ღ CAPÍTULO 29 ღ

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Beatriz


      AS IMAGENS NÃO ME CAUSAM DOR. Pelo contrário, elas trazem consigo a angústia de tudo o que eu fui obrigada a viver no passado. Cada linha distorcida da minha história que havia sido encoberta por uma fina camada da tinta branca de um corretivo barato. O meu erro está aí! Ao simplesmente me enganar pensando que ele apagaria algum trecho imundo já escrito, quando o seu dever na verdade, é apenas encobrir as verdades cravadas no papel.

      A mão de Sam pousa em minhas pernas cruzadas sobre o estofado macio do sofá, um gesto já tão comum vindo de sua parte toda vez que ela deseja me transmitir força e dessa vez, eu estou realmente precisando dela.

      O trabalho da Sra. Hawthorne teve o seu consentimento para dar os devidos prosseguimentos para o caso, minha mãe jamais negaria a justiça, principalmente quando se trata da própria filha. Tudo acabou explodindo rápido demais, eficiente demais. Não que eu não desejasse que o homem que um dia chamei de pai e que se tornara um monstro para mim, tivesse o que merecia pela dor que me causou. Porém, eu nunca vou estar preparada para isso, jamais pensei que veria o que o noticiário da cidade hoje está a mostrar.

      "Antigo morador local é preso por abuso infantil."

      As palavras da manchete se destacam na linha vermelha enquanto as imagens se repetem na tela do televisor. Um homem de pele dourada com cabelos e barba castanhos como os meus sendo algemado por um policial e encaminhado para dentro de uma viatura. Apesar do brilho ofuscante das luzes azul e vermelha refletindo em seu semblante, que acaba me impedindo de identificar com exatidão a sua expressão, posso ver que o arrependimento não se faz presente em traço algum e isso me assombra mais do que eu poderia ter imaginado.

      Meu pai...

       O monstro que ainda me causa tremores.

      — Já vimos o suficiente. — Sam diz com a voz firme desligando o aparelho.

      Fito a tela colorida desvanecer e cair na escuridão.

      Assim como eu...

      — Os meninos... — Começo e Sam me interrompe.

      — Não viram nada. — Esclarece. — Sua mãe está lá em cima com eles. Acho que tentando encontrar uma maneira de falar com eles. — Samantha se levanta chacoalhando todos os cachos negros de seu cabelo. — Bea... — Diz pegando as minhas mãos. — Eles nem o conhece! Tenho certeza que não vão dar a mínima para isso. Eles ficarão apenas preocupados com a querida irmã mais velha deles. Bom, é o que eu faria. Agora vamos?

      —Vamos aonde, Sam? — Questiono cansada.

      — Oras, ao cinema! Aproveitar esse domingo lindo. — Abre os braços gesticulando me fazendo rir. — Ahh para, Bea! Eu a encorajo quando me vem com o papo de querer ser escritora e você nem retribui?

      — Chama aquilo de encorajar? — Digo brincando e ela cruza os braços. Ergo as mãos rendida. — Okay, Samantha Manson. Eu nem havia dito nada.

      — Ainda... — Sam me completa. — Agora vamos.

      Levanto, me permitindo acompanhar minha melhor amiga com a esperança de também relaxar e quem sabe esquecer tudo o que está a acontecer.

      Às vezes gostaria que a minha vida fosse um filme ruim e que ela não demorasse a acabar...

      É claro que eu não consegui alcançar o meu êxito. Nem o melhor filme de comédia teria conseguido me tirar das águas em que me encontro. Minha cabeça está avolumada de pensamentos dissonantes que parecem encontrar apenas um caminho.

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora