mundo jogar, não só eu.

     — Não maninho, eu tava reparando. Desde a primeira vez que ele apareceu por aqui e ficou vendo a galera na roda que ele só tem olhos pra ti. Já faz três semanas que ele apareceu e sempre é a mesma coisa, ele espera você entrar na roda e quando percebe que você não vai mais jogar ele vai embora, se você não estiver ele vai embora. Só fica quando ele percebe que nós estamos por aqui, ele fica te procurando com o olhar. Acho que você devia ir falar com o garoto.

      — É, pode ser, mas primeiro vamos jogar e testar a sua teoria. Se realmente ele estiver aqui só por minha causa eu vou tirar isso a limpo hoje.

      — É assim que se faz maninho, mas me diz uma coisa, tu não tá de rolo com o Fernando?

      — Cara, meu lance com o Fê é amizade com benefícios... – Falei rindo enquanto meu irmão me olhava espantado.

      — Então tu vai ficar com os dois?

      — Não, a gente não namora, o Fernando é apaixonado por um Zé Ruela que só chama ele quando tá a fim de trepar, usa o moleque e deixa ele com esperanças que ele vá assumir o caso. Mas o cara é um enrustido e nunca vai abrir pra geral que namora um garoto.

      — Que otário, o Fernando é um cara legal.

      — Só que ele acredita que aquele mané vai assumir ele, fica mal quando o cara larga ele depois de ter comido e aí eu tenho que levantar a autoestima dele. Ele tava quase entrando em depressão. Nós ficamos depois que o babaca maltratou ele pela última vez, mas o Fernando não esquece o cara.

      — Mas o que você vai fazer, vai chegar no ruivinho enquanto tá enrolado com o Fernando ainda, não acho legal isso.

      — Não, não vou ficar com os dois, até porque eu sei que o Gabriel, filho da dona Cristina do mercadinho arrasta um bonde pelo Fê. Vou dar uma de cupido e tentar juntar esses dois, o Gabriel é um cara decente e sempre gostou do Fê, vou falar com ele pra chegar com jeitinho que ele ganha o coração do nosso amigo e assim eu deixo a "profissão de pinto amigo" do Fê, hehehehe.

      — Vamos jogar e depois você pensa nisso, ô "Cupido negão"... – Meu irmão falou rindo de mim.

      — É, é o melhor que a gente faz. Sabe de uma coisa, acho que já sei como chegar no ruivinho.

      Meu irmão e eu entramos na roda de capoeira e começamos o nosso jogo. Desde pequeno eu jogo capoeira com meu irmão. Nosso pai, como bom baiano, ensinou os dois filhos a jogar, se bem que faz tempo que ele não joga com a gente.

      Entre uma gingada e outra eu ficava de olho no rapazinho ruivo que estava no meio do pessoal que assistia a roda. Meu irmão tinha razão, ele não tirava os olhos de mim. Saí da roda enquanto meu irmão ainda gingava e fui em direção ao cara. Ele ficou meio assustado ao ver que eu me aproximava. Dei o meu melhor sorriso e fui falar com ele.

      — Oi, me chamo Márcio, eu vi que você vem sempre assistir a roda de capoeira, não tá a fim de aprender a gingar um pouco?

      — Oi, eu não sei... – Respondeu meio tímido, olhando pro chão, sem me encarar.

      Porra assustei o moleque.

      — Vamo lá cara, vai ser legal, eu te ensino, eu vi que você tá interessado em aprender! O mínimo que pode acontecer é você ficar cansado e com dor nas pernas, hehehe. Meu irmão tá lá, jogando ainda, eu vim aqui pra te chamar, vamos?

      — Tá, acho que você me convenceu... – Falou e me encarou me dando um sorriso tímido. Quando me olhou eu viajei no olhar dele. Eram duas esmeraldas que me fitavam com um jeitinho tímido e um sorriso lindo que me deixou nas nuvens.

      — Aeee garoto, mas você não me disse seu nome.

      — Desculpe, me chamo Ricardo.

      — Então Ricardo, você vai gostar muito, vou te apresentar pro meu irmão e pro restante do pessoal. A galera é de boa, você vai ver.

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora