O Beco Diagonal

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 Empacotar todos os seus mais valiosos pertences mostrava-se uma tarefa mais difícil do que o feitiço indetectável de expansão que ela fizera sem o auxílio de uma varinha. Enfiar todas aquelas jóias na bolsa era cansativo. Ela pretendia guardar os bens de sua família nos cofres de Gringotes, não é como se ela pudesse deixar toda aquela riqueza em sua casa, muito menos ainda levá-la para a escola. 

 Quando terminou já estava muito cansada. Foi para o banheiro se preparar para ir ao beco diagonal, Dumbledore havia lhe enviado uma carta avisando que alguém viria buscá-la. 

 O seu olhar era de imensa insatisfação enquanto encarava sua imagem nua no espelho. Sua aparência jovem foi embora e levou junto às curvas de seu corpo. Seus seios não estavam mais ali, ela passou a mão pelos lados de seu corpo e teve vontade de gritar de ódio, foram muitos e muitos anos usando espartilhos apertados, às vezes até mesmo para dormir para alcançar uma cintura perfeita e agora ela tinha ido embora.

— Maldito inferno! Eu pareço uma tábua. 

 Desde muito antes dela nascer os espartilhos estavam presentes na vida das mulheres, sendo elas de qualquer raça ou posição social. Para ela não seria diferente. Assim que completou doze anos teve que começar a usar a peça, naquele tempo ela os odiava, para que serviam? Para que a mulher tivesse um corpo considerado bonito para elas se sentirem bem consigo mesmas ou um corpo considerado atrativo e fonte de desejo e prazer para os homens? 

 A segunda opção claro. O mundo era comandado por homens, afinal. 

 Mas os espartilhos se tornaram úteis para ela no dia em que sua família foi morta. As balas ficaram alojadas nas jóias escondidas em seu espartilho, por conta disso sua vida foi salva. 

 Depois daquilo ela nunca mais deixou de usar. Ela havia mudado. Já não era mais uma moleca rebelde que subia em árvores e corria descalça. Tornou-se razoavelmente bem comportada e elegante, além do mais, ela gostava de ter uma cintura pequena. 

 Apertou seu espartilho com bastante força como estava acostumada, quanto antes tivesse sua silhueta bonita melhor. 

 Não era algo que ela usava para querer chamar atenção, usava porque sentia-se bem e era isso que importava. 

 Quando as fortes batidas foram dadas na porta ela foi atender. Anastasia teve que erguer sua cabeça o máximo possível para poder ver o rosto do grande homem que estava parado em sua porta. 

 Um meio-gigante talvez.

— Você é Anastasia? — Ela assentiu em concordância.

— Muito prazer. Sou Rúbeo Hagrid, guarda-caça e guardião das chaves e terras de Hogwarts.

 Hagrid. O nome ecoou perdidamente em sua cabeça. 

— O professor Dumbledore me enviou para levá-la ao beco diagonal, se você não se opor podemos partir imediatamente.

 Sem contestar ela apenas trancou a porta de sua casa e seguiu Hagrid.

— O caldeirão furado não fica muito longe, nós podemos ir a pé, mas se você quiser ir...

— Sem transportes públicos. — Anastasia detestava ter mais contato humano do que o necessário. — Caminhar faz bem.

— Eu soube que você teve muita relutância em aceitar a sua vaga em Hogwarts, mas você fez muito bem em aceitar, não vai se arrepender. Escute o que eu estou dizendo, não há lugar mais maravilhoso no mundo do que Hogwarts. 

O Mistério de Anastasia Onde histórias criam vida. Descubra agora