XIX - Ginu II

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POV Manu

Eu não tinha largado a sua mão, e no mesmo momento em que eu estava preocupada, eu estava muito eufórica. Gizelly tinha se tornado uma das minhas melhores amigas e eu não tinha medo de dizer isso: Em poucos meses ela tinha se tornado uma das pessoas em que eu confiaria minha vida. Ela é amiga, é leal, é cúmplice, a pessoa mais humana que eu já conheci na minha vida, ela é humilde, é louca, dona de si, é um mulherão da porra, uma grande gostosa, e ela sabe disso, é a melhor advogada que eu pude ter na minha equipe. Ela é intensa, e é quase impossível disfarçar isso, ela demonstra e quando não pode demonstrar, ela transborda, é puro sentimento, é carinho, afeto, empatia. Nada do que ela faz é pouco. Ela não sabe ser pouco, ela não sabe gostar pouco, falar pouco, acolher pouco, amar pouco. Nada nela é calmo, seus sentimentos não são calmos, seu gostar não é calmo, seu carinho não é calmo, seu amor não é calmo. Calmaria não é Gizelly Bicalho. Nada de brisa leve, ela é um furacão.

E minha mão estava na dela desde que saímos do seu apartamento, eu não larguei a sua mão, e não largaria nunca. O laboratório era perto, então fomos andando, a passos lentos, de mãos dadas. Eu não sabia o que estava passando pela cabeça dela, mas sabia que estava preocupada e eu só queria colocar minha amiga no colo e cuidar. Cuidar pra ela saber que não estaria sozinha, cuidar pra que ela e agora a sementinha, que tudo indicava estar dentro dela, ficassem bem.

Eu a vi fechar os olhos e se encolher ao ver a agulha penetrar o seu braço pra colher o sangue do exame, ela estava mais calma agora, mas não conseguiu não demonstrar o medo que sentiu quando viu a agulha, e minha mão, que ainda estava na dela foi apertada.

- Tá tudo bem, Titchela. Já acabou. – Eu falei, e só então ela abriu os olhos e viu um curativo de bichinho que a enfermeira colocou falando que era pra passar o medo. Mas acho que ela só percebeu depois.

- Que fofo, eu ganhei um curativo de Leão, eu sou uma Leoa. – Ela falou e acessou alguma lembrança que a fez sorrir, mas logo em seguida a deixou triste e eu não entendi muito bem o que estava passando pela cabeça dela.

Na recepção, descobrimos que o exame ficaria pronto em menos tempo do que imaginávamos. Uma hora foi o prazo que nos deram, tinha uma sorveteria bem perto do laboratório e ficamos lá esperando pelo resultado, enquanto conversávamos. Pedimos sorvete e ela se animou um pouco porque tinha sorvete de tapioca e era o seu preferido. O meu era de morango e quando eu cheguei na mesa com nossos sorvetes, ela roubou um pouco do meu e misturou no dela.

- Eiiiii. – Reclamei assim que vi sua colher dentro do meu sorvete. – Porque você não pediu de morango pra você?

- Porque eu gosto de roubar o seu. E não briga comigo, que eu tô precisando de cuidado. – Ela fez um bico fofo e eu não pude não rir.

- Sorte sua que eu sou uma boa amiga, senão ia ficar sem esse sorvete todo aí. Porque eu ia roupa só pelo atrevimento de pegar o meu sem pedir. – Ela me mostrou a língua, fazendo uma careta.

Nossa conversa passou por vários assuntos e por alguns minutos consegui fazer ela esquecer que estava surtando. No fundo eu também estava, mas alguém precisava manter a calma pra não perder o controle da situação. Ela precisava de suporte e era isso que eu ia ser, se ela precisava se apoiar em alguém, eu seria essa pessoa.

- As pessoas deviam ser mais Manu Gavassi. – Não sei muito bem de onde veio essa frase, mas eu interpretei como um agradecimento por ter desmarcado toda minha agenda do dia pra ficar com ela. Meu sorriso ao ouvir aquilo se alargou e ela viu que eu entendi, mas mesmo assim continuou. – Você é incrível, bebê. Obrigada por estar comigo. No fundo eu sei o resultado do exame, mas tenho certeza que não ia conseguir confirmar isso sozinha.

Nós já tínhamos pego o resultado, estávamos entrando em seu apartamento e quando sentamos no sofá pela segunda vez nesse dia, foi pra saber se eu seria mesmo madrinha de um bebê cabeçudinho e de olhos castanhos. Suas mãos foram até seu ventre quando eu abri o envelope, prevendo o que estava escrito. Sim, ela estava grávida, demorei um pouco a entender o que estava escrito, precisei pegar meu celular e fazer uma pesquisa rápida o que a deixou mais nervosa.

- Sangue, fogo e labareda. O que eu vou fazer da minha vida agora?? – Ela começou a andar de um lado pro outro, estava hiperventilando, parecia prestes a ter uma crise de ansiedade. Seus olhos estavam maiores e quando levantei em um salto e peguei suas mãos, notei também o quanto estavam frias.

- Hoje você vai parar de pensar nisso, ou pelo menos tentar. – A fiz olhar pra mim ao chamar sua atenção. – Pelo seu bem e pelo bem do toquinho de gente que tá crescendo aí dentro. – Pareceu fazer efeito porque ela acalmou um pouco a respiração e me abraçou.

- Como eu vou contar pra Rafa? – Sua voz tava chorosa mais uma vez e o medo era algo evidente, medo da reação ou talvez do peso que isso traria pro relacionamento delas? Eu não sei, mas sei que ela só devia contar, o resto ia se ajeitar.

- Vai da tudo certo, Gi. A Rafa é louca por crianças. – Eu dei a certeza, porque sabia dos sentimentos da minha amiga em relação a ela. E sim, a Rafa era louca por crianças e eu sabia que um dia ela vai querer ter filhos.

– Eu não posso jogar algo assim em cima dela, não posso pedir pra ela ficar comigo sendo que a minha vida vai mudar completamente, não posso mudar ainda mais a vida dela. Não assim, não a esse ponto.

- Ei, pare de pensar nisso. Nem pense em se precipitar. Vamos pro quarto, você precisa descansar. Manhã muito turbulenta e esse furacão precisa se acalmar. – Eu me referia aos sentimentos e a ela também, afinal, ela era mesmo um furacão.

Ela deitou e me fez deitar com ela, passamos o resto do dia assim, entre cochilos, comendo algumas besteiras, cafunés, alguns episódios de Friends, porque nada de pesado seria visto na tv hoje. De tenso já basta a vida, o resto devia ser leve.









Só pra comemorar o surto mesmo.

Votem e comentem.

Beijo. 😘

TT: @umamabs

Puzzle - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora