O reencontro com um antigo inimigo

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Desde o dia do beijo, ela não falara mais com ele. Em suas aulas, ela o desprezava, quando nem mesmo respondia suas perguntas ou sequer lhe dirigia o olhar. Por conta disso, Severo se sentia terrivelmente culpado. Muitas foram às vezes que ele perdera o sono pensando que a tivesse ofendido, ou pior, a perdido para sempre.

O coração do homem estava apertado, como se estivesse envolto em uma esfera elástica. Tinha muitos pensamentos e sentimentos confusos que pareciam se misturar dentro dele como os ingredientes de suas poções em um caldeirão.

Ele não amava Anastasia. Disso ele tinha certeza.

Ora, ele não poderia. Ela era apenas uma menina

Menina essa que ele viu se transformar de uma criança para uma bela jovem de catorze anos. A mesma jovem que há anos atrás despertou a curiosidade e talvez até mesmo o afeto nele quando não se intimidou e nem recuou em sua primeira aula e em nenhum outro momento, estando diante dele ou não.

Não, ele não a amava. Mas a admirava.

Admirava-a pelo seu jeito, sua inteligência e até mesmo pela sua indiferença.

Severo não poderia amá-la. Não podia amá-la.

Ele já amava outra. Amava Lily. Se bem que nos últimos quatro anos ele deixou de pensar tanto em Lily quanto pensava antes de Anastasia entrar em sua vida.

Mas mesmo assim, mesmo diante de tudo isso ele ainda não sabia porque tinha beijado Anastasia. Ele pensou muitas vezes que agiu por conta do ciúmes ou do sentimento de orgulho, pois Anastasia estava com Harry Potter e ele não queria perder novamente para um Potter.

Mas perder exatamente o quê?

Isso também Severo não sabia responder.

— Senhorita Petrov. — Severo chamou, e observou Anastasia suspirar antes de se virar para ele. — Precisamos conversar.

— Eu e o senhor não temos nada para conversar, por tanto não insista, e me deixe em paz. — e tornou a olhar para a bonita vista do castelo e dos campos deste.

— Eu peço apenas por um minuto.

— Seja breve. — decidiu, após segundos.

— Sobre o beijo. Eu torno a pedir desculpas. Sei que não quer ouvir as minhas desculpas, porque você acha que é você a errada, apesar de eu não conseguir entender o porque. — suspirou. — Sou sincero, senhorita, eu realmente até agora não sei o motivo que me deu para ousar lhe beijar, e sou ainda mais sincero quando digo que estou arrependido e que a toda hora de todos os dias a culpa me assola.

Anastasia bufou enquanto revirava os olhos.

— A culpa não serve de nada, é o sentimento mais inútil de todos. — disse com descaso.

— Mas-

— É perdão o que deseja, não é? Tudo bem, você tem o meu perdão. Agora deixe-me em paz.

— Nada... nada vai voltar a ser como antes entre nós, não é mesmo? Eu lamento por isso... e lamento por tê-la desapontado.

— Desapontado? — arqueou uma sobrancelha.

— Bom, o seu primeiro beijo e-

— Não foi o meu primeiro beijo. — interrompeu.

— Ah, sim, Malfoy.

— Ele também não foi o primeiro a me beijar.

— Ah, entendo. — apesar daquela situação, Severo quase sorriu com aquela informação. — Eu só não queria que a senhorita pensasse que eu sou um aproveita-

— Por favor, não! — ela ergueu a mão, para que ele não concluísse a ofensa que fazia a si mesmo. — Em nenhum momento pensei que o senhor fosse tal tipo de homem desprezível. Nós dois erramos. Nós dois somos seres humanos e somos falhos, mas o importante é que reconhecemos os nossos erros e nos arrependemos. Isso é o que importa. Por favor, nunca torne a pensar tão mal assim de si mesmo

— Agradeço pela sua compreensão.

Anastasia assentiu.

— Realmente tenho o seu perdão?

— Sim, professor, você o tem.

— Então agora eu me despeço com o meu coração mais leve. Adeus, senhorita.

— Adeus, professor.

Era a hora do almoço e como de costume havia muitas conversas paralelas entre os alunos das quatro casas. Tudo estava dentro do normal, a comida estava gostosa, todos estavam rindo e conversando com seus amigos. Mas as coisas saíram do normal quando um grande pássaro negro, um abutre, entrou voando pelas portas do salão. Ele trazia consigo uma caixa que soltou de suas garras e deixou cair na mão de Anastasia que descansava sobre a mesa da Gryffindor.

" Maldito inferno! Pássaro do demônio. O que foi isso " pensou enquanto arrancava sua mão debaixo da caixa vermelha e a massageava para tentar amenizar a dor.

Anastasia ergueu seu olhar para a caixa vermelha , um frio atingiu sua barriga ao ver que no topo havia o brasão de sua família. O brasão dos Romanov.

A loira estendeu seu braço para alcançar uma taça de água e ela mal pode sequer encostá-la na boca quando a taça explodiu, assustando os alunos que estavam sentados perto.

Dos pedaços da taça que restaram em sua mão, uma pequena criatura, ou melhor, um pequeno demônio verde se ergueu, olhando de maneira feia para ela.

— Você sabe onde me encontrar. Eu estou a sua espera. — Anastasia estremeceu por dentro ao escutar aquela voz em um sotaque rude do russo. O demôniozinho deslizou no ar e sumiu tão rápido quanto apareceu.

Diante da atenção de todos, Anastasia se levantou com a caixa vermelha em suas mãos e saiu do salão. Deixando para trás um monte de burburinhos de curiosidade.

Ela incrivelmente conseguiu aparatar naquele lugar horroroso. Ao olhar a sua volta, ela torceu seu nariz em desgosto ao se ver naquele ambiente tenebroso.

Era um lugar bastante escuro e frio que parecia não ter fim. Não havia paredes, mas possuía pilastras feitas de crânios humanos. Ali não tinha sequer um móvel, mas era sujo e com insetos.

Uma figura que pareceu se erguer das sombras se aproximou e Anastasia o encarou com tédio e indiferença quando finalmente pode vê-lo.

Era um homem alto de longos cabelos e barba negra com alguns fios cinzas salpicados, suas vestes eram as mais surradas e sujas, ele estava terrivelmente magro e sua pele parecia que iria esfarelar a qualquer momento.

Ele tinha amarrado na cintura um relicário que brilhava calmamente em luz verde. Os olhos de Anastasia brilharam ao ver aquele objeto.

O homem abriu um sorriso amarelo, cruel e torto quando finalmente parou a frente dela.

— Olá, Anastasia. — a voz dele pingava a prazer e raiva e o tom que ele usou teria sido capaz de fazer qualquer um estremecer de tão gelado que pareceu soar, mas não a ela, pois não tinha medo dele.

— Como tem passado, Grigori Rasputin?

O Mistério de Anastasia Onde histórias criam vida. Descubra agora