Capítulo Dez

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Meio dia e finalmente Jason e Dick estavam sozinhos, Roy -o último a sair.- insistiu que queria ficar mais, não tinha certeza se Jason ficaria bem, mas Dick prometeu que iria cuidar do outro.

Agora os dois estavam largados no sofá em silêncio, Jason ainda estava enrolado na coberta, agora a xícara de chá repousava na mesa de centro, vazia.

A caixa de donuts também estava vazia, no colo de Dick que encarava o teto.

— Minha mãe morreu de overdose, desde que eu consigo lembrar ela se drogava. — Jason disse, a atenção de Richard se voltou para ele. — Eu ainda era uma criança quando isso aconteceu, a padaria que fica embaixo da onde moro, o pessoal de lá me ajudou, não sei se foi compaixão ou eles só não queriam ser culpados pela morte de uma criança, enfim, eles me davam comida e a mulher do senhor que era dono do local cuidava das minhas roupas. Quando fiquei um pouco maior, eu comecei a trabalhar lá, lavava louça, limpava o chão, essas coisas.

— Olha Jason, você não precisa me contar se não quiser. — Dick começou, o olhando, mas Jason negou com a cabeça.

— Eu quero falar, mas não quero que você diga algo. — Jason o olhou pela primeira vez, seus olhos estavam vazios. — Eu estudava em uma escola pública e repeti de ano pelo menos duas vezes, eu não me importava muito com essas coisas de escola. Enfim eu me meti em problemas com uns garotos do terceiro ano, eu tava no sexto, você deve imaginar o quanto eu apanhei.

Um risada baixa saiu dos lábios do garoto, como se agora fosse engraçado o que aconteceu no passado.

— Bem, depois disso eu parei de inventar desculpas para não ir a aula e me dediquei a passar de ano, então a adolescência chegou e meu deus era horrível todo dia uma sensação diferente, e todos pressionando para você sair com alguém. — Jason revirou os olhos enquanto falava. — Bem, eu saí com alguns caras, mas esse não é o ponto. Quando o primeiro ano começou foi terrível, eu achei que ia reprovar mais uma vez, eu tinha amigos mais velhos e.... Bem, eu queria ser legal como eles e eles usavam drogas, das mais leves às mais pesadas. Eu usei também e era legal a sensação.

O mais novo deitou a cabeça no colo do outro que ainda o olhava, tentando entender onde Jason queria chegar com aquela história.

— Não era legal fumar ou injetar algo, não, era legal o fato de que por alguns minutos, segundos ou até horas mesmo, eu saia de mim, entende? Por um tempo eu não era eu e a minha vida não era tão merda. — O menor tampou os próprios olhos, o rosto começou a ficar vermelho. — Eu me afastei do teatro nesse pequeno tempo, até que Roy foi até a padaria um dia, ele estava tão irritado, o pessoal do teatro avisou ele que eu não aparecia lá por quase um mês e eu precisava estar lá.

Um pequena pausa, Jason simplesmente não conseguiu prosseguir sem começar a chorar, Dick arrumou o mais novo em seu colo de modo que a cabeça de Jason estava apoiada em sua clavícula, ele ainda cobria os olhos, Dick encarava a TV quieto.

— Eu não ia ajudar na padaria também. Ele correu, ou não, eu não sei, a única coisa que eu lembro é dele arrombando a porta.... Se ele não tivesse entrado eu teria acabado igual minha mãe.

E Jason chorou por mais alguns minutos, soluçando e com a voz fraca, ele resmungava algumas coisas, porém Dick não entendia nada.

Como o mais novo pediu para ele não falar nada, Richard apenas o abraçou mais forte esperando que o menor terminasse de falar.

— Ele me ajudou, e também desceu a porrada em cada pessoa que me envolveu em tudo isso. — Outra risada baixa veio de Jason, mas logo morreu. — Eu ainda precisava de algo que me fizesse, não ser eu, nem que fosse por um breve momento. Foi quando fiz o papel do rapaz que passou mal e aquilo, poder ser outra pessoa, era tudo que eu queria. O teatro salvou minha vida, embora hoje eu não precise mais querer ser outra pessoa, mas naquela época.... Foi um escape da realidade.

You're the Habit that I Can't Break ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora