Filhos da ordem 1

1.6K 147 33
                                    

ERIKA POV.

Eu olhava minha pequena dormindo aninhanda em meus braços e minha vontade era dizer para Anastasia, que que tudo o que contaram a ela esse tempo todo nunca passou de uma grande mentira! Mas ainda não posso fazer isso. Não até arrancar a verdade dos padrinhos dela! Droga, que momento a senhora escolheu pra revelar essa história, em dona Philia?!  Se a minha pequena já ficou assim só por eu ter perguntado sobre o pai dela, imagine qual será a reação dela quando ela souber que é a mãe quem está viva!

Após afastar esse turbilhão de pensamentos, eu abraçei a mulher da minha vida e me permiti ficar ali apenas admirando-a. Quem vê essa mulher aparentemente tão pequena e frágil, não imagina a grandeza e a força que ela carrega dentro de si. Afaaguei-lhe os cabelos até que logo também dormi, mas durante a madrugada, Ana começou a se contorcer e a gemer, só que seus gemidos não eram de prazer mesmo ela estando em meus braços. Ana me apertava e dizia coisas distorcidas ate que eu a acordei.

- Ana? - eu a chamei algumas vezes até que ela abriu os olhos e me fitou como se não soubesse onde estava ou tampouco quem era eu. Ela piscou algumas vezes como se tivesse recobrando os sentidos. - Ei? Está tudo bem?

- Sim. - ela esfrega os olhos - Foi so um sonho. Uma lembrança de infância, eu acho. - ela respira cansada

- Quer falar sobre esse sonho?

- Não. Só quero que me abrace - ela pede.

- Vem cá. - chamo e ela logo encosta a cabeça em meu peito, e alguns minutos depois sua respiração foi se acalmando. Fiquei tentada a perguntar com o que ela estava sonhando, mas respeitei o silêncio dela. Ficamos assim até que ela mesma resolveu falar.

- Estava sonhando com meus avós - ela diz - Mas isso não foi só um sonho, foi uma... Recordação horrível da minha infância.

- Quer me contar? - pergunto enquanto faço carinho em seu braço.

- Não sei porquê eu tive essa lembrança agora. Já faz muitos anos que não sonho com meus avós. - ela senta na cama abraçando as pernas.

- Falar da sua infância mexe muito com você, não é? - eu me sento ao seu lado me encostando na cabeceira da cama.

- Parece que estou vendo toda a cena como um filme diante de mim. - Ana começa a falar - Meus avós tinham sido expulsos da fazenda e pouco tempo depois descobriram que estavam com a peste. Começamos a passar dificuldades e a viver da ajuda de alguns vizinhos que mal tinham o que comer também. Até hoje nunca entendi porque meus avós foram expulsos da fazenda canavial, mas lembro que no dia em que eu fui pedir comida lá, o dono foi muito rude comigo. Ele me chamou de bastarda e disse que eu não era bem-vinda. E pra piorar a dor da humilhação, aquele homem malvado mandou soltarem os cachorros em mim. Quatro feras enormes! - Ana começa a chorar cobrindo o rosto

- Jesus, Ana! - digo horrorizada puxando ela para mim.

- Eu corri muito até que esbarrei em um homem pelo caminho. Pra minha sorte era meu padrinho. Ele tinha ouvido falar que meus avós estavam doentes por um peão da fazenda Venturini que morava perto da gente na época. Foi a primeira vez que vi seu Agenor e também a primeira vez que soube que tinha padrinhos. Ele me levou pra casa e ficou muito revoltado com a cena dos meus avós infermos na cama. Eu não queria, mas tive que contar o que aconteceu pra eles. Meu padrinho voltou no dia seguinte com remedios e alimento. Ele e dona Amália. Lembro o jeito doce e terno que ele me olhava! Passamos uma semana bem, mas a fome era tanta naquele pedaço que fomos roubados e eu não sabia como ir até meus padrinhos pedir ajuda. - ela diz com dor no peito derramando lágrimas atrás de lágrimas - Meus avós estavam muito fracos, nós éramos muito pobres e na região sequer haviam medicos, Erika! Eu era so uma criança, não sabia o que fazer, minha sorte foi que meu padrinho veio novamente trazer mais remédio e provisões, mas quando ele chegou ja era tarde demais. Eu achava que eles estavam dormindo e por isso não me respondiam... - ela volta a chorar

Finalmente CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora