38° Capítulo - Bem-vinda

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Ouvir Anahí dizendo que não havia esquecido da sensação única que apenas nossos beijos proporcionavam foi como ter um terço de toda a tensão do meu corpo liberada. Toda a tensão daquele dia desde que a vi despertada do coma, sim, um momento totalmente confuso apesar da felicidade imensa que eu senti, do alívio por vê-la novamente olhar pra mim. Ainda que o choque ao notar também o seu estranhamento tenha erguido uma barreira entre nós.

Anahí não lembrava de muita coisa antes do sequestro, consequentemente antes do tiro que causou a tragédia que a levou aquele coma, o maior martírio era saber que ela lembrava nitidamente da última briga feia que tivemos. Onde palavras impensadas foram ditas. E eu confesso que não sabia como reagir ou o que dizer para amenizar a situação. Amenizar a minha dor por presenciar aquilo onde era pra ser um momento feliz, caramba, ela havia acordado, e minha dor no exato momento deveria ter se tornado pífia, logo perfurada pela confusão clara em seus olhos confusos, na maneira em que ela percebe o quanto mudamos com o passar do tempo em que ela esteve em coma. O pesadelo acabou, no entanto, é como se todos ainda estivéssemos anestesiados.

Ficamos algum tempo com o silêncio como nosso espectador. Ela não hesitou quando eu segurei sua mão e passei a acariciá-la, nem quando eu levei a mão livre até o seu cabelo, sussurrando para que ela descansasse um pouco, apesar do meu desejo naquele momento ser de puxá-la para meus braços e abraçá-la com toda a força que eu pudesse, prometendo arrancar toda aquela confusão que eu bem sabia existir dentro dela. Voltar a beijá-la, depois de meses, com aquela saudade torturante de tocar seus lábios macios e convidativos. Mas seu bem-estar sempre seria uma prioridade.

Alfonso – Eu vou estar aqui quando você acordar. Descanse... – Reforcei, levando a mão dela até os lábios, beijando o dorso, e o sorriso, ainda que mínimo que ela esboçou, foi tudo o que eu precisava naquele instante.

Porque eu era um homem completamente rendido por aquela mulher. Continuaria sendo pelo resto de nossas vidas e não tenho medo algum de dizer isso, não depois de descobrir ao lado dela que eu não devo esconder o que sinto, que não posso ocultar o quanto aquela mulher causa uma desordem e ao mesmo tempo concerta tudo dentro de mim de um modo que somente ela consegue fazer.

Há duas vertentes em evidência do homem que eu fui antes de Anahí, e do homem que eu sou agora. Depois de tudo o que passamos até aqui. Depois da forma que ela olhou pra mim pela primeira vez quando fomos apresentados, ainda quando eu era apenas o seu guarda-costas e ela era a vida pela qual eu deveria dar a minha. E naquele instante mesmo sabendo que eu daria a minha vida por ela, eu não fazia ideia que agora estaria disposto a fazer mais se possível, minha vida apenas não é o suficiente.

E eu estou disposto a enfrentar o que quer que ainda aconteça entre nós. Disposto, inclusive, a deixá-la se assim preferir caso suas memórias do que vivemos juntos não volte. Porque eu a amo e estou disposto a tudo, não a deixar de amá-la, isso eu não posso prometer, não sei se seria possível, na verdade, mas disposto a respeitar sua decisão daqui pra frente.

É impossível não ficar preocupado pelo que viria. Afinal Anahí não sabia um terço de todas as descobertas que precisaria enfrentar. Naquele momento minha visão panorâmica aguçou, ao me dar conta que Meryl estava ansiosa por vê-la, e o quanto estava difícil mantê-la longe desde que a filha acordou, pode soar egoísta da minha parte, mas eu tinha consciência da confusão que seria para Anahí reencontrar a mãe pela segunda vez, onde ela não podia recordar dos motivos que levaram a sua ausência, e mais do que um gesto de egoísmo, foi um gesto de proteção, eu não permiti que negligenciassem o estado dela, e não sabia até qual ponto Meryl e Jensen conseguiriam conter as informações quanto a isso, e o quanto esse fato poderia influenciar em sua recuperação.

Observar Anahí dormir ainda é um martírio, mesmo que eu saiba que ela irá acordar em pouco tempo, a imagem dela inconsciente ainda não me deixou totalmente. Passado aquele momento de euforia com sua volta, a saudade de ouvir a voz dela mesmo que reclamando de algo, ou brigando com os enfermeiros quando a machucavam com as agulhas, tentei ao máximo me livrar da frustração de que ela esquecera, como também controlar a vontade de dizer o quanto a amava. Porque sim, nós regredimos alguns passos e aquilo soaria como uma loucura em seus ouvidos.

All Of MeOnde histórias criam vida. Descubra agora