Merda.O que eu teria feito no lugar dele?
Um mal entendido ridículo, um ato tão sem importância mas com um peso tão grande na minha consciência.
Um deslize bobo, inocente, tão raso quanto qualquer ação rotineira. Uma gota insignificante que mexeu com toda a corrente do mar.
Eu me sentia tão estúpida que sequer corri atrás dele. Qualquer coisa que eu dissesse soaria como uma desculpa esfarrapada. Passei e repassei na minha mente várias vezes o que ele tinha visto, e só havia uma interpretação possível.
Eu não era aquela pessoa, eu não traía a confiança dos outros.
Se eu estivesse do lugar de Luke, eu não ia querer uma explicação, eu ia querer distância.
Por esse motivo, não disparei atrás quando ele saiu silencioso do quarto. Tudo em mim implorava para que eu corresse até ele com meu coração na mão, pedindo desculpas.
- Eu não ia querer olhar na sua cara, Jules. Você vacilou demais. Demais. - Hannah estava séria do outro lado da linha.
Esse foi o único impulso que não controlei. Precisava ouvir a voz da minha amiga.
- O quê eu faço? - soltei frustrada.
Odiava pedir esse tipo de orientação, mas eu não encontrava a saída sozinha.
- Vocês tem que conversar, mas não agora.
- Quan...
- Você vai saber quando - ela me interrompeu.
- Não, eu não vou! - disparei de volta.
Meu humor estava alterado, eu precisava descontar em algo ou alguém. Hannah me perdoaria por isso, ela me conhecia.
- Sim, você vai. Vocês fingem que não sabem o que o outro sente, mas vocês sabem!
Ela tinha esse lado de deixar o destino agir enquanto eu era mais do time que acreditava em escolhas.
- Se for pra ser será? - disse o mantra de Hannah em voz alta.
- Se for pra ser será. - ela confirmou.
Respirei fundo.
- E se não for?
- Então não vai ser, e está tudo bem.
Se não fosse para ser, estaria tudo bem, certo?
Eu sabia ser resiliente com a maioria das coisas na minha vida. O movimento e a mudança me atraiam, mas haviam coisas às quais eu precisava me apegar. Luke estava quase nessa lista, e isso me apavorava.
Não se apegue, Jules. Não se apegue mais ainda.
A situação era frágil desde o início, não ia se tornar forte de uma hora pra outra.
Depois de Amsterdam, a curta turnê faria uma pausa de um mês até avançarmos para os shows de fechamento, em Los Angeles, onde a banda permaneceria até o lançamento do novo álbum. Período esse que tinha uma duração indefinida.
Segundo o planejamento da Jam House, eu e Josh voltaríamos à Sydney depois do último show, afinal, não estávamos envolvidos na produção do álbum.
Peguei o calendário para contar os dias, e torci para que houvesse uma brecha pra conversar com Luke antes que meu tempo acabasse.
Um mês seria suficiente? E depois?
Calum me apoiou na decisão cautelosa e me certificou de que Luke estava normal com ele. Eu estava aliviada de não ser motivo de tensão entre dois amigos, mas fiquei surpresa quando o moreno me contou que aquela não era a primeira vez que isso acontecia. Segundo ele, a situação já tinha sido inversa. Eu quis saber mais, mas Calum não quis me contar.
"Quem sabe um dia" ele disse. Eu ainda cobraria essa história.
Sentei no meu quarto, com minhas malas já feitas, pronta para deixar a Holanda pra trás. O dia parecia se arrastar melancólico e a paisagem só me dava ânsia.
Histórias ruins podem estragar cenários bons.
O mundo inteiro era cinza naquele dia, o que dizia bastante sobre o roteiro que eu estava vivendo.
- Ele já foi - a voz suave tentou me consolar. Ela falava de Luke.
Crystal estava na porta do meu quarto, segurando sua mala rosa bebê. Pelo olhar dela, eu soube que ela já sabia de tudo.
- Pra onde? - não estava surpresa, Luke não tinha motivos para ficar.
- Pra casa. Los Angeles.
Não reagi à informação.
- Confesso que eu imaginei que isso poderia acontecer - ela continuou, levantando as sobrancelhas bem feitas em uma expressão de cautela.
- O quê? - não tinha noção do que ela estava falando.
- Você e Calum. Ele gosta de você.
Ri dela.
Calum afim de mim? Hahaha. Engraçado.
- Isso é coisa da sua cabeça - minha voz não tinha ânimo.
Ela negou.
- Eu sei do que estou falando - ela me lançou um olhar de sabedoria e isso me incomodou.
Crystal saiu sem dizer mais nada. Isso do Calum não poderia ser verdade. Eu não deixaria esse rumor rondar a minha cabeça.
Eu estava exausta de tanta viagem e o episódio todo só serviu pra me fazer sentir falta de casa. Mesmo na pausa de um mês, eu não poderia voltar à Sydney, tinha que ficar perto da banda de alguma forma.
A iniciativa de Luke de ir para L.A arrastou os outros três para a mesma cidade e, consequentemente, eu teria que seguí-los. Era a minha chance de desfazer o mal entendido, mas como eu ia apagar a cena da mente dele?
Eu precisava, ao menos, tentar. E com a ajuda de Calum.
Me arrastei até o aeroporto no pior dos humores, me sentindo uma tremenda filha da puta. Hood sentou no assento ao meu lado no vôo.
Eu achei que teria ânimo para conversar com ele, mas simplesmente nos afundamos em um silêncio neutro durante as longas horas de viagem.
Doía em mim, doía nele, mas doía muito mais em Luke, sabíamos bem.
Meu sono ia e vinha, mas ainda estávamos no ar. Cada minuto ali dentro me cansava mais ainda, até a ansiedade de correr até Hemmings cessou.
- Eu sou um estúpido - a voz rouca e cansada de Calum me alcançou.
Virei a cabeça na sua direção com a certeza de que minhas olheiras estavam em seu pior dia.
- A culpa não é só sua.
- Eu nunca quis magoar nenhum de vocês dois - o olhar dele foi para a escotilha aberta.
- Nem eu - lamentei.
Segurei a mão do meu amigo, tentando confortá-lo.
Algum tempo depois, o avião pousou na Califórnia. Eu sabia que devia ficar empolgada por finalmente conhecer a América, mas eu não conseguia. Precisava saber se Luke estava bem.
Tirei o celular do modo avião quando a porta foi aberta e as fileiras começaram a se esvaziar. O aparelho vibrou algumas vezes com mensagens que eu havia perdido durante o vôo.
Dei um sobressalto quando vi que havia uma dele.
Entre alívio e nervosismo, abri a notificação.
"Mudei a passagem que tinha te dado de presente. Agora você vai poder trocá-la para qualquer outro destino. Aproveite."
Qualquer outro destino.
Menos o dele.
Não. Eu não ia deixar ele dar a última palavra.
Se eu deixasse ele me afastar assim, eu perderia a minha chance de tentar me desculpar em um momento apropriado.
Foda-se o tempo, eu tinha que agir.
Virei para Calum e pedi o endereço antes de mandar a resposta para Luke.
"Estou chegando".
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Lover of Mine | Luke Hemmings
FanfictionUm acidente premeditado é uma execução? Eu deixei que ele me usasse desde o dia em que nos conhecemos. Fui um colo para descansar, um segredo pra manter... uma história pra contar. E nunca poderia ser mais. Luke Hemmings foi a minha maior adrenalin...