POV Gizelly
Eu sinto muito, eu nunca quis te magoar. Mas eu sinto que tudo que tivemos até aqui foi uma mentira, não da sua parte, eu sei que você tem sido sincera. Mas eu não, eu estou me escondendo de algo maior e eu não posso fugir disso. As vezes penso nas pessoas como abismos, nós decidimos se chegamos perto o bastante ou não. E no abismo que sou, eu prefiro te afastar, não quero que descubra o quão obscura eu posso ser. Quero que entenda e não me procure. Seja feliz, Rafa.
As lágrimas em meus olhos não me deixavam ler pela terceira, quarta, quinta vez, eu não sabia ao certo, tinha perdido a conta de quantas vezes tinha lido para acreditar no que estava escrito. Eu precisava acreditar, precisava que aquilo fosse verdade, mesmo que não fosse, mesmo que tudo que eu havia escritor fosse mentira. Eu precisava que ela se afastasse e precisava que ela acreditasse que tudo não passava de promessas que eu não estava disposta a cumprir.
POV Rafaella
Eu li, mas não acreditei no que estava lendo. Meu corpo parou de me obedecer e eu só conseguia ouvir vozes distante, minha mãe me chamava ao longe e eu estava me esforçando pra tentar entender o que ela estava falando.
- Rafinha, minha filha, o que você tem? - Eu estava pálida e tinha sentado no sofá com o celular em mãos, certeza de que se tivesse continuado em pé, teria caído. - Rafa? Rafaella? - Só a pronúncia do meu nome sem ser em forma de apelidos me fizeram despertar e responder.
- Oi, mãe. Não foi nada, eu estou bem. Mas preciso voltar pra São Paulo. - Falei sem pensar duas vezes e me levantando.
- Mas, Rafa, você chegou ontem. Porque você já vai embora. A Gizelly não vem? - Meu corpo inteiro travou só em ouvir o nome. Eu precisa saber o que tinha acontecido, eu não podia deixar as coisas terminarem assim, não por mensagem de texto.
- Não, mãe, ela não vem. Mas eu preciso ir. – Não sei se fui ríspida, se no meu consciente eu estava liberada pra ser grossa em momentos como esse. Não sei, eu só sei que fazia muitos anos que eu vinha me protegendo de algo assim e não sabia como me comportar, nem se era certo o jeito que eu estava me comportando. Só sabia que não conseguia controlar. Única coisa que eu ainda controlava era o choro que estava engasgado, porque eu não podia, porque eu não tinha tempo pra chorar.
Em poucos minutos eu tinha uma mala de mão e uma bolsa pequena com meus documentos e no celular já estava comprando a primeira passagem pra São Paulo. Mesmo com todas as tentativas, eu não dei nenhuma explicação pra minha família, eu não podia dizer que tudo que eu tinha revelado pra eles durante esse dia, era uma mentira. Antes de entrar no Uber, me despedi da minha mãe sem falar uma palavra, seu olhar estava cheio de interrogações e no meu não haviam respostas. Assim como ela, eu não sabia o que estava acontecendo, mas eu precisava descobrir.
...
POV Manu
Precisei trabalhar o dia inteiro e esperava que Gizelly tivesse ficado bem durante esse tempo que ficou sozinha. Assim que me liberaram no estúdio, vim correndo ficar com ela de novo. Tinha autorização com o porteiro pra subir quando eu quisesse. E eu estava lá, entrando sem ser avisada e sem que ela atendesse a porta, porque a tonta da minha amiga não tinha trancado a porta, mas essa bronca teria que ficar pra outra hora, porque fui pro quarto quando não a encontrei na sala ou cozinha, e nada me faria fazer um sermão sobre portas abertas com ela no estado em que eu a encontrei.
- O houve, Titchela? – Me aproximei devagar da cama quando a vi deitada toda encolhida. Eu nunca tinha presenciado um momento em que ela estivesse tão frágil. Nunca pensei que iria ver a mulher forte, que defende tudo que acredita, assim. Me sentei ao seu lado na cama e tirei uma mecha de cabelo do seu rosto. Seus olhos denunciavam o quanto ela havia chorado e só com a minha pergunta, seus olhos marejaram mais uma vez.
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Puzzle - GiRafa
FanfictionGosto de pensar que nossa vida é um grande quebra cabeça, formado por vários outros pequenos - trabalho, família, amigos, amor - e eles são cheios de pecinhas, cada uma com um formato e tamanho diferente, que com o passar do tempo vão se encaixando...