Capítulo 24

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As noites seguintes foram como tirar férias de mim mesma. O rosto refletido no espelho sujo do pub não era o meu. A maquiagem era de Hannah, o estilo também era ela. A bebida que não saía da minha mão, bem, essa era minha, com certeza.

Fiz de tudo para não ficar desocupada em casa, minha cabeça não podia parar. Eu realmente me senti bem, de alguma forma.

As minhas noites selvagens não duraram muito. Eram uma fase, e eu sabia.

Entre as noites fora, caras nos quais tentei enxergar ele, e bocas que eu nunca poderia comparar, em algum momento, eu cansei de chegar na Jam House de ressaca.

Meu pai me olhava com pena, ele havia visto as notícias espalhadas por todo lado. Eu não aguentava mais aquele olhar.

Dei com a cara no chão? Sim, mas ninguém precisava ficar me lembrando disso.

Se eu conseguia superar minhas crises pós traumáticas, eu conseguia superar qualquer coisa. Precisava apenas virar a chave.

Liguei para minha melhor amiga.

- Hannah, eu preciso cortar meu cabelo hoje!

- Eu não sou cabeleireira...- ela falava arrastando as palavras, afinal, era domingo de manhã.

- Preciso que venha comigo.

- Lana, você acabou de terminar um namoro? Tá agindo como se...- ela se interrompeu, lembrando que eu estava no meu processo de "superação" - Ops, desculpa, desculpa, desculpa! Eu sou uma tapada.

Ouvi o som dela dando com a palma da mão na própria testa.

- Esquece isso, eu só preciso cortar o cabelo. - usei a minha voz menos afetada.

Não gostava de pensar que eu precisava superar ele. Nunca fomos nada.

- Me encontra no Centro na hora do almoço. - pedi e desliguei o telefone, sem chance pra Hannah reclamar.

Naquele dia, eu cortei meu cabelo em camadas. Eu sempre havia tentado manter ele liso, como a minha mãe mantinha o dela. Era uma forma de me forçar a lembrar de seu rosto e, consequentemente, de tudo que eu carregava nas costas.

Mudar o corte do cabelo era um gesto pequeno para o mundo, mas uma experiência nova para mim.

Nem uma semana depois, enquanto eu ainda tentava não sonhar com as mãos de Luke em mim, fui convocada para uma reunião no final do meu expediente.

Eu não sabia do que se tratava, mas Dan tinha voltado ao estúdio especialmente para esse encontro.

Entrei na sala de vidro depois de comer um wrap vegano às pressas. Odiava comer rápido, mas eu não tinha opção, tinha pulado o almoço para ajudar Joshua com uma tarefa nova. Eu e ele sentamos lado a lado, com Dan na ponta da mesa, Chloe e Roy - que eu mal encontrava no estúdio, já que éramos de turnos opostos - do outro lado, e mais dois caras que eu não conhecia no canto da sala.

Antes de começar, Dan elogiou meu cabelo e eu agradeci. Realmente, tinha me caído bem. Quando todos se cumprimentaram, ele começou.

- Não vou fazer mistério, até porque eu estou muito ansioso pra novidade - meu chefe não era de fazer rodeios mesmo. - A notícia é: Chloe e Roy, vocês vão acompanhar o The Vip Viper em turnê, levando o novo estúdio móvel da Jam House!

O casal comemorou como se fosse a oportunidade da vida deles. As garotas do The Vip Viper eram umas fofas e a banda estava preparando algo grande para a tour. Eles foram apresentados à um dos caras que eu não conhecia, mas logo soube que era o diretor de fotografia da banda.

Passada toda explosão de felicidade da dupla, eu queria saber qual seria a minha banda.

Dan, muitíssimo animado, parecia a ponto de soltar fogos.

- E vocês, Julie e Joshua, vão acompanhar...

"Rufem os tambores" ele mesmo disse.

- A 5 Seconds of Summer!

O sangue sumiu do meu rosto e minha pressão arterial oscilou num movimento perigoso.

Bem de longe, eu escutava a empolgação de Joshua e Dan. A minha mente dava voltas em outro lugar.

Fomos apresentados à Andy, que nos acompanharia e faria toda a parte operacional e dividiria os insights criativos comigo e com Joshua.

Merda. Aquilo tava mesmo acontecendo.

Eles falavam e falavam, mas eu realmente não focava nas palavras.

Dan deu os detalhes de como seria o projeto, mas eu não consegui prestar atenção além do fato de que seriam algumas semanas viajando com a banda, e essa duração poderia ser alargada, de acordo com a decisão da gestão da 5SOS.

Eu queria inventar uma desculpa pra não ir, mas nada saía da minha boca. Então eu fiquei lá, assentindo.

Naquela noite, eu já deveria começar a fazer as minhas malas.

Cheguei em casa já com um plano traçado: eu trataria Luke como qualquer um. Sem olhares longos, sem piadas internas ou qualquer interação sugestiva. Eu respeitaria o espaço dele e de Sierra.

Aproveitei minhas últimas noites em casa vendo filme, comendo pipoca e indo dormir cedo, já que meu sono não seria da melhor qualidade na turnê.

Até fiz um planejamento de viagem para conhecer os lugares que iríamos passar. Seriam dois ou três dias em cada local, mas eu daria um jeito. Nunca tinha viajado pra fora do continente, isso me animou.

Horas antes do meu vôo decolar, me encontrei com Joshua em um café no aeroporto e o convenci a não ir encontrar a banda antes que fosse necessário.

Pro meu azar, o tempo correu. Foi tão rápido que, quando vi Luke, parecia que nem um minuto tinha se passado.

Tudo tinha mudado, mas ele ainda era o mesmo.

A regata preta e a jaqueta jeans eram peças que eu conhecia. Os cachos quase se desmanchando pelo comprimento do cabelo, os anéis reluzindo. Era todo ele.

Luke se aproximou, sem poder fugir.

Surpreendentemente, a imagem dele não me fez mal, até me deu coragem.

- Hey, Hemmings - cumprimentei primeiro, desafiando-o.

Ele se inclinou para me saudar com um pequeno abraço, que eu aceitei.

- Hey Lana. - ele disse mais próximo do meu ouvido, e lá estava o arrepio que o grave da voz dele sempre me causava.

Senti sua mão tocar de leve nas minhas costas e toquei no braço dele por puro reflexo.

Ele estremeceu um pouco e eu pensei ter ouvido algum barulho saindo de sua boca, mas não tive chance de me alongar nisso, já que Michael apareceu com Crystal.

Abracei a garota de cabelo rosa e ela me apertou forte. Tínhamos mantido contato, mas apenas virtualmente. Ela sempre foi gentil de não comentar sobre Luke, afinal, sabia o que se passava, mesmo sem eu precisar contar.

Depois de abraçar Mike, subimos para o portão de embarque e descobri o que não queria. O meu assento era no lugar mais perigoso de toda a aeronave: ao lado de Luke.

Lidei com essa informação durante alguns minutos, fingindo estar ocupada no telefone, enquanto o loiro olhava para o pátio do aeroporto.

Comecei a ficar apreensiva conforme a fila de embarque se formou. O ar condicionado pareceu gelar quando entreguei meu passaporte, olhando mais uma vez o assento.

Dentro do avião, avistei o par de poltronas e sentei no lado da janela, já com meu humor alterado, sabendo que aquele era o lugar dele.

Já que o cosmos me faria passar quase dez horas ao lado dele, eu merecia a janela.

Foda-se, Luke Hemmings.

Lover of Mine | Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora