4° Capítulo - Acordo?

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Madrid, 27 de setembro – 22:45h

...

Eu sei, menina, quando você olha para mim

Você não sabe como eu me sinto

Porque eu sou normalmente tão indiferente

...

Emma: Ani, você tem 20 minutos. – Bateu na porta do camarim.

Madrid, o meu primeiro show com Herrera.

Durante os últimos dias eu não o tinha visto, fui informada que ele teve um imprevisto e que seria substituído. O substituto era de longe mais maleável, então consegui convencê-lo a manter uma distância no mínimo necessária para não invadir meu espaço. Mas agora, ali estava ele, a postura ereta, a roupa impecável, barba cerrada, com os olhos fixos no relógio de parede que estava acima do meu espelho. O incômodo era real, enquanto eu ajustava a escuta em um dos meus brincos ele batia o pé incontáveis vezes para demonstrar a impaciência pela minha demora. Confesso que demorei mais do que o habitual para terminar de me arrumar, não sei se para irritá-lo ou para aproveitar aqueles breves minutos sozinhos para captar mais algum detalhe daquele ser irritantemente instigante.

Anahí – Você pode me ajudar aqui? Ou não pode perder sua postura de poste? – Dirigi a palavra a ele totalmente contrariada por não conseguir encaixar a escuta, e Emma por força do maligno não apareceu para me salvar.

Ele não esboçou nenhum tipo de reação, notei que cerrou os lábios, mas a expressão era a de sempre, impassível. Então caminhou até mim sem dizer absolutamente nada, parando tão próximo que fui capaz de sentir o calor de sua respiração sobre a minha pele. Ele não me encarava, aquilo me irritava, eu não confiava em pessoas que não me olhavam nos olhos. Então ele afastou meus cabelos ondulados e prendeu uma mecha atrás da minha orelha, enquanto o fazia senti o breve toque dos seus dedos em minha pele, ele dedilhava meu brinco e enquanto isso repousou uma das mãos em minha nuca para que eu não me movesse. Naquele instante meu corpo respondeu àquele toque de uma maneira até então desconhecida por mim, senti uma espécie de corrente elétrica extravasando entre meus poros. Eu só poderia estar gripando, era isso. Ele conseguiu encaixar o objeto com facilidade, nesse instante me veio à cabeça quantas vezes ele já deveria ter feito aquilo, inúmeras logo conclui.

Herrera ergueu os olhos e fitou os meus, aquele olhar me soava tão misterioso. Quem era aquele homem? Como ele era atrás daquela postura imponente e intimidadora? Será que tem família, filhos, um amor?! Será que era um patético romântico como o Jensen? Ou um homem com sentimentos aleatórios como eu? Aquele verde aguçava minha curiosidade em desvendar os motivos daquele autoritarismo. Estava perdida demais em meus devaneios para notar a forma como ele me encarava, era como se quisesse me conhecer ou reconhecer  pelo olhar, como se naquele momento ele conseguisse captar os meus medos e desejos através da minha íris.

Emma – Anahí eu vou te enforcar se você não sair daí no próximo minuto. – Bateu na porta com a força que conseguiu reunir. Eu tinha o dom de irritar as pessoas, e aquilo ao meu ver era cômico. O som da ameaça de Emma foi suficiente para nos afastar, eu estava pronta.

Alfonso – Antes de você sair vamos combinar três coisas. - Me encarou. A imensidão do verde oliva me fitou novamente e eu senti minha nuca esquentar com a frigidez daquela voz.

Anahí – Ah, você fala. Eu pensei que o gato tinha comido sua língua. – Ironizei com um sorriso no canto da boca, precisava espantar a tensão que se instalara naquele lugar.

Alfonso – Não tenho tempo nem paciência para suas ironias, então guarde seus comentários inúteis para você. – Retrucou sério e eu fiquei no mínimo ultrajada com a ofensa. - Primeiro, a escuta é muito sensível aos seus ruídos, então se você notar algum movimento suspeito, por menor que seja, só diga meu nome e eu estarei lá. Segundo, mesmo que você não me veja não se preocupe, eu nunca vou me distanciar o suficiente para colocar sua segurança em risco. E terceiro, é mais uma ameaça que um aviso, se você for tentar fazer alguma besteira para tentar escapar, eu arranco você do palco no meio do show, não duvide, eu tenho permissão para isso. – Finalizou apontando o dedo em minha direção.

Anahí – Você não ousaria fazer isso. Herrera...definitivamente você não me conhece. – Cruzei os braços enquanto o encarava. Aquelas palavras soaram com um efeito totalmente contrário nas minhas terminações nervosas, o que soava para outros como proteção, para mim era o mesmo que diminuir a minha capacidade de decidir e agir, como se os meus passos e ações dependessem de um terceiro. Eu estava extremamente irritada com a rispidez que ele me dirigia, me senti pequena diante daquele estranho, se eu queria irritá-lo, naquele momento a maior enfurecida da história era justamente eu.

Alfonso – Anahí, olhe nos meus olhos e prometa que você vai cumprir o nosso acordo. Não dificulte as coisas para nós dois.

Anahí – Eu nunca disse que seria fácil. Jensen deveria ter lhe alertado. – Travei meus punhos, naquele instante se eu pudesse descrever o que meu coração pulsava, seria ódio. Eu não suportaria obedecer aquele homem. – E isso não é um acordo, você está impondo, sinto dizer que as coisas não funcionam assim comigo. - Quando dei de costas só tive o tempo de completar dois passos até a porta, foi quando senti a mão dele envolvendo a minha e em um breve intervalo de tempo ele me puxou com uma delicadeza que eu pensei não existir.

Alfonso – Eu não quero impor absolutamente nada, só quero que você se permita ser cuidada, eu não sou seu inimigo e nem pretendo ser. – Disse enquanto segurava a minha mão, certamente ele havia esquecido desse pequeno detalhe.

Anahí - Ok, temos um acordo, mas espere...com algumas ressalvas. – Puxei minha mão desvencilhando da dele e cruzei os braços enquanto o encarava. - Eu só quero que você se aproxime se eu chamar, sem intromissões durante os shows, e por favor não atrapalhe o pouco de vida social que eu tenho. Você ainda não me viu em abstinência, se é que me entende. – Mordi o lábio inferior enquanto ele tentava assimilar a última frase, eu quis rir naquele instante, lógico que para mim a abstinência a que me referia era sexual, e posso apostar que ele estava deduzindo que eu fazia uso de algo ilícito.

Alfonso – Cada um com seus problemas, estamos de acordo. – Finalizou desinteressado.

Anahí 1 x Alfonso 0

Primeiro ponto marcado. Método utilizado: Deixar ele acreditar que estava no controle. Ou vocês acharam mesmo que eu ia ser tão tolerante assim? Ledo engano. 


-

Temos uma Anahí debochada? Temos.

Temos confusão a vista? Temos.

Segurem os forninhos, foi dada a largada. 

All Of MeOnde histórias criam vida. Descubra agora