Aquela conversa ficou martelando na minha cabeça por horas. Emma se despediu fisicamente, mas a voz ainda ecoava nos meus ouvidos. O pior não era saber se Herrera sentia alguma coisa ou não, o problema era distinguir se eu gostaria de descobrir aquilo. Eu não sabia o que era nutrir sentimentos por um homem, não que eu nunca tenha me relacionado, claro que sim, algumas vezes, mas eu nunca fui capaz de expressar nenhum tipo de sentimento dos quais eu via na TV ou nos romances. Sempre fui prática, para mim bastava ser uma companhia agradável, de caráter e principalmente bom de cama, como consequência nunca me apeguei a ninguém verdadeiramente. Eu só amei três pessoas na minha vida inteira, Tia Ângela, Emma e Jensen, e esse sentimento passa longe da forma que meu corpo reage quando estou com ele, o que torna mais difícil ainda defini-lo.
Naquela madrugada eu já sofri os efeitos da dose extra de glicose, uma sede descompensada. Levantei da cama totalmente contrariada, eu precisava beber água. Caminhei até o corredor, as luzes estavam todas apagadas, sai tateando a parede para não topar em nada. No caminho percebi que havia um feixe de luz vindo da sala, andei em passos lentos para não ser vista. Era Herrera, mesmo com pouca claridade, meus olhos os encontraram. Ele estava sentado no sofá, a cabeça recostada na cabeceira, fitando o teto. Eu não conhecia aquela expressão, parecia triste, distante. Ele apertava o pequeno pingente e tamborilava os dedos da outra mão na cabeça. Não consegui fingir que não o tinha visto daquela forma, senti uma necessidade enorme de ir até lá.
Anahí – Sem sono? – Perguntei, um tanto tímida.
Alfonso – Eu não durmo... não quando é meu plantão noturno. – Mudou de posição e apoiou o queixo em uma das mãos. – E você, insônia?
Anahí – Sede, acho que exagerei no doce. – Sorri, enquanto caminhava até o sofá. – Está tudo bem? – Sentei ao seu lado.
Alfonso – Hoje é um dia difícil. – Me encarou antes de afastar e me ceder espaço. – Cinco anos.
Anahí – Cinco anos? – Perguntei confusa.
Alfonso – Que perdi Natalie, minha esposa. – Suspirou longamente.
Anahí – Eu sinto muito. – Apoiei minha mão em cima dele, ele parecia desolado, quase com dor física, pude notar por suas expressões.
Alfonso – Não sinta, foi minha culpa. – Afirmou.
Anahí – Como assim sua culpa? – Franzi a sobrancelha.
Alfonso – Eu não cheguei a tempo Anahí, eu não salvei a mulher que eu amava. Nós estávamos em uma investigação, armaram uma emboscada e ela estava lá, eu devia ter impedido, quando o resto da equipe chegou não havia mais nada a ser feito. – Puxou a mão e ergueu as duas para o rosto. – A culpa foi minha.
Anahí – Não, não fale isso... a culpa não foi sua. Você fez o possível, não fez? – Me aproximei.
Alfonso – Como um louco...- Repousou as mãos nas pernas e me encarou. Os olhos vermelhos, a íris irritada, encharcados pela dor. – Mas não foi suficiente, eu falhei.
Anahí – Você fez o que estava ao seu alcance, não carregue essa culpa, onde Natalie estiver ela sabe que você tentou. – Entrelacei meus dedos nos dele, com a outra mão o toquei no rosto, para que me olhasse. - Uma vez você me disse que eu precisava virar a página, esse conselho também te serve. Ficar remoendo essa dor não faz bem. – Respondi entristecida.
Alfonso – Me culpo todos esses anos, dia após dia, não é um processo fácil, mas agradeço por se preocupar...- Pegou minha mão e levou até a boca, selando um beijo.
Anahí – Não agradeça, eu também me importo...vai ficar tudo bem. – Finalizei.
Então eu o abracei, ele apoiou a cabeça do meu ombro e me apertou entre os braços. Ficamos minutos compartilhando daquele momento, o único som naquela sala era nossas respirações. Senti o peito dele relaxar, e fiquei contente por ter proporcionado um certo alivio a ele depois da nossa conversa. Mesmo com todas as brigas eu não esqueci o quanto ele havia me ajudado em um momento bem parecido com o de agora. Mesmo com todos os muros erguidos entre nós, ele compartilhou comigo a sua maior tristeza, e aquilo abrandou toda a tensão que eu sentia quanto ao seu desprezo.
Empatia... eu não sabia o que era praticar a empatia, até hoje. Por muitas vezes o julguei como escroto, desferi palavras grosserias, e nunca, em nenhum momento me preocupei em saber qual dor ele carregava, se possuía feridas abertas. E me sinto totalmente envergonhada por isso. Envergonhada por minhas ações, e principalmente por não notar que aqueles olhos buscavam libertação... alforria de uma culpa que não o pertencia. Se a vida dele não era fácil, a partir daquele instante decidi em meu íntimo que não faria mais nada para dificultá-la. Eu não tinha direito de atormentá-lo com os meus problemas, ele já tinha fantasmas demais.
Anahí – Vem...você precisa dormir essa noite, não se preocupe comigo. – Me desvencilhei de seus braços e levantei o puxando pela mão.
Alfonso – Não posso, Joseph não está no prédio...Anahí eu não quero falhar com você. – Me puxou para que eu o encarasse.
Anahí – Você não vai falhar. – Pisquei. – Vem, você pode se acomodar no quarto de hóspedes. – Caminhei em direção ao quarto o puxando. – Nada que uma boa noite de sono não resolva. – Abri a porta e esperei ele entrar.
Alfonso – Qualquer coisa...o que seja, você grita, já sabe, não é? – Se deu por vencido, estava exausto. – Antes de você ir, preciso que me desculpe pelos últimos dias... você sabe... – Coçou a cabeça sorrindo.
Anahí – Nada que eu não tenha merecido. – Sorri desconcertada. – Durma bem. – Depositei um beijo estalado na bochecha dele e sai antes de ver sua reação.
Só depois dessa conversa pude realmente entender o motivo dele desejar um bom convívio entre nós, o fantasma da culpa por não ter salvo Natalie o atormenta de tal maneira, que Herrera tem medo que a história se repita comigo, que algo aconteça e ele não consiga chegar a tempo. Céus eu quero um buraco para enfiar minha cabeça, no auge da minha imaturidade não consegui captar os sinais de que algo estava errado. Estava presa demais no meu mundo para entender que eu não sou a única a carregar uma cruz.
-
Olá, sem palavras para agradecer a interação de todas vocês, fico muito muito feliz com cada voto e cada comentário. Continuem, eu amo <3<3
O capítulo é curtinho mas tem muito significado no processo de evolução da Anahí e das suas relações pessoais . Espero que gostem, é um aconchego quentinho na era Frozen rsrs
Beijossssss!!!! <3
VOCÊ ESTÁ LENDO
All Of Me
FanfictionEu espero que você aproveite os raios solares que adentram sua janela entre as cortinas. Aproveite para me agradecer, eu lhe dei mais um dia para se arrepender. Eu espero que você aproveite o som da sua voz enquanto canta para seus milhares de fãs...