All Of Me

43 ° Capítulo - Começo do Fim

Eu estaria mentindo se falasse pra vocês que aquela foi uma noite fácil. Não foi. Eu não consegui dormir um minuto sequer sem que toda a cena estivesse repassando novamente em minha mente, a imagem daquela mulher aos prantos em minha frente, abraçando o meu corpo paralisado, deixando-me ainda mais confusa desde que eu acordei do coma ao me deparar com toda essa realidade que me cerca. O mais assustador de tudo é perceber o quanto eu estou perdendo por não conseguir lembrar, o quanto me sinto desfocada em meio a um abismo de mudanças.

Alfonso está sendo incrível comigo, preciso confessar que continua sendo paciente, e o que quer que seja que tenha acontecido entre nós dois antes do coma, agora eu tenho a certeza de que o que sinto é tão real quanto o que estamos vivendo. Ele respeita o meu espaço, compreende o meu silêncio, e eu sinto que apesar de não merecer, é dele que eu preciso nesse momento de confusão, é nos braços dele onde eu sei que posso encontrar a calmaria enquanto sou caos. Na noite passada, por exemplo, eu sei que ele não dormiu assim como eu, e ainda assim permanecemos em silêncio, processando tudo, e ouvir o seu "bom dia" junto com um meio sorriso assim que o sol começou a nascer lá fora foi uma das coisas que me fez ter a certeza de que cedo ou tarde todas as peças encontrariam o seu lugar e ficaríamos bem. Era o que eu esperava.

O dia seguinte foi estranho, Alfonso me levou até a casa de Emma, eu não queria ficar sozinha naquele apartamento enorme, e muito menos conseguiria ficar com ele com a ideia de que Meryl poderia aparecer por lá a qualquer momento. Entenda, eu não queria estar perto dela, não queria vê-la, pelo menos não até conseguir entender toda a confusão que acontecia dentro do meu coração, um emaranhado de certos e errados que eu não sabia como administrar bem. Eu não estava sendo a melhor pessoa para fazer escolhas no momento, e somente Emma saberia entender esse meu lado, nada melhor do que a melhor amiga para nos emprestar seu ombro amigo e nos ouvir. Por essa razão eu não escondi nada dela assim que cheguei em seu apartamento. Contei tudo, desde o início, sobre a confusão que foi acordar sem lembrar de absolutamente nada e ter que encarar tantas mudanças, até o ocorrido da noite passada onde o encontro inesperado serviu para me deixar ainda mais bagunçada.

Emma e eu estávamos deitadas sobre a cama, passava um episódio de Gossip Girl na TV, mas nossa atenção não estava para uma série na Netflix quando meu relato da vida desastrosa que vinha vivendo parecia mais interessante. Poderia até ser cômico se não fosse trágico.

Anahí – E então, eu não consegui reagir diferente. Ela estava lá, na minha frente como se todos esses anos onde estive pensando que a minha mãe tinha me abandonado não fizessem nenhum sentido. – Continuei o relato. Emma me olhava atenta, agora estávamos sentadas uma de frente para outra sobre a cama – E então eu não entendi o porquê dela reagir daquela maneira, surtei, sim, agora acho que talvez tenha exagerado, mas... Foi confuso.

Emma – Ani, só você sabe o que sentiu naquele momento, não pense que foi um erro reagir da forma que reagiu – tocou minha mão, e eu suspirei, baixando o olhar por um instante – Você não lembra de boa parte do que aconteceu na sua vida, a imagem da Meryl ainda é a da mãe que abandonou você sem uma explicação que fizesse você entender o porquê.

Anahí – No momento eu só conseguia lembrar do estrago que ela deixou na minha vida quando eu ainda era só uma criança – confessei, a voz novamente embargada pelo choro. Emma suspirou, puxando-me para um abraço, deixando um beijo em minha testa – Lembrei das noites em que passei em claro me perguntando qual erro eu havia cometido por não ter a minha mãe comigo.

Emma – É tudo muito confuso, recente, você não precisa cobrar tanto de si – aconselhou, segurando as minhas duas mãos em apoio. – Tempo, é disso que você precisa. Tempo para assimilar tudo, suas memórias vão voltar, e tudo voltará ao seu devido lugar.