º ● Capitulo 42 ● º

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POR CELESTE

Ao meu lado, Frederich dormia profundamente. E eu, repassava pela terceira vez o exato momento em que tinha posto os olhos nele antes de parar novamente em sua cama. Enrolada no lençol me encolhi até sentir meus joelhos e meus braços ficarem juntos. Fechei os olhos e me fiz a promessa de que nunca mais eu acabaria na cama de Frederich. Eu nunca mais me machucaria daquela maneira. Eu nunca mais me deixaria levar e, mesmo sentindo tanto amor por ele, eu não cederia mais. Eu tinha planos e metas que estavam parados, e que precisavam mais da minha atenção. Eu não precisava ficar arrastando correntes por causa de um relacionamento que nunca existiu e jamais existiria.

"Não é para durar. Então isso acaba aqui."

Levantei-me devagar, recolhi minhas roupas no chão e me dirigi ao banheiro. Depois de me vestir, lavei o rosto e me encarei no espelho. Aquela não era a Celeste que eu gostaria de ver no reflexo. Embora bem vestida, eu aparentava tristeza e desgosto. Nem de longe, eu era a mesma menina de meses atrás. Eu não via o brilho da ambição, da força de vontade, da autoestima. O que eu via era uma menina derrotada, triste e sem perspectiva alguma de vida. A verdadeira Celeste estava morrendo, trancafiada nesse mausoléu de mármore, apática e morna. Sem qualquer sinal de sua constante vitalidade.

Quando saí do banheiro, tencionava deixar o quarto imediatamente, mas Frederich estava de pé encostado na parede, usando apenas a calça do conjunto de dormir e descabelado. Uma imagem de tirar o folego e o foco. Coisas que a muito tempo eu não conseguira controlar, quando ele se aproximava de mim.

- Está tudo bem? - ele me perguntou

- O que você acha? - respondi me encostando também na parede e cruzando os braços.

- Cele, - me surpreendeu ser tratada de maneira tão intima e o tom de voz carinhoso - porque você simplesmente não deixa as coisas serem simples? Porque você sempre encontra uma maneira de complicar e transformar tudo a sua volta numa tempestade?

- A que tempestade você se refere exatamente, Frederich?

- Todas. Você poderia ter aceitado seu destino em Aillim, você estaria muito melhor do que aqui. Você poderia aceitar o destino de sua irmã, ela estaria feliz aqui.

- Está me acusando de mudar o curso da história e ter tornado a vida de todos um inferno?

- Não estou te acusando. - ele virou o rosto para mim - Estou apenas perguntando e ponderando.

- E porque isso agora?

- Porque, houve um momento em que eu achei essa sua tempestade interessante. Houve um momento, em que eu pensei que gostaria de encarar seu caos. Porque, de alguma maneira, eu também era um caos. Achei que nós dois, poderíamos ter seguido em frente. E mesmo que eu lutasse para não achar e não desejar nada disso, você sempre dava um jeito de me fazer querer.

- Mas você me disse que nós não fomos feitos para durar, nas colinas, lembra-se?

- Aquilo foi uma coisa muito diferente. Quando você veio até mim, cantando, eu realmente pensava que não éramos feitos para durar. Até dançar com você e depois fazermos amor e falarmos tão francamente sobre nós. - ele ficou de frente para mim e pôs as mãos nos bolsos da calça - Eu teria ido até Aillim para buscar você. Acho que eu iria. Porque eu tinha criado uma dependência daquele seu caos. Acho que eu não conseguiria viver sem ele.

A pouca luz no quarto transformava aquele momento em uma espécie de confessionário. Ali estávamos de novo, sendo francos e honestos, falando de um relacionamento que já nasceu falido. Sem qualquer expectativa de reconstrução.

RAINHA CONSORTEOnde histórias criam vida. Descubra agora