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Stelany

As vezes, desejava que minha vida fosse outra. Todo mundo deseja ter uma vida diferente da que tem, e não estou sendo ingrata e nem egoísta por não gostar da vida que tenho. A vida aqui no Brasil não é das melhores e nem das piores, é como em todo o lugar do mundo, só que, não temos a mesma sorte que os outros. Eu nem sou brasileira, nem meus pais são brasileiros. Minha mãe é angolana e se casou com um Libanês que a levou para o Brasil, São Paulo em busca de oportunidades e sucesso, depois de eu ter nascido e com doze anos.

Meus pais tinham muitas expectativas, o desejo de uma vida melhor. Meu pai, Jamal Khalil, era comerciante Libanês e Brasileiro, de produtos alimentares, tinha uma loja em Luanda. O negócio estava indo bem, até que o irmão dele, Samir Khalil o aconselhou tentar fazer a vida em outro país onde as oportunidades eram maiores. Acreditamos que sim, a mãe concordou seguir o meu pai.

Samir é cinco anos mais velho que o meu pai. São irmãos de mães diferentes. A mãe de Samir morreu quando tinha quatro anos. Ela era de Líbano também. O pai dele se casou novamente com uma brasileira e dessa relação veio o meu pai. Samir nunca gostou da madrasta e sempre foi claro quanto não gostar tanto do meu pai, apenas o cuida porque o pai lhe fez prometer cuidar do irmão antes de morrer.

Eu tinha uma vida simples. Tinha amigos na escola e a vida no meu país era simples, e sempre achei fosse a melhor quando fui embora para o Brasil. Eu gostava muito de nunca ter mudado para outro país. O bairro onde morava, pessoas era queridas e bem receptivas. O nível de bandidagem lá, era precário e se ouvia pouquíssimos casos de roubo ou assassinato.

Nunca gostei muito do tio Samir, ele nunca gostou da minha mãe também, nem de mim. Sempre ouvia escondido ele falar com o meu pai que não devia se envolver com pessoas que não são do seu povo, e quando a mãe engravidou, não aceitava de jeito nenhum que eu seja sobrinha dele. Ele sempre foi um homem ruim. E não era comerciante, ele tinha mais dinheiro que o pai.

A mãe contou uma vez, que foi o tio Samir que emprestou dinheiro ao pai, para sair do país natal dele e que fizesse um negócio. O pai também não sabe de onde vem o dinheiro do irmão. Se sabe, nunca contou a mãe e eu não fiquei a saber nunca.

Meu pai, morreu seis meses depois que imigramos para o Brasil, na época, tinha apenas doze anos, prestes a completar os treze anos. Eu já estava me familiarizando com o povo Paulista, já tinha amigos na escola que frequentava.

Estava começando amar o Brasil e o povo era tão alegres e me receberam de abraços abertos, até o dia que o meu pai foi morto com três tiros quando deixava a sua loja as oito da noite, como era de hábito para poder jantar com a gente. Meu pai sempre foi um homem gentil, um grande pai e um marido bom para a minha mãe.

Naquele dia, quando chegava da escola a uma da tarde, fazia os meus deveres todos e ajudava a mãe cuidar dos deveres domésticos. O jantar sempre ficava pronto antes das oito. Tinhamos um relógio na parede na sala e sempre controlava a hora para quando o pai chegava. Quando passou mais de vinte minutos das oito, achamos estranho a demora do pai.

Quando deu nove da noite, um vizinho bateu a nossa porta com a notícia que nunca pensei que iria ouvir na vida. Meu pai foi assassinado com um tiro certeiro na cabeça e dois no peito. Não levaram nada dentro da loja, o que a perícia concluiu que foi ajuste de contas, que resultou num homicídio. A minha mãe, Melinda Khalil ficou devastada porque meu pai não deixou uma casa, morávamos de arrendamento, e este só estava pago por um ano como estava no contrato.

Eu fiquei sem reagir por dois dias. Não sabia o que fazer sem o meu pai. Sempre foi ele a cuidar de tudo, e estávamos sem ele. Nunca mais veríamos ele. E a polícia não chegou a achar os culpados. Todos estavam bem equipados, com um único objectivo, matar o meu pai.

HOPE - No Meio Da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora