Há uma parte do meu corpo, improvável demais que entende todo o processo viável entre forçar os olhos até conseguir abri-los de imediato, é o meu cérebro voltando a trabalhar mandando informações, é como se eu estivesse finalmente acordando depois de longas horas de sono, sem estar totalmente ciente, é claro, do lugar onde estava. Primeiro, todo o desconforto para conseguir situar a visão diante do borrão branco que se fez presente, depois toda a claridade e o vento gelado que atingiu minha pele em cheio. Pela primeira vez eu não conseguia distinguir o que era sonho e realidade, acreditando ou não estar novamente mirando não só o teto, como também todo o resto do ambiente, desde as cortinas em tons de cinza, até conseguir notar que lá fora chovia, que não era o sol da velha Manhattan que cobria o céu, muito provavelmente as ruas estariam um tanto quanto vazias com as pessoas bem agasalhadas e tentando se situar com o clima, com seus guarda-chuvas e desejando incansavelmente, quem sabe, algo para aquecer. A ideia súbita me fez querer dar um meio sorriso ao lembrar de uma das minhas épocas preferidas do ano.
Movi os dedos, e eles pareceram pesar mais que o normal, mas não o suficiente para que me impedisse de erguer a mão e tateasse minha barriga onde senti uma dor aguda. Tentei mover a outra mão, mas estava presa entre uma série de fios, gemi baixinho quando toquei o que me parecia ser um curativo, bem no centro do meu abdômen. A confusão tomou minha mente e nublou meus olhos, a tentativa de reconhecer o lugar foi frustrada, claro que eu sabia se tratar de um hospital, mas o motivo de eu estar ali não.
Pendi a cabeça para o lado e o que vi me deixou mais confusa ainda. Era Herrera, meu odiado guarda-costas, que dormia em um sono pesado na poltrona próximo a cama em que me encontrava. Que diabos ele fazia ali?! O mundo está louco ou eu dormi demais?
Tentei me levantar a todo custo, mas a cama parecia um grande ímã, que fazia força contrária. Gemi derrotada, quando senti a pele arder, aquilo doía. Fechei os olhos novamente tentando buscar um resquício de sanidade, forçando a memória para recordar o motivo que me fizera está naquele hospital, e porque Herrera me fazia companhia, oras ele já tinha deixado claro que não iria mais continuar à frente do meu caso, e consequentemente comigo, logo após aquela briga ridícula sobre a maldita carta e o GPS, desde então nunca mais havíamos nos encontrado.
A carta... ofeguei entre gemidos, quando tamborilei meus dedos sobre o curativo e várias imagens de Jared me servindo uma taça de vinho acinzentaram minha mente, gritos com minha própria voz ecoaram em meu ouvido, e o barulho do tiro estalou sobre mim, me causando um calafrio desesperador.
Anahí – NÃÃÃÃO. – Gritei entre ofegos, desnorteada ao cair em si, relembrando que havia sido baleada por Jared. Imagens do galpão, do escuro, das mãos dele sobre mim me aprisionando, viam em relances e eu estava prestes a arrancar todos aqueles fios se não tivesse sido impedida por ele.
O mesmo olhar castanho esverdeado, parecia agitado, muito provavelmente pelo meu desespero súbito, mas eram os mesmos olhos, que me faziam lembrar claramente da nossa última troca de palavras naquela discussão, eu ainda podia lembrar a forma descontrolada em suas palavras e fúria, as trocas de farpas, a minha raiva descomunal, querendo a todo custo vencer aquela desavença, mas no mesmo instante, o olhar dele agora sobre mim era de total preocupação, soterrando em algum lugar aquele Herrera impassível, dando lugar a um total desconhecido, um olhar de cuidado muito diferente do guarda-costas preocupado com minha segurança, parecia preocupado com mais, como se minha vida dependesse daquilo o que ele buscava entre olhar em meus olhos e o aparelho que demonstrava claramente o movimento ritmado das batidas do meu coração.
Alfonso – Any, oh meu Deus, você acordou. – Suas mãos passeavam por meu rosto, a todo custo tocando a pele, eu queria me esquivar, queria perguntar o que estava acontecendo, o que aquilo significava.
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All Of Me
FanfictionEu espero que você aproveite os raios solares que adentram sua janela entre as cortinas. Aproveite para me agradecer, eu lhe dei mais um dia para se arrepender. Eu espero que você aproveite o som da sua voz enquanto canta para seus milhares de fãs...