ღ CAPÍTULO 33 ღ

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Beatriz

      MEUS OLHOS SE PRENDEM ALI. Sinto minha respiração mudar, acelerando rapidamente, por um ínfimo instante é como se tudo ao meu redor perde-se a cor e desaparecesse do meu campo de visão. A sala de minha casa, as minhas amigas... Tudo. Menos o maldito nome que pulsa na tela do aparelho. Me chamando para cair na tentação. Querendo me levar novamente ao inferno de olhos azuis e jaqueta de couro.

      — Bea? — Ouço Cathy me chamar.

      — Droga. — Sam pronuncia. Provavelmente ao seguir na direção que meus olhos vão. — Hey, Bea?

      Desperto quando mãos agarram meu rosto, fazendo-me os encarar lindos cachos negros do cabelo de Samantha.

      O que acabou de acontecer comigo!?

      Como um simples nome pode ter me abalado tanto?

      — Está tudo bem? — Pergunta preocupada.

      O que eu poderia lhe dizer? Acabo de agir como se o próprio Jason estivesse plantado em cima da mesinha de centro com a sua tão companheira serra elétrica pronto para me estraçalhar? Mas é apenas Dante!?

       Isso é extremamente insano!

       Não... É muito pior que isso.

      É como se parte de mim só tivesse sentido esse baque por já ter ansiado isso muito antes. Posso ver meu corpo travando uma luta interna onde o irracionalmente emocional é quem está ganhando.

      A ligação se encerra tão rápido quanto começou e em instantes meu celular se apaga. Ouço apenas quando ele vibra indicando novas mensagens chegando.

      — É a primeira vez que ele liga? — Cathy pergunta ainda encarando o aparelho.

      Confirmo com a cabeça. Depois de ter negado o "amor" de Dante e recebido em troca àquelas palavras, pensei que ligar seria a primeira atitude que ele tomaria, esperei pacientemente e houve dias em que eu mesma ansiei por fazer algo para findar todo esse tormento que me cerca.

     — Quer que eu olhe? — Samantha se oferece.

      — Obrigada, Sam. Mas... — Perco a voz quando algo invisível para qualquer par de olhos me atinge no peito. — Acredito que sou eu quem precise lidar com essas consequências.

      Vejo ambas se entreolharem e Cathy já tomando a mão da irmã pronuncia que precisa ajudar minha mãe a não deixar que os meninos coloquem fogo no gramado. Quando finalmente ouço o ranger da porta da cozinha ao se fechar solto a respiração que nem sabia estar prendendo.

      Minhas mãos tremem ao ver as mensagens do causador de minha ruína me aguardando para serem desvendadas.

      Preciso desvendá-la, Cline...

      Escuto a voz rouca de Dante repetir as mesmas palavras que disse entre àquelas quatro paredes, elas reverberam por minha mente me seduzindo a pular no abismo. Mas acontece que já estou lá e temo não querer mais sair.

      DANTE: Oi, Cline. Eu errei, eu sei. Mas gostaria de compartilhar isso.

      Rolo para baixo e vejo uma foto. Não sei o que ela poderia significar, ainda mais tendo o que tem nela.

      Observo atentamente os cabelos loiros arruivados preso em várias tranças que descem até a altura dos pequenos ombros da garota. Os olhos de um tom caramelizado estão iluminados, o me que leva a pensar que o momento capturado pela foto era de diversão. O famoso sorriso de orelha á orelha evidenciam isso. De fato, a foto irradia um sentimento prazeroso de completa felicidade, da mais genuína e pura que existe.

      Mas, qual o motivo que o levou a me enviar isto?

      Respondendo as minhas perguntas uma nova mensagem caí. Com um susto quase deixo o aparelho escapar de minhas mãos. Se me dissessem que Dante, apesar de distante, tenha ouvido os meus pensamentos, eu concordaria sem hesitar.

      DANTE: Você também já se perguntou sobre o motivo da prisão dele ter sido tão rápida? É claro, minha mãe ajudou muito. Mas ainda sim, foi rápido demais, não acha?

      As cenas de meu pai sendo preso passam rapidamente por meus olhos. Um frio nauseante sobe pela minha espinha. No entanto, me nego a deixar que ele me domine novamente. Me atento ao uso da palavra "dele" no lugar do título que um dia ele possuía e isso me faz ver que Dante pensou bem antes de ter a coragem de escrever qualquer bobeira ou que simplesmente se importa comigo.

      Uma outra mensagem preenche a tela. Desta vez uma mais impactante do que já poderia ter imaginado. Releio várias vezes.

      DANTE: Está é Ady. Ela mora em La Pine no Oregon. Até poucos dias atrás sua família se limitava a ela, a mãe e o padrasto. Para todos que você perguntasse, eles eram uma família feliz. Mas o nome do homem que a tratava como uma filha, é Bernardo... Lembra do que me disse após contar a sua história? O que mais temia que estivesse acontecendo? Cline, está mesma garotinha sorridente da foto, era visitada por um monstro durante quase todas as noites.

      DANTE: Não me culpe por ter feito o que fiz. Se fiz algo, foi no intuito de lhe ajudar. Mas agora sei que os efeitos em você não foram os que eu esperava. Só que eu ainda te agradeço. Se não fosse por você, Ady jamais teria tido coragem de contar a mãe o quanto sofria nas garras daquele que devia ter o papel de pai em sua vida. Cline, você foi a heroína dela.

      Sabe aquele momento pasmo da sua vida onde tudo o que resta em seu corpo é uma casca vazia? Sem reações? Sem vida? E sem alma?

      Ao terminar de ler as palavras digitadas por Dante, apenas rolei para cima e abri a foto novamente. Ady, a garotinha de trancinhas no cabelo e sorriso no rosto... Só ela para saber de todas as dores nas quais foi obrigada a passar. Só ela para enxergar a dimensão da ferida que aquilo causou em seu ser. E só ela para testemunhar o que os atos de um homem atroz e repulsivo acarretaram para a sua vida.

      E sou como ela.

      E ela é como eu.

      Cathy é como nós.

      E nós somos como muitas outras garotas ao redor deste mundo repleto de humanos sem humanidade.

      A verdade é que agora já não sinto mais medo daquele monstro responsável por ter rasurado a minha história.

      Tudo o que sinto neste momento, é raiva.

      Raiva por saber que meu pai, o homem que jurou amores por minha mãe e depois a traiu, o mesmo que se casou de novo e formou uma família, não se arrependeu do que fez a mim. Muito pelo contrário, apenas foi o vilão na história de outra garota.

      A prisão é pouco para um homem que merecia a morte.

      Dante jamais me fez mal algum. Sem ele Ady jamais teria sido livre. Jamais teria os seus piores pesadelos cortados pela raiz. Jamais veria a felicidade voltar para a sua vida, lhe dando a oportunidade de viver outros momentos que irradiam sentimentos bons em seu coração como no da foto.

      Talvez seja eu quem tenha compreendido tudo errado.

      Talvez seja eu que não tenha enxergado a verdade estampada em meu coração.

      Dante nos salvou!

       Salvou aquela garotinha.

      Salvou o meu coração.

      E merece mais do que o título de herói.

      Dante merece...

      Todo o meu amor. 

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora