◤POR CELESTE◢
Na manhã seguinte ao evento no palácio eu ainda estava muito cansada. Aparentemente meu organismo era sensível a bebidas caras, porque eu estava enjoada e o cansaço que me abatia era mais psicológico que corporal. Eu diria que o que me acometia aquela manhã era uma ressaca alcoólica misturada com ressaca moral e ambas tinham me tentando bastante a permanecer na cama. Mas eu precisava me alimentar e, talvez, aproveitar o dia na minha luxuosa prisão.
Arrastei-me até o banheiro e cuidei da minha higiene pessoal. Depois, vesti uma roupa confortável e desci para me juntar aos demais na sala de jantar para o desjejum. Assim que pisei no hall, um funcionário me informou que o café da manhã fora servido na varanda e que apenas a rainha-mãe e princesa de Sosseleine estavam à mesa. Contei mentalmente até dez, soltei uma lufada de ar e me dirigi ao referido local.
- Bom dia! - saudei as duas com toda a má vontade que pude imprimir em minha voz e uma reverência forçada.
- Ora, ora se não é a futura rainha de Concórdia que resolveu se juntar a nós para o desjejum. - Madeleine indicou as provocações - E eu estou realmente muito chateada por ter sido privada de sua voz, já que acabo de descobrir que ela, de fato, fala.
- Como assim, 'ela fala'? - a rainha-mãe olhou para mim e depois para a princesa claramente alheia ao ocorrido na noite anterior.
- Sua Alteza Real tentou puxar assunto comigo ontem, durante o jantar. Receio que o fato de estar muito ocupada, prestando atenção ao que acontecia à minha volta e que, diga-se de passagem, era muito mais interessante, tenha sido interpretado de maneira pessoal pela princesa. - ajeitei o guardanapo sobre o colo e me servi de uma xícara de café - Me lembro muito vagamente o assunto. Se não me engano, algo sobre bons modos à mesa e minhas aptidões como futura esposa do rei.
Meu desprezo por ambas e o meu desgosto por estar compartilhando do desjejum com as duas não foi de maneira alguma disfarçado. Me preparei para os ataques pessoais que viriam a partir dali, ciente de que elas não hesitariam em aproveitar a menor chance que tivessem para me humilhar. Mas, se elas estavam esperando por uma gatinha mansa, era muito bom que estivessem confortavelmente sentadas. Eu não estava de bom humor e elas logo tomariam conhecimento disso.
- Diga-me Celine, como uma plebeia se sente sabendo que se casará com um homem como Arthur? - a ênfase no nome do rei foi o primeiro sinal de que Madeleine usaria de baixeza para me atingir - Não lhe dá medo ou vontade de sair correndo? Afinal, nem toda mulher está preparada para virar rainha da noite para o dia.
"Tolinha"
- Você já teve a chance de ser pedida em casamento por alguém, Alteza? - ela se endireitou na cadeira e olhou para Cordélia - É a mesma sensação. Não acredito que tenha diferença. Ser pedida em casamento é especial e magnifico para qualquer mulher, seja ela plebeia ou nobre. O que diferencia o momento é apenas o status. E, respondendo a sua pergunta, Alteza, eu não tenho medo. E a minha vontade de sair correndo é sempre para os braços de Arthur.
Cortei um pedaço de queijo em meu prato e o levei até a boca, ciente de que cada gesto meu era esmeradamente observado e a ansiedade de que eu cometesse alguma gafe dançava nos olhos das duas.
- Ah, os calores da juventude. - eu já estava intima do tom irônico de Cordélia - Eu tinha quase a sua idade quando me casei com Abner, e curiosamente a mesma ilusão de que todos os dias eu poderia correr para os braços do meu amado e esquecer que existia um reino para ser comandado. - ela tirou a xícara do pires e inclinou-se um pouco para beber um pouco de café - Acontece que meu Arthie não é um homem comum, e essa sua ideia romântica caberia perfeitamente, se ele não fosse um rei.
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RAINHA CONSORTE
Romance🥈2° Lugar no Concurso "Mystic Queen" do Projeto Místico (Wattpad). "Ela herdará um reino que não era seu. E um amor que lhe será negado." A vida das gêmeas Celine e Celeste está prestes a mudar completamente. Inseparáveis desde a trágica morte de s...