O Hipogrifo

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Anastasia não precisou ficar muito tempo na presença de Sibila Trelawney para ter a certeza de que a Professora de Adivinhação era a mulher mais excêntrica e esquisita que ela já teve em sua presença.

— Então vocês optaram por estudar Adivinhação, a mais difícil das artes mágicas. Devo alertá-los logo de início que se não possuírem clarividência, terei muito pouco a ensinar a vocês. Os livros só podem levá-los até certo ponto neste campo...

Anastasia revirou os olhos quando viu a mulher esbarrar desajeitada na mesa a sua frente, murmurou baixinho " Onde eu fui me meter? ".

— Muitos bruxos e bruxas, embora talentosos para ruídos, cheiros e desaparecimentos instantâneos, permanecem, ainda assim, incapazes de penetrar nos mistérios do futuro. É um dom concedido a poucos. Vamos cobrir os métodos básicos de adivinhação este ano. O primeiro trimestre letivo será dedicado à leitura das folhas de chá. No próximo, abordaremos a quiromancia. No segundo trimestre vamos estudar a bola de cristal, isto é, se conseguirmos terminar os presságios do fogo. Infelizmente, as aulas serão perturbadas em fevereiro por uma forte epidemia de gripe. Eu própria vou perder a voz. E, na altura da Páscoa, alguém aqui vai deixar o nosso convívio para sempre.

Com o término da Professora, Anastasia ergueu suas duas sobrancelhas em uma expressão que quase gritava Realmente?

— Agora quero que vocês formem pares. Apanhem um bule de chá na prateleira e tragam-no aqui para eu encher. Depois se sentem e bebam, bebam até restar somente a borra. Sacudam a xícara três vezes com a mão esquerda, depois virem-na, de borda para baixo, no pires, esperem até cair a última gota de chá e entreguem-na ao seu par para ele a ler. Vocês vão interpretar os desenhos formados, comparando-os com os das páginas cinco e seis de Esclarecendo o futuro. Vou andar pela sala para ajudar e ensinar a cada par.

Granger e Anastasia que como de costume desde o primeiro ano sentavam-sem em todas as aulas de todas as matérias juntas, se sentaram em uma das mesinhas e se focaram em examinar as xícaras de maneira muito silenciosa.

— E vocês, minhas queridas, o que veem? — Trelawney perguntou.

— Nada. — Responderam em uníssono. Os lábios de Sibila se comprimiram em uma linha fina, assemelhando-se a Professora Minerva.

— Hã... Eu vejo em você, minha querida, uma das almas mais frias e sofridas que já vi em toda a minha vida. — Dirigiu-se a Anastasia.

— Em alguma coisa você acertou então.

— Eu... Já ouvi muito falar a respeito de vocês duas, Senhoritas Granger e Petrov, sempre as mais inteligentes de suas classes, sempre as mais céticas que apenas acreditam no que veem e eu duvido muito que as duas possuam algum dom para a Adivinhação.

— A senhora está certa. — Respondeu Anastasia.

— Estou? — Arregalou os olhos.

— Eu não acredito nessas coisas de Adivinhação e Destino, considero-as como suposições bastante bobas. — A Professora parecia que tinha levado um tapa devido a sua expressão. — Eu acredito na vontade divina, acredito que o meu Senhor sabe de todas as coisas, que tudo que aconteceu, acontece e acontecerá tem um motivo.

— Seu senhor?

— Eu sou Cristã. Acredito em Deus acima de tudo. — Sibila ficou sem palavras. — Mas eu vou continuar com Adivinhação, quem sabe Deus não me manda um sinal através dessa... borra marrom.

— E você? — A Professora perguntou para a castanha, mas Anastasia se intrometeu.

— Há! A Granger? Ela não acredita porquê ela é aquela típica e insuportável pessoa que só acredita naquilo que vê com seus próprios olhos e que é provado pela ciência. Ela não está aqui nessa aula por interesse ou comodismo, só está aqui porquê quer provar a todos que é boa em tudo, apenas o que ela quer é inflar o próprio ego. Patética, a senhora não acha?

O Mistério de Anastasia Onde histórias criam vida. Descubra agora