º ● Capitulo 67 ● º

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POR FREDERICH

Olhei em volta, buscando reconhecer o lugar onde havia despertado aquela manhã. Ao meu lado, conhecidos cabelos negros e encaracolados se espalhavam sobre o travesseiro.

"Merda!" 

Sentei-me na cama e localizei minhas roupas espalhadas no chão. Após catá-las, segui para o banheiro e tomei um banho rápido.  Sentia-me tonto e um indisposto, reações fisiológicas naturais de quem passou a noite dividido entre as mais diversas categorias de bebida.

Voltei para o quarto completamente vestido, a procura dos meus sapatos. Finalmente calçado, deixei o apartamento de Cibele, tomando bastante cuidado para não acordá-la. Mas, assim que me sentei ao volante do meu carro, ela surgiu, de repente, apoiando-se na janela.

- Fugindo, mais uma vez, general?

- Cibel... - meu tom de voz era uma mistura de súplica e frustração.

- Frederich, já tem alguns dias que eu ensaio te perguntar uma coisa, mas, você sempre foge de mim. Sei que não gosta de falar sobre assuntos pessoais, mas, quem é Celeste? Ontem e em outras noites em que você esteve comigo, não parou de se dirigir a mim, como se fosse ela. 

- Não é ninguém importante. - respondi colocando a chave na ignição e ligando o automóvel.

- Se não fosse importante, você não estaria usando meu corpo e pensando nela;

- Cibel, por favor. - revirei os olhos - Não é ninguém. Deve ser alguma garota ou alguém que eu ouvi o nome e ficou na minha memória. Sei lá...  

- Ok! - ela se afastou do veículo quando eu soltei o freio de mão - Mas acho que você deveria resolver as coisas com ela. Se é dela que você gosta... Porque não tentar? 

- Cibele, eu já disse que não é ninguém. Porque você simplesmente não aceita minha resposta e para de tentar arrancar algo mais de mim?

Ela continuou parada, no mesmo lugar, enquanto eu manobrava e partia dali. 

Parei o carro no acostamento e subi os poucos degraus que ficavam no início da ponte que ligava as margens do rio Sept. As águas corriam tranquilas, seguindo seu fluxo natural, contrastando comigo e com minha inabilidade diante do prosseguimento da minha vida.

- Eu preciso me libertar de você, Celeste. Seja lá que marca maldita você deixou em mim, vai ser apagada agora e aqui. Eu não preciso me sentir mal por não ter acreditado nos sentimentos que você dizia sentir por mim. Eu não quero me sentir responsável pela tragédia que você mesmo provocou. Não foi por minha causa, não estava em minhas mãos, decidir o que seria feito do seu destino. 

Pela primeira vez, em muitos anos, senti lagrimas escorrendo por meu rosto. Não era tristeza, era dor, raiva, arrependimento e todos os sentimentos negativos que eu guardava dentro de mim. Possivelmente, resquícios de rejeição e frustração também foram adicionados àquelas lágrimas. 

Me permiti sentir e chorar por tudo o que doía e me fazia sofrer. A ordem que foi dada no universo, para que eu nunca superasse o passado e sempre me arrastasse no profundo poço de solidão e mágoas, merecia ver que seu pedido havia sido atendido. Eu não era um homem completo, jamais seria feliz. Sempre haveria um espaço que jamais seria ocupado, um vazio que nunca seria preenchido.

RAINHA CONSORTEOnde histórias criam vida. Descubra agora