33° Capítulo - Always

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Sabe aquela sensação em que o mundo abre embaixo dos seus pés, e você começa a cair em queda livre, sem ajuda, sem uma única chance de sobreviver? Foi exatamente o que senti quando Anahí desapareceu. Fiquei incontáveis dez minutos a esperando no carro, quando um sentimento angustiante me tomou subitamente e saí do carro atrás dela. Ninguém no elevador, ninguém nos corredores, ninguém no apartamento. Bipei os outros e ninguém a encontrava. Meu ar faltou e esmurrei a parede até que me machucasse, derrotado, revoltado, inconformado e principalmente desesperado. Não foi fácil convencer Jensen para que me desse o endereço e o telefone do irmão, eu não tinha certeza, e em meu intimo não queria confirmar as minhas suspeitas, mas algo relutava em minha cabeça para que procurasse vestígios de Jared.

Tive que suportar uma Emma colapsando de nervoso e em um choro inconsolável a minha frente. Ouvir de Jensen o quanto havíamos sido incompetentes e irresponsáveis, minha equipe e eu. Em outra situação aquilo seria motivo para uma briga ainda maior, mas as imagens dela pairavam em minha mente sem cessar um minuto se quer, e a ideia que ela estava em perigo me corroía de tal forma a qual eu nunca mais pensei que poderia voltar a sentir.

Os dias foram passando e eu não conseguia fazer outra coisa que não fosse procurá-la, eu reviraria o mundo se fosse preciso. Fechar os olhos era o mesmo que um puro e amargo castigo, eu via os olhos dela, aquele azul que eu tanto adorava, me encarando com total mágoa, como se me culpasse por aquilo, e eu sabia que a culpa era minha, mais uma vez. Falhei. Eu ainda conseguia sentir o sabor dos lábios dela sobre os meus, e aquilo era suficiente para que meus olhos encharcassem em angustia, o medo de perdê-la me sufocava. Não comia, não dormia, eu só queria ela de volta em meus braços.

Jensen por fim cedeu, nos acompanhou até o apartamento do irmão, e o que encontramos lá foi o suficiente para que confirmássemos, o autor da carta era Jared. No local, várias fotos espalhadas em porta retratos, em uma espécie de altar. Imagens da Anahí adolescente, algumas em momentos descontraídos, e uma em especial, com ela segurando Lolla, o que comprovava que ele a observava sempre. Vi Jensen cair em um choro copioso, desnorteado, tanto pelo sumiço dela quanto pelo fato de ser o irmão dele o cara que tanto procurávamos.

A partir dali todo o processo foi o mais tático e profissional possível. Rastreamos o celular de Jared, para conseguir a exata localização, mas não era tão fácil assim. Era uma faca de dois gumes, invadir o local a colocaria em risco, nós não sabíamos o quanto Jared havia se preparado, a única coisa que eu sabia era que a tiraria dele o mais rápido possível, e em segurança.

Infelizmente não foi bem o que aconteceu, chegamos ao local, um galpão cerca de cinquenta quilômetros da cidade, em uma área de terra isolada, protegida por cercas elétricas e alguns cães de guarda. Dopar os animais levou tempo, e cercar a área com precisão e cuidado também. Quando enfim a equipe conseguiu desativar as travas eletrônicas do portão, ouvimos o barulho de um tiro. Arfei em desespero e corri o mais rápido que consegui, Joseph me acompanhou e os policiais invadiram. O cheiro de fumaça inflou em minhas narinas, e arrombei a porta, para só então avistar, mesmo que de longe, ela. Caída no chão, entre a cortina negra que se formava no lugar, uma dor profunda dilacerou meu peito quando me aproximei e toquei no seu rosto gelado, foi a pior imagem que vi na vida. Anahí deitada sobre uma poça de sangue, do próprio sangue, o azul dilatado, entre as piscadas longas que ela dava entre gemidos, a real e própria imagem do meu maior medo, vi a vida dela escorrer entre os meus dedos que agora pressionavam o ferimento, à espera da ambulância. Eu queria colocá-la nos braços e tirá-la dali, mas não tinha dimensão de onde a bala havia atingido, e movê-la sem o devido cuidado poderia causar danos irreversíveis.

As lágrimas brotavam dos meus olhos com velocidade, assim como meu peito palpitava descompassadamente. Aquela não era de longe a mulher que eu estava acostumava a ver, a pele pálida, visivelmente mais magra, os lábios ressecados e as veias saltadas denunciavam a desidratação. Mas sim, aquela era a mulher que eu aprendi a amar depois de tentar odiar. Um filme passou em minha cabeça, e o remorso me corroía por não ter me dado conta disso antes, só podia ser amor. Eu não queria outra pessoa na vida que não fosse a Anahí, aquela bagunça que fazia com os meus sentidos me reorganizou inteiro, para me entregar totalmente, de corpo e alma, somente para ela, para admitir que eu sou incontestavelmente dela.

All Of MeOnde histórias criam vida. Descubra agora