No Complexo $2

Capítulo 50 - Especial

      Ingrid Narrando

_Não acredito que aquele traste me deixou aqui e foi vagabundar - Diz Camila revirando os olhos.

_Calma caralho, pense bem foi até bom ele ter ido. Ele já estava torrando sua paciência de mais sobre isso da Hadassa - Digo, mas pensando bem lá no fundo fiquei com pena de Hadassa. Camila exagerou muito...

_Verdade, nossa será que vou ficar muito tempo aqui? 

_Não sei, acho que não.

   Ficamos conversando até meu celular começar a apitar, dou uma olhada e é uma mensagem de um numero desconhecido dizendo A Casa Caiu! e eu logo respondo Que casa, caralho? Esse cara só pode estar de graça com minha cara. 

_Aiai Camila, tem um cara louco que me mandou uma mensagem dizendo que a casa caiu - Digo rindo.

_Uai, como assim? Isso dai ta muito estranho - Diz arqueando a sobrancelha. 

 Não demora muito para eu receber outra mensagem Para de ser sonsa, descobriram que você era x9, se pisar o pé aqui no morro eles te matam! PUTA QUE PARIU, COMO ASSIM? Eles não podem ter descobrido cara, o Rato até já morreu, eu não sou mais x9. 

_Camila, porra! - Digo assustada.

_O que desgraça?

_Eles descobriram que sou uma x9 e agora? O que eu faço? Eu não posso morrer - Digo desesperada.

_Ai caralho, se descobriram que você era x9... Eles também devem saber que eu era também. Que merda, logo agora isso foi acontecer? Eu não sei nem se posso sair dessa porra do jeito que estou, Ingrid você tem que fugir! 

_Para onde? Nem dinheiro eu tenho.

_Vá para o morro do Vidigal, procure por Caio. Ele mora em uma casa azul, eu acho, e fica perto da onde eu morava. Quando você for conversar com ele, cara a cara, chame ele por Smith e fala que é minha amiga. Peça para ele o dinheiro que tu achar que precisa, não volte para o morro do Alemão nem para pegar uma roupa sequer. E vá o quanto antes para fora do Rio de Janeiro, aproveita e arruma um jeito de me ligar ou manter contato para eu saber que você está viva - Diz com os olhos lacrimejando.

_Ai obrigada por tudo Cami, te amo muito amiga - Digo abraçando ela. Apesar de tudo sempre fomos muito amigas, quase irmãs.

_Eu também te amo muito, não apronte mais. Vá para fora do Rio e procure uma nova vida para você - Ela diz e eu abraço ela mais forte do que nunca.

_Vai dar tudo certo, não morra Cami. Eu preciso de você, quando eu sair vou te informar com certeza.

_Aliás não mande a localização, só fala que ta viva - E essa é a última coisa que ela me diz antes de eu sair correndo para fora do hospital.

 Camila Narrando

  Estou chorando e muito, eu não chorava tanto fazia tempo. Nem quando meu irmão morreu, eu chorei. É tanto choro acumulado que agora está indo finalmente embora. Não posso dizer que estou aliviada, por estar chorando. Estou até um pouco aliviada sim, mas é por saber que pelo menos minha amiga teve uma chance. Uma chance de renovar a vida, tudo que eu sempre quis. 

 Eu não sei o que vai ser de mim, daqui para a frente. Talvez o LN descubra que eu era x9 e me mate, não vou me iludir pensando que ele vai ficar com dó, pois sou mãe da filha dele. Não existe bondade nesse nível na favela. Desde sempre eu sabia que se me descobrissem eu iria ser morta, sempre estive preparada para isso. Não posso fugir do hospital, não posso fazer aquelas cenas loucas de filme, afinal isso não é um filme. É a realidade, a dura e triste realidade. 

_Senhora? O que houve, estás chorando muito. Precisa de algo? - Pergunta uma enfermeira.

_Eu quero um copo de água e um pano, por favor - Digo e ela sai do quarto.

 Eu errei muito, admito. Fiz da vida de alguns um inferno, para conseguir o que eu queria. Ao invés de ajudar meu irmão a sair do tráfico, entrei junto com ele. Eu era nova de mais, não sabia aonde estava me metendo. Eu não tive oportunidade para sair quando encarei a realidade da favela, eu cheguei ao ponto de virar x9 e engravidar de um babaca que está apaixonado e nem tem vergonha na cara de mudar seu jeito por ela. Sempre soube que LN nunca sentiu nada por mim e nunca iria sentir, muitas no meu lugar se apaixonariam por ele e se magoariam. 

 Mas, me considero conformada na vida. Eu já tive um amor, daqueles arrebatadores. Caio, ou Smith, é a pessoa que eu mais amei em toda minha vida. Apesar de ser abusada, quando estava perto dele me sentia tão insegura e tímida. Nunca cheguei a dizer a ele meus sentimentos, pois sabia que não ia dar certo. O cara é do tráfico, ele era praticamente um chefão. 

 Eu até agora fui uma péssima mãe, é ruim ter uma filha que é a cara do traste envolvido por matar meu irmão. Eu no fundo do meu coração sinto um carinho por ela, tenho que admitir também que ela não me merece como mãe. Eu não estou pronta para isso, tenho que fazer algo. Para quando eu morrer, não ficar com algo pendente aqui na Terra. 

_Aqui está senhora, o copo de água e o pano. Deseja mais alguma coisa? - Diz me entregando o que eu pedi.

_Sim, um papel e uma caneta - Falei sorrindo. Vou, pelo menos, tentar fazer algo bom para todos aqueles que magoei.

 Manu Narrando

_Parabéns pra você nesta data querida... -Minha tia e Rafael cantaram. E sim, hoje é meu niver de 16 anos. 

_Ai gente muito obrigada - Digo sorrindo antes de assoprar as velas.

  Hoje foi um dia muito especial, acordei com minha tia fazendo o que eu mais amo: Panquecas. Pensa numa pessoa que é obcecada em panquecas, essa sou eu. Mais tarde o Rafael chegou com um bolo de chocolate, que meu Deus.

_E o primeiro pedaço vai para minha tia, que eu tanto amo e é muito especial - Digo abraçando ela e entregando o pedaço. Ela ficou muito feliz.

  Comemos nós três o bolo, depois de um tempo minha tia resolve arrumar umas coisas e ficamos só Rafael e eu na sala.

_Sabe eu trouxe mais um presente - Diz ele tirando algo do bolso, vejo que é uma caixinha - Abra!

  Pego a caixinha e abro cuidadosamente. Encontrando um colar dourado com uma palavra escrita Amor.

_É Linda! Muito obrigada Rafa - Digo sorridente e ele se levanta.

_Posso colocar o colar em você? - Diz e eu me levanto. Ele cuidadosamente o coloca no meu pescoço. Vou correndo pro espelho ver, e sorrio. Ficou muito bonito em mim. 

_Nossa... - Digo e abraço Rafael.

_Sabe Manu, tenho uma coisa para te contar.

_Conte, fique a vontade - Digo me sentando novamente, e ele faz o mesmo.

_Já faz tempo que eu gosto de ti, Manu. Você é muito mais que uma amiga, sabe? Eu te considero muito e te amo muito também. Sei que você ainda é apenas uma adolescente e sei que deve estar estranhando isso tudo já que sou bem mais velho. Porém permita-me esperar até que você retribuir meus sentimentos e ter idade suficiente. Ah o que estou falando? Você deve me achar um louco.

_Eu também gosto muito de ti. Não vou dizer que te amo, pois ainda estou confusa com meus sentimentos. Mas permito você esperar, realmente ainda sou muito nova e também quero ter certeza dos meus sentimentos por você - Digo sorrindo e ele imediatamente retribui.