Capítulo 25

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Já era madrugada no vôo, eu ainda não tinha trocado uma palavra sequer com Luke, que ouvia música de olhos fechados enquanto eu lia um livro.

As luzes da cabine estavam baixas e o silêncio era quase total.

Eu estava começando a ficar impaciente, já que nem a história que eu lia, nem os filmes do catálogo da companhia pareciam merecer minha atenção.

Queria mesmo era conversar com ele. Conversar de verdade. Sem meias palavras, tão diretamente quanto quando ele disse que não queria que eu fosse pra cama sozinha.

Sozinha, não. Sem ele.

Claro que eu não poderia ter esse tipo de conversa com ele mais. O que eu queria era só saber o que se passou na cabeça dele durante os últimos meses.

Naquele vem e vai infinito, nunca dissemos exatamente o que queríamos.

Estiquei um dedo e cutuquei o ombro de Luke, que tomou um pequeno susto. Nem eu nem ele esperávamos que qualquer um fosse falar qualquer coisa.

Ele me olhou tirando os fones, examinando a minha expressão.

- Me conte uma verdade. - pedi.

- O quê?

- Me fale qualquer coisa inteira sobre você, sobre mim, ou sei lá. Alguma coisa que eu não precise pensar ou reinterpretar. Alguma coisa que seja verdade. - me certifiquei de estar olhando nos olhos dele ao explicar.

Vamos lá, Luke Hemmings, me dê qualquer coisa.

Ele olhou pra baixo e pensou por longos segundos.

- Por favor, sem filtros. Não meça as palavras - pedi novamente.

Ele, que antes tinha assumido uma postura tensa, voltou a se recostar no assento.

Seus olhos passearam pela escotilha aberta e depois repousaram em mim.

Eu cheguei a duvidar se ele ia realmente me falar qualquer coisa.

- Durante a última turnê, eu não parava de falar sobre você. - ele respirou fundo - Não conseguia te tirar da cabeça, e ficava arrumando motivo para contar à qualquer um sobre como você é quando tá com sono, como demora a escolher o sabor da pizza ou qualquer outra besteira que soasse insignificante pros outros, mas importante pra mim.

Eu não sabia bem o que comentar, então Luke tomou a liberdade de continuar.

- Eu ficava ansioso pra te mandar mensagem. Você não tem noção da quantidade de palavras que eu escrevi, mas nunca enviei. Eu não tinha o direito de te dizer o que eu queria, afinal, eu sempre soube que estava errado em toda a situação, mas não conseguia evitar. Tentei não aparecer tanto na sua casa, mas a quantidade de vezes que eu aparecia lá não era nem um terço das vezes que eu me impedia de ir. A chave já estava na ignição e eu morrendo de vontade de te ver, tomava toda a minha força não ligar o carro. Eu quase fiquei louco quando você sumiu e Hannah disse que eu não deveria aparecer na sua casa porque você estava mal e a minha presença não ajudaria.

Conforme o ouvia, sentia meu corpo ficando mais leve. Quando eu achava que já tinha ouvido tudo, ele continuava.

Eu via ali algumas das palavras que o vi engolir antes.

- A última vez que estive lá, foi pra me despedir somente, mas eu nunca consigo me segurar perto de você, e não consegui lidar com a culpa de estar fazendo algo tão errado com vocês duas. - Luke desviou o olhar pra cima, ele estava falando de mim e dela - Toda vez que eu vou dormir, você está lá. Eu não consigo esquecer do seu rosto, do seu som, de você me querendo. Eu devia ter te beijado quando as coisas ainda não eram tão complicadas. O meu arrependimento é maior que a culpa.

Naquele milésimo, senti raiva de Luke. Raiva por não ter sido claro quando eu precisei que ele fosse. Raiva porque eu também queria ter beijado ele.

- Você é um idiota. - eu sussurrei lutando contra o que tava sentindo.

Ele apenas assentiu, ainda com o rosto virado pra mim.

Encostei a minha bochecha no pequeno travesseiro de bordo e apertei os olhos.

- E você? - Luke perguntou.

Hesitei por um segundo, mas devia isso a ele também. Mesmo que fosse o mínimo.

O que ele queria saber? Tudo? Bem, não havia tanto tempo sobrando assim no mundo.

Contei a ele a versão reduzida.

- Eu torci pra você ficar. - estiquei minha mão e pousei na dele.

O silêncio que se estendeu por alguns segundos buscava todos os significados da minha frase.

- Até a manhã seguinte? - ele perguntou.

Balancei a cabeça.

- Até que eu esquecesse o que era tempo.

Luke fez um carinho na minha mão.

Nos encontramos nas nossas vontades, nossos arrependimentos. Poderia bem ser uma trégua. Um ponto final. Eu só estava cansada de esperar por algo que não poderia ter.

Ele beijou a minha mão e a encostou em sua bochecha, fechando os olhos.

Ficamos de mão dadas, recuperando a paz entre nós, aliviados de termos finalmente falado algo, mesmo que não fosse tudo.

Daquela pouca distância, meu corpo reagiu ao cheiro dele. Eu não me impedi de fechar os olhos e inspirar profundamente, afinal, cada momento daquele poderia ser o último.

Haveria um dia em que Luke sairia pela porta e aí seria tarde demais para tudo.

Coloquei um dos lados do meu fone no ouvido dele, que aceitou sem pestanejar.

Não lembro quanto tempo levou até adormecermos mas, quando aconteceu, tocava Happiness is a Butterfly, e parecia muito com o que eu imaginava ser a entrada do paraíso.

Sonhei com a noite em que nos conhecemos.

Tínhamos nos dado bem de cara e, no pequeno trajeto de carro até a praia, Luke cantou junto de uma de suas músicas que tocava no rádio.

Ele me contou a história por trás da música e como foi o processo de composição, enquanto tomava um milk shake de chocolate e ria do quão dramático ele era ao compor.

"Soa perfeito pra mim" eu o elogiei no sonho, e aí ele me beijou.

E não, não foi qualquer beijo.

Os lábios dele se encaixavam tão bem nos meus que eu tive certeza de que não havia nada mais no mundo pra mim. Eu tinha nascido para aquele exato momento.

Quando acordei, meus dedos estavam entrelaçados nos de Luke, mas a dormência nos meus lábios era apenas obra da minha imaginação.

Nos soltei antes que ele acordasse.

Lover of Mine | Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora