Capítulo 15

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"A doença do coração mais perigosa:
boa memória"

Nizar Qabbani

Claro que Luke sumiu naquela semana.

Eu não sabia como passar por cima do que tinha acontecido no píer. E, mesmo com os dias passando, a sensação de formigamento onde ele me tocou, o corpo flutuando, a respiração descompassada...tudo ainda estava muito recente.

Eu sabia que a minha imaginação não chegava a um terço da realidade, e a prévia experiência só me deixaria mais vulnerável perto dele. Ao mesmo tempo em que eu ansiava pela adrenalina, eu não queria perder o controle daquela forma.

Isso era química, certo?

Não a química que os casais de filmes campeões de bilheteria têm. Química mesmo. Quando o seu cérebro libera algo que atinge outra coisa e aí você pensa que seu coração tá tendo uma experiência, mas na verdade é só o seu cérebro.

Meu plano era, basicamente, reprogramar a minha reação a ele. É um cara como qualquer outro, certo? Aquele cara insuportável da primeira noite.

Com tanta coisa pra cuidar dentro de mim, eu nunca tive olhos para os garotos do colégio, os caras da faculdade ou qualquer outra pessoa.

Mesmo quando eu estive em uma espécie de relacionamento durante três meses no ensino médio, a única marca relevante que aquele tempo deixou foi a extinção da minha virgindade. Eu era uma garota de dezessete anos, claro que eu queria transar. E quando eu tirasse esse "problema" do meu caminho, poderia focar em todo resto: me manter sã, ser alguém na vida, escrever uma música pro John Mayer e ter um gato chamado Alfredo. Julian serviria ao único propósito de me dar o que eu queria. Se não fosse ele, teria sido outro. E tava ok.

Claro que não saiu como planejado. Eu me apaixonei pelo idiota, ele "fingiu" corresponder por algumas semanas, até que foi movido da lista de soluções para a lista de problemas, mas isso é outra história.

Eu teria que usar o sumiço de Luke ao meu favor.

Se eu olhei notificações de mensagem esperando que fosse ele? Sim, olhei. Era uma reação óbvia. Tínhamos uma rotina, e ela foi interrompida.

Era válida a minha espera pelo som da campainha na madrugada, mas ela não tocou. O telefone também permaneceu em silêncio. A caixa de mensagens não tinha voz alguma.

E tudo bem. A minha vida tinha que continuar.

Sabe aquelas amizades que fazíamos com outras crianças na praia quando éramos pequenos? Por algumas horas, inseparáveis, um dia depois, os nomes são esquecidos, e a lembrança vira uma nota quase inacessível no fundo da mente.

Luke teria que ser um garotinho brincando de castelo de areia comigo. Eu não vi quando ele pegou suas coisas e foi embora, eu estava distraída com qualquer outra coisa no mundo.

...

Em algum momento daquela semana, ele postou uma foto linda no Instagram. Com ela.

Cheguei a me sentir culpada pela aproximação com Luke. Não era do meu feitio fazer qualquer coisa que ferisse outra mulher. Quando eu vi, já estava prestes a acontecer, e eu não sabia como me sentir sobre isso.

O que eu sabia era que ele também sentia culpa, e que queria que tudo voltasse ao normal. Mas o normal era quando a gente não se conhecia e, no fundo, eu queria conhecer Luke.

Queria saber como era o cabelo dele bagunçado pela manhã, e a careta que ele fazia quando escovava os dentes. Queria saber seu sabor de pastilha para a garganta favorito, e também como ele gostava de andar descalço por que isso fazia ele se sentir "conectado" com o mundo.

Eu tentava desconstruir a imagem de rockstar, e desvincular aquele cara das capas de revista do cara que tomava café da manhã com meu pai. A linha era muito tênue porque havia referências de ambos os Lukes em todo canto.

Quando ele cantarolava suas músicas no banho, e o seu sorriso de cansaço nas entrevistas que, em casa, era o sorriso que indicava que era a hora de subir pro quarto.

Em algum momento, quando eu já não esperava mais que Luke aparecesse na minha porta, Calum foi ao estúdio e tivemos a oportunidade de conversar.

Estávamos sentados na escadaria de entrada da JH, quando ele me perguntou:

"Podemos ser honestos?"

Eu tinha uma pista do que viria em seguida, fiquei apreensiva, mas assenti.

"Luke me contou sobre você, quando estávamos bêbados depois de uma apresentação promocional em Glasgow. Aliás, acho que depois da noite da festa, Ash e Michael também sabem".

"Não há o que saber" soltei um riso.

Calum ignorou a minha reação.

"Ele estava... inquieto. No final do dia, ele é só um cara tentando lidar com situações que ele não tem total controle".

"Não se preocupe, a gente não tem se falado" eu respondi.

"Você deveria ligar pra ele. Luke costuma se afastar quando sente que fez algo de errado".

A lembrança daquela noite ainda era muito vívida, e eu tinha dúvidas de que um dia ela perderia a cor.

Eu não liguei.

Lover of Mine | Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora