POV Rafa
Soso estava em meu colo desde que eu havia chegado. Minha mãe estava cozinhando minha comida preferida, galinhada, algo que tinha meses que eu não comia, o cheiro que se espalhava pela casa me lembrava infância. E eu sabia que minha sobrinha iria associar esse cheiro ao mesmo que eu associava: Casa.
Meu pai e minha madrasta não haviam chegado, e mesmo com toda a familiaridade do ambiente em que eu me encontrava, a espera pela chegada deles estava me deixando cada vez mais nervosa. Tato estava na sala com minha cunhada, ele não tinha demonstrado nenhuma tensão a respeito de como nosso pai tinha reagido a notícia, só um pouco de preocupação com a intensidade em que eu estava me entregando aos meus sentimentos.
Eu entendia a preocupação do meu irmão, eu sempre fui assim, sempre demorei a assumir alguém, mas quando assumia, me jogava de cabeça e, como ele falava, o impacto é maior por causa do tamanho da minha cabeça. Em vários momentos da minha vida era ele que me fazia colocar o pé no freio e repensar sobre meus relacionamentos. Sem falar no colo que sempre era oferecido quando eu quebrava a cara. Mas dessa vez eu acreditava que era mesmo verdadeiro, nada me fazia crer que eu seria magoada, tinha algo de diferente no meu relacionamento com Gizelly e eu ia me apegar a isso com todas as minhas forças.
Se eu não tinha sentido tensão em Tato, com minha mãe, ela transbordava. Dona Gege estava preocupada, tentava a todo custo disfarçar, mas estava palpável. Enquanto eu brincava com Soso, meus olhos encontravam os de minha mãe vez ou outra e podia ter qualquer coisa neles, menos tranquilidade.
- Fala logo, mãe. O que cê tem? – Eu já estava impaciente e o silêncio estava me sufocando.
- Tenha paciência com seu pai quando ele chegar. – Ela começou a falar, mas quando eu ia tentar descobrir qual tinha sido a reação dele quando ela conversou com ele a Soso pulou do meu colo e correu em direção a sala porque o vovô tinha chegado. Meu corpo todo enrijeceu quando nossos olhos se cruzaram, tinha recriminação nele, e ali, eu me sentia uma criança com dez anos, prestes a tomar a maior bronca da minha vida.
Mirian chegou ao lado dele e pegou a Soso de seu colo, segurando em sua mão em seguida, fazendo com que ele a olhasse e no olhar dela também tinha recriminação, mas esse não era direcionado a mim e sim a ele, que respirou fundo e voltou-se novamente pra mim. Dessa vez ele se aproximou de mim e me abraçou. O abraço foi acolhedor e mais demorado que o normal, enquanto estava em seus braços fiz uma nota mental: Agradecer a Mirian por isso. Eu entendi porque Tato não estava tenso, ele sabia que as mulheres da vida do meu pai não deixariam que ele se comportasse como um velho retrógrado e preconceituoso.
O almoço foi tranquilo e os assuntos não passavam de amenidades. Soso não desgrudava de mim e pediu para que eu desse seu almoço, coisa que eu estava fazendo sem reclamar. Eu amava aquela criança e ficar com ela era a coisa mais gostosa de se estar em casa. Sentia os olhos do meu pai sobre nós o tempo inteiro. E quando o silêncio que se fez enquanto observavam a minha interação com Sofia pareceu o incomodar, ele disparou sem filtrar o que ia falar.
- Então, você nunca vai conseguir me dá um neto. – Ele foi ríspido, até um pouco grosso e eu senti a decepção em sua voz.
- Sebastião! – O alerta veio da minha mãe e de Mirian ao mesmo tempo, as duas o olhavam de cara feia.
- O quê? Os iguais não reproduzem. Ou a biologia mudou as regras? – Ele estava irritado com o jeito que chamaram sua atenção e não me poupou a grosseria.
- Não, pai, a biologia continua a mesma. Mas existem outras formas de eu ser mãe. – Tentei ser o mais paciente possível. – Eu posso adotar, ter uma gravidez in vitro e Gizelly também pode. Somos duas mulheres adultas e saudáveis, quando e se nós quisermos ter uma criança em nossas vidas, poderemos ter, o fato de sermos iguais não é uma barreira pra isso. – Ele pareceu encolher na cadeira quando me viu falar tão segura sobre o assunto que ele havia abordado. Eu confesso que fui mais ríspida do que gostaria, mas ele pareceu envergonhado depois do meu discurso e eu não me arrependi da maneira com falei.
O silêncio voltou a se fazer presente até que Tato começou a falar sobre o carro que meu pai tinha comprado. O novo assunto fez com que eles se empolgassem e se dirigindo a mim, meu pai perguntou se eu queria dá uma volta no carro novinho dele. Eu aceitei com um sorriso pequeno em meus lábios e olhei pra Tato de lado, agradecendo por isso. Combinamos de ir olhar o carro depois do almoço e dá uma volta pela chácara com ele. Não tivemos mais constrangimentos durante o almoço.
Depois de almoçar, ficamos na varanda, descansando um pouco, conversando sobre bobagens enquanto eu brincava com os cachorros e com Soso. O carro estava estacionado em frente a casa, ele tinha comprado uma Fiat Toro branca e ele estava orgulhoso da nova aquisição. Me chamou pra dá uma olhada e me jogou a chave, que eu peguei no ar e corri pra porta do motorista. Ele entrou no carro assim que dei a partida, eu adorava dirigir, principalmente na chácara, era tranquilo e silencioso, totalmente diferente de quando eu dirigia em São Paulo. Mas o silêncio que se fazia dentro do carro estava me incomodando.
- Pai, ainda sou eu. Sempre foi eu. – Eu falei baixo, esperando que ele me ouvisse mesmo assim, porque eu não queria repetir aquilo, era doloroso ter que provar que minha essência não havia mudado só por ter descoberto algo sobre mim que estava guardado por medo.
- Eu sei. Me desculpa, eu fui estupido no almoço e a Mirian me fez perceber isso depois quando quase arrancou minha orelha. – Eu sorri e ele me devolveu o sorriso um pouco sem graça.
- Me lembre de agradecer a ela por isso. – Ele me olhou ainda com o sorriso nos lábios.
- Você tem mães incríveis, temos que concordar com isso. – Vi um pouco de vergonha em seu rosto assim que ele terminou de falar. – Ainda bem, porque seu pai é um desastre pra entender essas coisas de vocês jovens. Não é fácil, filha, você é minha princesinha.
- Mas eu não mudei pai, ainda sou a mesma de sempre, então ainda sou a sua princesinha e vai ser assim pra sempre, isso não muda. Amar outra mulher não muda a nossa relação. – Pela primeira vez eu estava admitindo que amava Gizelly, isso me deu um frio na barriga.
Parei o carro antes de fazer a volta pra casa e virei em sua direção, vi as lágrimas que tinham se formado em seus olhos e não pude conter as que estava segurando desde que essa conversa começou. Ele me puxou para um abraço e dessa vez o aperto foi mais forte.
- Desculpa seu pai, meu amor. Tenha paciência comigo, eu prometo tentar te respeitar. – Aquelas palavras me deixaram aliviada e eu relaxei finalmente durante aquele dia. Ele limpou as lágrimas quando se desfez do abraço. – Vamos pra casa, sua mãe deve está esperando ansiosa pra saber como foi a conversa. E dona Gege deve ter um cozumel pronto esperando por você. – Ele conhecia bem minha mãe, porque era verdade, cheguei e ela me entregou a bebida e assim que teve uma chance, me fez contar como tinha sido a conversa.
Oi, bebês.
Tinha esquecido de att pq tava jogando among us. Mas veio aí, desculpa a véia esquecida aqui. KkkkkkEspero que tenham gostado.
Me dá estrelinha e comenta aí pra eu ficar feliz. 😌
Beijo, beijo.
TT: @umamabs
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Puzzle - GiRafa
FanfictionGosto de pensar que nossa vida é um grande quebra cabeça, formado por vários outros pequenos - trabalho, família, amigos, amor - e eles são cheios de pecinhas, cada uma com um formato e tamanho diferente, que com o passar do tempo vão se encaixando...