º ● Capítulo Bônus● º

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POR ARTHUR PHILLIP 

Era um final de tarde e a brisa calma anunciava o cair da noite. Sentei-me em uma das confortáveis poltronas do mezanino superior do palácio. Minha companhia era um copo cheio e a garrafa de um escocês raro.

Esvaziei o copo e minha mente dos últimos eventos da minha vida. Se eu estava pronto para recomeçar, o passado tinha que ficar no seu devido lugar.

Definitivamente um dos finais de tarde mais lindos que eu já tinha tido a oportunidade de assistir. O céu agora tinha uma tonalidade lilás e outra quase rose. E as sombras escuras das árvores completavam o magnífico quadro. Ali no mezanino eu era somente Arthur Philip, um admirador da obra divina e um pretendente a pedinte de seu auxílio e proteção.

Inclinei a cabeça para febre e fiquei ali, parado, ouvindo os sons ao redor. Passos, burburinhos, portas abrindo e fechando, pessoas, o sussurrar do vento... Meus sentidos experimentando cada ruído que era captado. Eu nunca tinha parado para prestar atenção em nada disso e agora tudo me parecia incrivelmente especial.

Pensei em Celine e em como ela adoraria ficar ali e admirar aquela paisagem também. Em como reagiria a tudo aquilo, sempre com um olhar tímido e seu sorriso de menina inocente e ao mesmo tempo abrasador.

Eu sentia tanta falta dela... Parecia que tínhamos vivido uma vida por mil anos, tamanha era a minha saudade. Se o destino tivesse colaborado com meus planos, agora eu estaria ansioso para vê-la desfilar pelo palácio num vestido belíssimo, enquanto era admirada e venerada por mim.

Santa Celine Verditte, que com seu jeito tímido e poucas palavras havia conseguido mexer tão profundamente comigo. E eu nem notei, quando percebi já estava envolvido. Não era para ser de verdade, era para ser um desvio e não a rota de fuga.

- Arthur?!?

Se eu não estivesse quase bêbado, juraria que tinha ouvido sua voz me chamando.

- Arthur... - seu tom de voz denunciava uma decepção.

Abri os olhos e deparei-me com um par de sapatos femininos e à medida que eu seguia a silhueta para descobrir seu rosto, meu coração acelerava e batia descompassadamente.

- Cel... V-você? Como? - eu queria dizer algo mas as palavras não conseguiram sair em ordem coesa.

Ela sorriu com seus lábios carnudos e olhar complacente, enquanto sentava-se ao meu lado.

- Arthur, você está bebendo. Sabe que não gosto, porque faz isso? - ela tirou o copo das minhas mãos e o colocou numa mesinha a nossa frente

- A bebida é o meu consolo da sua ausência Cel, por onde esteve? - segurei suas mãos

- Procurando por você. - ela me olhou dentro dos olhos

- E eu por você! Achei mesmo que teria que apresentar suar irmã a toda essa gente em seu lugar. Não seria o certo, mas...

- Mas você faria, porque é o Rei. E precisaria explicar a presença de uma plebeia em sua casa.

Ela me espantava com sua sabedoria. Às vezes, era eu quem aprendia com ela, e me admirava com o tanto que eu aprendia com ela.

- Mas agora, eu não preciso mais fazer isso. Você está aqui. - toquei de leve seus lábios com a ponta dos meus dedos. - Você está aqui e agora sim, vamos ser felizes como deveríamos ser desde o princípio.

Ela sorriu e eu me iluminei por dentro. Como era possível que ela tivesse o poder de me modificar tanto? De transformar minha vida, só porque estava ali, sentada no mezanino ao meu lado.

- Arthur, nós vamos ser muito felizes. Vamos ser as pessoas mais felizes desse palácio, desse pais, desse mundo. - ela sorria de maneira tão inocente e tão feliz que me contagiava. E eu sorria também, incapaz de deixá-la sozinha, nem mesmo em sua mais pura expressão de alegria.

- Cel, um dia eu vou contar algo para você, e talvez por isso você ache que eu não te mereço. E você não vai estar errada, porque na verdade, eu não te mereço mesmo. Mas eu preciso que você me faça outra promessa. - segurei seu rosto entre minhas mãos e a acariciei afetuosamente prendendo sua atenção com meus olhos - Prometa que independente do que acontecer, você nunca vai deixar de me amar.

- Eu nunca vou deixar de te amar Arthur.

E capturado pela sinceridade de sua voz, de suas palavras, de seus olhos, eu a beijei. Primeiro lentamente, absorvendo seus lábios e buscando saciar-me da saudade e preencher o vazio que ela havia deixado, quando foi tirada de mim. Pensei tantas vezes nesse momento, que seria um imbecil se não aproveitasse dele como se deve. Nossos lábios se tocavam, mas o significado desse gesto reverberava em nossas almas. Estávamos nos reencontrando, nos reajustando, sintonizando-nos na frequência mágica do nosso sentimento. Ela era a chave para minha liberdade, mas também as grades da minha outra prisão. Ela tinha o poder de controlar minha vida a ponto de me fazer esquecer de tudo, do meu reino, dos meus problemas... Ela, Celine. Minha Celine.

- Eu te amo Cel. Amo aqui, amo em Pandora e vou amar você em qualquer parte do mundo onde você estiver.

Ela sorriu e se levantou apoiando-se no gradil que cercava a sacada.

- Na próxima vez que nos encontrarmos, será para sempre Arthur.

E sumiu de repente, como uma miragem no deserto.

- Majestade? - com um leve sacudir em meus ombros, Ishmael me trouxe de volta à beira da piscina, onde eu tinha me deitado por alguns instantes

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- Majestade? - com um leve sacudir em meus ombros, Ishmael me trouxe de volta à beira da piscina, onde eu tinha me deitado por alguns instantes. Já era noite, eu deveria ter pegado no sono enquanto me perdia em meus pensamentos. Mas a presença dela era tão forte, que me fazia relutar em aceitar que tinha sido apenas um sonho.

- Ishmael, eu preciso que arrume algumas roupas numa mala e coloque no porta-malas do meu carro particular e deixe tudo na garagem para amanhã bem cedo. - falei enquanto aceitava sua mão estendida para ajudar-me a levantar do chão.

- Vai viajar senhor? - o mordomo me olhava com cara de quem queria mais informações.

- Não. Vou ficar no palácio o dia todo, mas não quero ser incomodado, nem pela rainha e nem por ninguém. - olhei para ele, esperando que aquela informação fizesse sentido para ele.

- Tenha toda a certeza de que a rainha não saberá que estará fora Arthie. E seja o que você for buscar, espero sinceramente que encontre.

- Obrigada Ishmael. -apertei seu ombro de leve e deixei a área externa do palácio. Em algumas horas eu precisaria estar pronto para condecorar os heróis da guerra e o traidor do meu irmão.

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