Duas semanas depois...
◤POR CELINE◢
Perdi a noção do tempo, deitada sobre o colchão, relembrando os eventos da minha vida até aquele momento. Sobre meu ventre, o porta-retratos resgatado antes da fuga que salvaria minha vida e me colocaria a caminho de uma rota nunca prevista: Concórdia.
O mais espantoso disso tudo, era pensar que o destino talvez estivesse errando em sua escolha. Eu sabia e reconhecia que não tinha capacidade nenhuma para o papel que me aguardava. Se fossem pelas linhas certas, Celeste teria muito mais êxito na função. Eu não estava pronta para viver na linha de frente. Nem sabia que existia vida além das sombras.
Olhei mais uma vez para a foto dos meus pais. Eles sorriam, enquanto nos segurava no colo. Eles pareciam tão felizes. Nós sempre fomos tão felizes, o que mudou? Porque mudou? Não poderia ter sido separação, eu ainda sentia muita falta dos meus pais. Das nossas reuniões em volta da mesa, do café da manhã no domingo, antes de irmos para o parque soltar pipas. Das noites de cantoria, em que Celeste fingia ser uma estrela da música e meu pai a acompanhava no velho violão. Eu e minha mãe éramos as dançarinas e as revezávamos na apresentação do programa. Éramos tão felizes... Até não sermos mais.
Uma tarde e tudo mudou. Minha mãe saiu para fazer compras, e horas depois retornou sendo arrastada pelo braço por meu pai. Xingamentos e palavras ofensivas e agressões físicas, nos fizeram entender que meu pai havia descoberto sua infidelidade. E as coisas fugiriam ainda mais do controle, quando mamãe totalmente descontrolada, confessou que nem sequer éramos filha dele. Vi o mundo do homem que eu mais amava na vida desmoronar. E em seguida, um monstro violento, agressivo, rude e depressivo ser revelado dia após dia. Até o fatídico dia do seu fim.
Contra nós, ele nunca foi capaz de qualquer gesto violento. Era em nossas camas, sobre nossos cobertores, que ele desabafava sua mágoa. As vezes muito bêbado, confessava seu amor por nós e dizia que independentemente de qualquer coisa, ele sempre seria o nosso pai. E nós suas filhas.
Não vi seu corpo, depois que ele cometeu o suicídio. Também não vi o de mamãe. Fomos poupadas pela vizinhança que se aglomerou depois da tragédia, e alguns mais solidários nos acolheram. Por isso, olhar aquele retrato só me trazia a lembrança positiva, os sorrisos e os bons momentos.
Respirei fundo e sentei-me tocando os pés no chão. O destino tinha feito o roteiro e eu, tinha que me preparar para os capítulos que estavam por vir. Naquele dia começariam as minhas aulas e toda a preparação para me tornar a esposa de Arthur. E eu não queria desapontá-lo ou envergonhá-lo quando nos encontrássemos. Portanto, era hora de me preocupar com o futuro.
- Senhorita Verditte? - um soldado apareceu na entrada da tenda - Tem uma ligação na linha segura.
- Ah, sim. Obrigada! Estarei la em um minuto - coloquei-me de pé e guardei o porta-retratos na mala onde guardava os meus pertences.
Caminhei rápida e ansiosa até a tenda onde eram despachadas as ordens e comandos do acampamento. Para meu alivio, o Capitão Emor não estava presente, o que eu agradeci imensamente. Não me sentiria à vontade para conversar com Arthur, se ele estivesse por ali.
Alguém de alta patente ofereceu-me o telefone. Esperei que se retirasse e então posicionei o fone no ouvido.
- Celine. - Falei depois de respirar fundo e controlar meu nervosismo.
Era a primeira vez que ele me ligava desde que havia partido.
- Cel! - ele tinha um entusiasmo diferente na voz - Como você está? Tudo bem por aí?
- Oi Arthur. Tudo bem sim. E com você?
- Não posso dizer que está tudo ótimo, por que você está aí e não aqui. Mas...
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RAINHA CONSORTE
Romans🥈2° Lugar no Concurso "Mystic Queen" do Projeto Místico (Wattpad). "Ela herdará um reino que não era seu. E um amor que lhe será negado." A vida das gêmeas Celine e Celeste está prestes a mudar completamente. Inseparáveis desde a trágica morte de s...