40° Capítulo - Conserto

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Acordei no meio da madrugada, as mãos suadas devido o pesadelo que me assombrava desde que retomei a consciência. Não que eu recordasse dos motivos que levaram Jared a planejar meticulosamente todo aquele sequestro, o início das cartas, e tudo que envolvia os meus dias naquele cativeiro, mas aquele olhar não saia da minha cabeça, podia ouvir aquela risada mórbida ainda em meus ouvidos, e aquilo era suficiente para me deixar totalmente amedrontada. Veja bem, eu não tinha ideia do que tinha acontecido a ele, se estava preso, ou se conseguira fugir, e essa dúvida me arrepiava inteira.

Sentei na cama e dobrei os joelhos, apoiando minha cabeça. Observei Jensen, que dormia tranquilamente ao meu lado, e aquela imagem me soou mais estranho do que poderia imaginar. Sim porque eu já havia perdido as contas de quantas vezes nós acabamos a noite daquela forma, jogados na cama após horas compartilhando o desejo carnal que nos envolvia. Mas daquela vez eu não consegui, o meu corpo pedia por aquilo, como se fosse uma forma de me trazer de volta à vida, ascendendo algo que estava a algum tempo apagado em mim, mas a minha cabeça não.

Jensen estava sem camisa, com as costas expostas, e eu adorava a forma que os músculos dele ficavam em evidência naquela posição. Lembrei de uma vez em que estávamos no camarim, e exatamente naquele lugar que eu gostava de cravar as minhas unhas, enquanto ele tentava se livrar do meu figurino, resmungando em meu ouvido sobre aquela quantidade de tecido que só dificultava o seu trabalho.

E era daquela forma que funcionava, uma ânsia de colar nossos corpos, sem nenhum empecilho. Jensen tinha uma maneira diferente de iniciar a nossa transa, sempre me torturava com movimentos lentos antes de tomar o ritmo que eu gostava. Aquilo rendia boas mordidas, e nós sempre saíamos marcados. Quando enfim nós entregávamos ao orgasmo, riamos cúmplices daquela loucura, e voltávamos ao meio dos outros como se nada tivesse acontecido. E foi assim por anos, e funcionava.

Funcionou até eu conhecer Herrera, por mais clichê que possa parecer essa é a verdade. E foi por esse motivo que travei com Jensen. Como mulher, tenho meus desejos e minhas vontades, mas aquilo era mais que um simples ato sexual, eu necessitava de uma entrega ainda maior, reascender aquelas sensações que eu só tinha com ele, e era ele que eu queria em minha cama, se não fosse aquela amiga, aquela pulseira, e a falta de bom senso dele em trazê-la até minha casa. Não sei se era raiva ou mágoa, mas eu tiraria aquela história a limpo, nem que fosse para nos afastarmos de uma vez por todas.

Mas se eu demostrei mágoa com aquela visita inesperada, Alfonso se mostrou despreocupado. Porque depois daquela bendita festa, ele simplesmente desapareceu da minha vista. Vez ou outra ouvi Emma conversando no celular, e eu sabia que era ele. Mas para mim nada. Aquilo me deixou uma pilha de nervos, passei a imaginar que ele estaria muito ocupado dando atenção a tal Maite, e que acabaria esquecendo de mim. Meus olhos encharcavam em imaginar aquilo, e para piorar os lapsos de memória ficaram mais evidentes, esquecia a senha do meu celular com frequência, o número do meu apartamento todas as vezes que saía e passava minutos tentando relembrar qual era a minha porta. Todo dia era um esquecimento diferente, e eu tive que começar a anotar todas as coisas importantes para o meu pleno funcionamento mental.

Era sábado, cerca de duas semanas depois que havia voltado para casa. Me olhava por longos minutos na frente do espelho, tateando aquela cicatriz que agora perdera o tom arroxeado, e a qual não incomodava mais com a dor aguda que antes me acompanhava. Já havia tomado um banho demorado e agora encarava aquela nova imagem que me pertencia, uma marca de uma tragédia que levou consigo minhas lembranças, meus planos e as minhas asas. Porque sim, agora eu não conseguiria agir como se nada tivesse acontecido, o medo me acompanhava e eu sentia que não voltaria a ser eu mesma sem meus vôos.

Peguei o celular e passei a vista no whatsapp, e lá estava a foto dele. Abri a janela de conversa e vi que estava online. Pensei uma, duas, três vezes.... Até que criei coragem e mandei uma mensagem, sem reconhecer minha cara de pau, jogando o último resquício da minha dignidade no lixo.

All Of MeOnde histórias criam vida. Descubra agora