No Complexo $2

Capítulo 19 - Maju Narrando

        Acordei em um lugar escuro, estou toda amarrada. Sinto minha barriga roncar, péssima hora para estar com fome. Tenho algumas lembranças de ontem, tipo que eu estava chegando na boca quando levei uma coronhada na cabeça e desmaiei, lembro também de acordar e ter dois caras conversando, não deu para saber como eles eram, pois estavam vestidos de preto e usavam máscaras, porém eles eram altos e fortes. Também lembro quando o cara tava me empurrando para dentro do carro e eu tentei reagir, mas estava amarrada. Quando entrei no carro, tiraram a fita da minha boca e colocaram um pano, logo eu senti meus olhos pesarem e me entreguei para a escuridão.

_Até que enfim acordou a bela adormecida - Diz um cara acendendo a luz, ele usava uma roupa normal, porém estava com máscara.

_Vai tomar no cu, Bela adormecida? Sério? - Digo irritada.

_Nossa, ela é desaforada... - Diz o cara rindo.

_Ta de zoas com a minha cara?

_Talvez, aqui ó vim trazer uma sopinha para você - Diz colocando uma sopa do meu lado.

_Não sei se você reparou, mas estou com minhas mãos amarradas - Digo com cara de tédio.

_Eu reparei sim - Diz e pega uma algema de sua cintura e prende um dos meu braços em um ferro que tinha do meu lado, logo solta a minha outra mão - Prontinho, pode comer.

  Não falei nada e comecei a comer, cara até que a sopa não é ruim não. Comi tudinho e o cara começou a rir.

_Ta rindo do que, caralho?

_Tava com fome hein, e olha o jeito que fala comigo. Tem sorte que não sou o Rato, porque se fosse ele aqui no meu lugar você já tinha levado um tapa nesse seu belo rostinho - Diz pegando um prato e quando ele estava saindo, o mesmo desliga a luz e vai embora fechando a porta com força.

  Pelo menos eu comi neh, ninguém merece ficar num lugar escuro amarrada e trancada com fome. Como será que ta o pessoal, sem eu por perto? Espero que eles me busquem logo, com certeza vão demorar porque tem toda uma estratégia por trás de uma invasão. O LN quando vai invadir um morro ele demora exatamente 1 semana para descobrir tudo sobre o morro e mais 1 para planejar a invasão. Espero que com a ajuda de Dama eles consigam me resgatar mais rápido.

_Que merda! - Digo, não to aguentando mais. Eu não estou aqui nem 1 dia direito e já to quase morrendo.

  Algumas Horas Depois

  Estou eu aqui deitada no chão gelado com minha mão amarrada pra cima. Ó vida complicada viu? Até que alguém entra e parece ser o mesmo cara de hoje cedo.

_Eai patricinha!

_É o que? Se liga, não sou patricinha e nunca serei. Aqui é favela sempre! - Digo me sentando.

_Saquei - Diz ele ligando a luz.

_Trouxe alguma coisa? To com sede! - Digo emburrada.

_Aqui ó - Diz me entregando uma garrafinha de água - Beba só um pouco, essa garrafinha ai tem que durar pelo menos 3 dias, não posso ficar trazendo coisas para você não.

_Então por que você trouxe?

_Porque eu sou bonzinho, caralho.

_Por quanto tempo vou ficar aqui?

_Não sei não, isso ai é com o Rato e com o Smith, eu sinceramente não sei de nada. Sou apenas um vapor que foi ordenado a vigiar você. Aliás, lembre-se que tem 3 dias para acabar com essa água, eu vou vir aqui no terceiro dia para pegar ela e jogar fora. Eles estão planejando vir te ver no quarto dia e não podem nem sonhar que estou te dando comida e água.

_Valeu viu.

_Por nada.

_Qual o seu nome, ou codinome?

_Me chame de JP - Diz sorrindo - Agora tenho que ir, amanhã eu volto. Vou deixar essa lanterna aqui ligada.

 Diz ele ligando uma lanterna, depois disso ele da um tchauzinho e vai embora apagando a luz do cômodo. Pelo menos agora tenho uma água e uma luz.

_Ai Maju, aonde que você foi se meter... - Digo abrindo a garrafinha e bebendo um pouco da água.

  Queria estar pelo menos com o meu celular, mas pelo visto eles são muito esperto de pegarem o mesmo. Já ouvi falar de casos em que traficantes sequestravam pessoas, mas esqueciam de pegarem o celular da mesma. Resumindo, eles se fudiam por serem burros.

  Véi, o pior é que vou ter que tentar dormir nesse chão gelado da porra, eu já sou difícil para dormir em uma cama normal, imagina nesse chão. Eu demoro a dormir por causa que sou traumatizada com essas coisas de invasões. Quando eu era pequena, quase mataram minha mãe na minha frente, quem não fica traumatizado com isso? Só de pensar em invasão já da vontade de levar minha família para um lugar seguro longe da favela. Eu amo minha favela, claro, mas família vem sempre em segundo lugar, afinal Deus vem em primeiro.