18° Capítulo - Impulso?

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Vamos aos pontos, sim, estou extremamente cansada, esgotada é a palavra certa. Minha rotina havia se intensificado muito nos últimos meses. Mas, o que me incomodava era a tensão que me rodeava, eu não sabia de nada, em quantas andava a investigação do autor das malditas cartas, o que eles faziam quando não estavam no meu encalço, não passava de uma mera marionete no meio daquela algazarra toda. Por vezes eu tentei ouvir alguma coisa, fiz chantagem emocional com Joseph, mas nada. Como poderia ter noção do risco que corria?

As privações eram tantas, mas nenhuma resposta. Primeiro os seguranças, GPS, escutas, depois vieram as câmeras, os sensores de presenta, travas eletrônicas, grades, janelas, cadeados, e agora, até o meu trabalho, a minha carreira seria prejudicada por um risco inalcançável e invisível. E o pior, eu não pude optar, as decisões eram tomadas alheias a mim, como se não importasse. Me tirar do palco era o mesmo que tirar a minha razão, o meu refúgio. Eu seria privada de receber o amor dos meus fãs, de compartilhar momentos que só era possível ali.

Eu não sou uma pessoa tão emotiva assim, mas aquilo me doeu. Me permiti derramar algumas lágrimas, tão volumosas que escorriam em meu rosto sem cessar. Tudo o que sempre lutei para alcançar estava se esvaindo de minhas mãos, e eu era obrigada a acatar.

Me trancafiei no quarto nos dias que sucederam aquela notícia. Sem celular, internet, ou interação com Emma ou Jensen, me sentia traída. Só trocava algumas poucas palavras quando Joseph me lembrava que eu deveria comer. É difícil viver como um passarinho e perder as asas da noite para o dia, era assim que eu me sentia, podada. Como vocês se sentiriam se fossem privados da coisa mais importante de suas vidas?

Passado aqueles dias em total reclusão, o destino agora era Los Angeles. Vocês devem se perguntar por onde andava meu guarda-costas. Entendam, quando estou me remoendo da raiva, tenho duas opções, ignoro ou brigo. E naquela ocasião a única decisão plausível era ignorar. O meu telefone só foi ligado novamente antes de embarcamos para finalizar o check-in. Pode soar imaturo de minha parte, mas agora ele provara do meu inverno. Estávamos quites.

Já me encontrava no camarim, ajustando a meia arrastão que compunha o figurino aquela noite, devidamente maquiada, os cabelos soltos com uma leve ondulação. Cantarolava Mercy do príncipe Mendes, quando ouvi duas batidas na porta.

Anahí – Pode entrar. – Avisei com o tom de voz elevado. Quando abriram a porta fiquei surpresa, era Jared, o que ele fazia ali?

Jared – Olá Ani, desculpa invadir seu camarim, não quero atrapalhar. – Disse abrindo um sorriso largo com minha expressão um tanto animada.

Anahí – Céus, que surpresa boa, você não atrapalha. – Avancei o abraçando forte. – Mas o que você faz aqui? Digo, em Los Angeles. – Reformulei desvencilhando-me do abraço e o encarando.

Jared – Vim a trabalho, uma reunião com investidores. – Pontuou - Fiquei sabendo que você faria um show aqui e resolvi te ver. – Respondeu, deslizando as mãos em meus braços. – Falei com Jensen e ele liberou minha entrada. Na verdade, eu preciso conversar com você.

Anahí – Você sempre será bem-vindo, tenho até que te pedir desculpas por aquele dia na boate, tive um pequeno imprevisto. Mas senta aí, só tenho que colocar os brincos e já conversamos, ou melhor, é mais fácil após o show, daqui a pouco seu irmão vem me chamar com aquela habitual histeria. – Disse virando de costas, alegre por vê-lo.

Dei apenas dois passos quando senti a mão de Jared envolvendo meu pulso esquerdo, ele me puxou quase rodopiando, chocou o corpo contra o meu e me encarou, com uma expressão um tanto perturbada, eu diria.

Jared - Ani, então não vamos perder tempo. - Sussurrou.

O encarei confusa e vi se aproximar, perto demais, para selar os lábios nos meus, enquanto segurava meu rosto com possessividade. Ele buscava espaço entre meus lábios, e eu reuni forças para empurrá-lo, que diabos era aquilo?

Espalmei as duas mãos sobre o peito dele e tentava a todo custo afastá-lo. A confusão tomando conta da minha mente, Jared e eu sempre fomos amigos, mas nunca tivemos nada mais que isso, uma bela amizade, e agora ele estava ali, depois de tempos, forçando um beijo que eu não queria. Sei que ele não era nenhum estranho, esteve presente em boa parte da minha vida, era o irmão do meu melhor amigo, mas aquele homem que estava pressionando a minha boca com voracidade, a ponto de me machucar, eu não reconhecia.

Ele era mais forte que eu, estava praticamente imobilizada, ele não cedia, não me dava opção, por mais que eu demonstrasse total insatisfação com aquele ato, foi quando ouvi uma voz soar no ambiente, estridente demais, e conhecida.

