I - João Pessoa

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POV RAFAELLA

Tudo pode ser, só basta acreditar...

Sim, eu estou citando Lua de Cristal, afinal de contas quem não tem um sonho que parece impossível? Porém no fim não tem isso de só basta acreditar. Se você não correr atrás do que quer as coisas não acontecem, mesmo que antes venham várias decepções e frustrações, seja consigo, ou com expectativas criadas em cima de ilusões a respeito da vida, do mundo, e, principalmente, das outras pessoas. E mesmo assim, como diz a letra da música temos que tentar fazer o melhor sempre.

No âmbito profissional, tenho quase certeza de que meu quebra cabeça está bem formado e com todas peças chegando no tamanho e formato correto. Alguns projetos bem consolidados, outros em andamento que me fazem crer que estou no caminho certo quanto a gestão da minha vida profissional. Comecei na internet muito cedo, no começo era apenas um passatempo, mas tudo foi tomando forma e proporções que eu não esperava a princípio. E mesmo com a inexperiência da idade e os percalços que a exposição trouxe, esse lado da minha vida foi bem administrado e com muito trabalho e persistência, consegui fazer o meu melhor.

Tenho uma família enorme, que me apoia em tudo desde sempre. Na fase atual em que me encontro, não sei o que seria de mim sem eles. E um quebra cabeça paralelo ao familiar, está o dos amigos, que também encontro todo o apoio necessário para seguir com meus projetos e com meus planos, sejam profissionais, ou pessoais. No fundo eu queria conseguir me apoiar em uma pecinha, pequena no tamanho, porém enorme no seu significado em minha vida, afinal, ela estava presente desde sempre em meus dias, tanto que perdi a conta dos anos que nos conhecemos e que somos amigas. Eu simplesmente havia sumido, sem deixar explicação, não sei se por dois dias ou dois meses, só havia saído.

Eu só saí. E no meu celular já tinha sinais do desespero da minha família, assessoria e amigos, que já haviam ligado, mandado mensagens e eu só decidi ignorar todas ela até o exato momento, exceto a de uma certa baixinha que parecia muito brava na última mensagem que me mandou.

Rafaella Freitas Ferreira de Castro, se você não me atender, ou responder as minhas mensagens, eu vou até a polícia com a sua mãe pra te dar como desaparecida e acredite, eu vou ficar muito brava por ter que fazer isso e descobrir que você está bem e só não quis falar comigo.

Ela usou o nome completo, precisava chamar minha atenção, estava realmente preocupada por eu ter sumido dois dias e não ter falado com ninguém. Então, antes que ela cumprisse a promessa, decidi ceder e fazer a ligação para o número que já me socorreu tantas vezes em diversos momentos da minha vida. Não precisava ir na agenda, ou de discagem rápida, o número dela estava gravado na minha memória, pois era sempre o primeiro a ser discado, seja para contar as alegrias, seja para chorar as tristezas.

Ligação On

- Eu juro que se você não estivesse viva, eu iria te matar. - Ela mal esperou o segundo toque para atender. Dava pra sentir na voz a preocupação que estava presa dentro daquele pequeno ser humano.

- Manoela, me desculpe, eu precisava de um tempo. Eu preciso de um tempo, na verdade. - Falei de um jeito calmo, esperando que assim ela também ficasse mais calma e tentasse entender.

- Você poderia tirar esse tempo de várias formas, Rafaella, e a menos viável é sumir e deixar todo mundo preocupado assim. - Ela estava irritada e não fez questão de esconder isso. Mas além da preocupação e irritação, tinha compreensão na sua voz. Talvez ela seja a única pessoa capaz de compreender. - Onde você está? Nós vamos te buscar e você vai ter esse tempo aqui, perto da sua família e dos seus amigos.

- Eu não posso voltar agora, se você quiser saber onde eu estou e vim até aqui eu posso te dizer. Mas não vou pra casa agora, eu preciso respirar, Manu. E você sabe que não consigo fazer isso com minha família por perto, sempre tem um momento em que eu quero contar e não consigo. Devia ser fácil, mas não é. - Eu só falei rápido, sem pausa e escutei ela respirar fundo do outro lado da linha. - Quer vim até aqui e me fazer companhia?

- Só me diz onde você está. Eu vou conversar com a Marcella pra ela falar que tá tudo bem pra sua mãe e seu irmão. E vou onde você estiver. - Dessa vez a voz estava mais calma. Ela sabia, ela entendia.

- Te mando tudo por mensagem.

- Tá bom.

- Manu

- Oi

- Desculpe.

- Está tudo bem, cabeção, nós só estávamos preocupados. Sumir por dois dias sem notícia nenhuma não é algo que você faça sempre, né? Ficamos assustados. - Dessa vez não tinha irritação na voz dela, só alívio, o que me fez crer que eu não iria levar uma bronca tão grande quando ela chegasse.

- Te amo, amiga.

- Também te amo, Rafa.

Ligação Off

Eu estava na varanda do hotel quando desliguei a chamada, e o vento leve e agradável não demonstrava o calor que fazia durante o dia no lugar onde eu estava. Precisava ir para onde ninguém me procurasse e na hora que o aperto no meu peito surgiu, e a ideia de me distanciar de tudo veio junto, eu escolhi a capital paraibana. Comprei a primeira passagem, coloquei algumas coisas em uma mala pequena e saí. Saí da minha casa, saí da cidade onde eu morava e vim parar em João Pessoa.

Eu queria fugir da realidade. Tudo estava bem com meu trabalho, eu não tinha compromissos importantes para as próximas semanas, poderia me dar esses dias pra acalmar a minha cabeça, que encontrava-se a mil por hora. E se eu podia fazer isso por mim, que fosse em um lugar maravilhoso. O litoral nordestino sempre foi um dos lugares que eu queria passar um tempo. Conhecer o litoral pessoense e de quebra colocar minha cabeça no lugar, era o que eu mais queria no momento.

Não fazia planos de ter companhia nesse processo, mas já que Manu estava tão preocupada e disposta a me encontrar, por que não? Estaria em uma companhia que não exigiria respostas, que só queria estar perto pra se certificar que eu estava bem. E seria uma das minhas companhias preferidas no mundo todo. Sem ver grande problema, mandei mensagem explicando onde estava, mas no fim pedi para que não falasse pra ninguém, esse foi meu único pedido. Que ela atendeu prontamente, só deixando todos tranquilos com a informação de que eu estava bem. Agora era só aguardar a pequena grande mulher chegar pra ajudar a montar as peças que estavam completamente bagunçadas na minha cabeça e no meu peito.

Puzzle - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora