Beatriz
AS IMAGENS NÃO ME CAUSAM DOR. Pelo contrário, elas trazem consigo a angústia de tudo o que eu fui obrigada a viver no passado. Cada linha distorcida da minha história que havia sido encoberta por uma fina camada da tinta branca de um corretivo barato. O meu erro está aí! Ao simplesmente me enganar pensando que ele apagaria algum trecho imundo já escrito, quando o seu dever na verdade, é apenas encobrir as verdades cravadas no papel.
A mão de Sam pousa em minhas pernas cruzadas sobre o estofado macio do sofá, um gesto já tão comum vindo de sua parte toda vez que ela deseja me transmitir força e dessa vez, eu estou realmente precisando dela.
O trabalho da Sra. Hawthorne teve o seu consentimento para dar os devidos prosseguimentos para o caso, minha mãe jamais negaria a justiça, principalmente quando se trata da própria filha. Tudo acabou explodindo rápido demais, eficiente demais. Não que eu não desejasse que o homem que um dia chamei de pai e que se tornara um monstro para mim, tivesse o que merecia pela dor que me causou. Porém, eu nunca vou estar preparada para isso, jamais pensei que veria o que o noticiário da cidade hoje está a mostrar.
"Antigo morador local é preso por abuso infantil."
As palavras da manchete se destacam na linha vermelha enquanto as imagens se repetem na tela do televisor. Um homem de pele dourada com cabelos e barba castanhos como os meus sendo algemado por um policial e encaminhado para dentro de uma viatura. Apesar do brilho ofuscante das luzes azul e vermelha refletindo em seu semblante, que acaba me impedindo de identificar com exatidão a sua expressão, posso ver que o arrependimento não se faz presente em traço algum e isso me assombra mais do que eu poderia ter imaginado.
Meu pai...
O monstro que ainda me causa tremores.
— Já vimos o suficiente. — Sam diz com a voz firme desligando o aparelho.
Fito a tela colorida desvanecer e cair na escuridão.
Assim como eu...
— Os meninos... — Começo e Sam me interrompe.
— Não viram nada. — Esclarece. — Sua mãe está lá em cima com eles. Acho que tentando encontrar uma maneira de falar com eles. — Samantha se levanta chacoalhando todos os cachos negros de seu cabelo. — Bea... — Diz pegando as minhas mãos. — Eles nem o conhece! Tenho certeza que não vão dar a mínima para isso. Eles ficarão apenas preocupados com a querida irmã mais velha deles. Bom, é o que eu faria. Agora vamos?
—Vamos aonde, Sam? — Questiono cansada.
— Oras, ao cinema! Aproveitar esse domingo lindo. — Abre os braços gesticulando me fazendo rir. — Ahh para, Bea! Eu a encorajo quando me vem com o papo de querer ser escritora e você nem retribui?
— Chama aquilo de encorajar? — Digo brincando e ela cruza os braços. Ergo as mãos rendida. — Okay, Samantha Manson. Eu nem havia dito nada.
— Ainda... — Sam me completa. — Agora vamos.
Levanto, me permitindo acompanhar minha melhor amiga com a esperança de também relaxar e quem sabe esquecer tudo o que está a acontecer.
Às vezes gostaria que a minha vida fosse um filme ruim e que ela não demorasse a acabar...
É claro que eu não consegui alcançar o meu êxito. Nem o melhor filme de comédia teria conseguido me tirar das águas em que me encontro. Minha cabeça está avolumada de pensamentos dissonantes que parecem encontrar apenas um caminho.
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AMORES ETERNOS - A História de Dante e Beatriz
Romance"Nota mental: O amor nos faz sofrer. O amor nos faz cair. O amor não existe para mim." Beatriz Cline não acredita no amor. Mas, e você? Você acredita no amor? Beatriz Cline não acredita no amor. Os motivos que a levaram banir esse sentimento de sua...