Alfonso – Solta ela, AGORA. – Rosnou enfurecido.

A voz me atingiu em cheio, e tudo que vi depois daquilo foi Herrera avançando em nossa direção, para depois puxar Jared pela camisa e o empurrá-lo com agressividade, tomado pela ira. Jared se chocou contra a parede e eu me desesperei com aquela cena. Herrera estava com os punhos cerrados, as veias pulsando entre os braços, o rosto vermelho com o maxilar travado, a respiração denunciava o ódio que emergia entre seus poros, caminhou até ele e desferiu um soco partindo o supercílio de Jared.

Anahí – PARA. – Gritei em desespero. Entrei na frente Herrera, apoiando as mãos nos seus braços, tentando afastá-lo de Jared, que a essa altura estava jogado no chão tentando conter o sangue que brotara em seu rosto.

Alfonso – Sai da minha frente Anahí. – Bradou transtornado.

Anahí – Eu não vou sair, para pelo amor de Deus, você machucou ele. – O encarei, os olhos encharcando diante daquela situação. Jared no chão sangrando, e Alfonso pronto para golpeá-lo novamente.

Jared – Ani, está tudo bem, eu não deveria ter vindo. Eu estou bem. – Disse levantando, meio zonzo. – Fica calma, ele não sabe que somos amigos, é o seu segurança, não é?

Anahí – Você está ferido, por Deus. – Caminhei até ele avistando o corte. – Acho que vai precisar de pontos.

Joseph entrou no camarim, certamente ouvira a gritaria. Quando chegou Herrera assentiu com a cabeça, o liberando para tirar Jared dali, trocaram um olhar cumplice, nada foi dito entre os dois.

Joseph – Vamos, eu vou te levar na enfermaria. – O pegou pelo ombro, o guiando em direção a saída.

Troquei um olhar confuso com Jared, não era certo machucá-lo, mas ele havia me forçado a algo que eu não queria. Encarei sua íris em busca de algum resquício de arrependimento e não encontrei. Eu não era a favor da violência, mas e se Alfonso não estivesse chegado?

Eu não conseguia controlar a respiração, estava nervosa e muito confusa. Alfonso apoiou as duas mãos na parede puxando o ar pelos pulmões, os olhos cerrados, enquanto eu o olhava amedrontada, tentava a todo custo conter as lágrimas que escorriam em meu rosto, mas era praticamente impossível. Eu nunca tinha o visto daquela forma, e nunca imaginei que Jared tomaria uma atitude como aquela, eu se quer imaginava que ele poderia nutrir algum interesse por mim, logo ele que sempre soube da minha amizade colorida com o próprio irmão. Toda aquela pressão e tensão vivida nos últimos dias haviam me deixado com os nervos a flor da pele.

O silêncio pairou no ambiente, antes de Alfonso erguer o rosto e vir em minha direção, dei dois passos pra trás e me abracei em proteção.

Alfonso – Ele te machucou? – Perguntou com a voz embargada.

Anahí – Não. – Me limitei na resposta.

Alfonso – Me desculpa Anahí, por isso, eu perdi o controle mais uma vez. Mas quando eu vi ele te beijando sem o seu consentimento eu enlouqueci, eu não sabia que você o conhecia, porra eu nem sei como ele entrou aqui, a única coisa que eu imaginei é que você estava em perigo. – Se justificou ainda ofegante. – Ele te olhava de um jeito, que eu não consigo explicar, você não deve confiar nele. - Pontuou convicto.

Anahí – Ele não representa perigo Herrera, ele é irmão do Jensen, e eu não faço ideia porque ele fez isso. – Respondi com os olhos marejados. – Ele machucou a minha boca, eu não queria aquele beijo, mas você foi longe demais.

Alfonso – Me perdoa, eu sei que passei dos limites, mas eu só tenho medo Anahí, medo de que alguém te machuque. – Se aproximou entrelaçando nossos dedos e me puxando para um abraço. – Me perdoa. – Depositou um beijo em minha cabeça.

Anahí – Tudo bem, eu só fiquei assustada, eu quero esquecer que isso aconteceu. – Fechei os olhos, um alívio tomou conta do meu corpo quando me aconcheguei nos braços dele, durante longos minutos, enquanto nossas respirações normalizavam.

Alfonso – Senti sua falta. – Sussurrou com os lábios encostados em minha testa. – Não me castigue mais assim, eu prefiro os seus gritos a seu silêncio.

Anahí – Você bem que mereceu. - Respondi entre um sorriso que consegui esboçar.

Ficamos abraçados, conectados no nosso mundo particular. Aquela impressão que agora tudo ficaria bem, até o momento de explicar toda a confusão para Jensen, ou de encarar Jared novamente, mas  não pensaria nisso agora,  eu ainda tinha um show pela frente, e por sorte com ele de volta.



Nada é tão ruim, que não possa piorar!






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