ღ CAPÍTULO 10 ღ

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Beatriz


      DANTE SABE DIZER A VERDADE. Pelas poucas horas em que convivi com ele, após anos sem nem ao menos saber se ele possuía uma irmã, posso dizer que parte da minha percepção sobre como ele é mudou um tanto considerável.

      Sei o que ele quis dizer sobre não acreditar em tudo o que dizem. Ele dizia sobre o que falam dele, sobre como ele se relaciona com boa parte das mulheres de Leawood.

      Sei que ele gostaria de me dizer que não somos somente isso. Não somos somente a parte ruim de nossas ações. Somos o ruim, mas também, somos a boa. E é nisto, que devemos nos agarrar.

      Porém as pessoas enxergam apenas o ruim em nós e se não houver força por parte da pessoa, ela auto se destrói...

      E eu estou confusa diante essa maré repentina que me puxou para o fundo do mar. Estou a reviver o passado que tanto me assombra. Não quero sofrer novamente. Não irei ceder a isto. Está é a minha única certeza.

      Agradeci mentalmente a chegada dos meninos e de Alicia àquela hora, mesmo odiando ao ver que era devido a um machucado no topo de dedo do pé da irmã de Dante que tropeçou enquanto brincavam de pega-pega pelo parquinho repleto de brinquedos.

      Está evidente que não me despedi, sequer perguntei a garota ou a Dante se precisavam de ajuda ou qualquer outra coisa. Minha meta foi chegar o mais rápido possível até o carro, mesmo tendo quase seguido Alicia, tropeçando muitas vezes no percurso. Dei sorte em chegar inteira ao carro, mas foram-se necessários uns bons cinco minutos tentando controlar a respiração antes de dirigir de volta para casa. Os meninos acreditaram na desculpa do sangue, apesar de questionarem o fato óbvio de que isso nunca me aconteceu antes quando eram eles que se machucavam.

      Nada. Absolutamente nada, funcionou no dia de hoje.

      O que me leva a estar aqui. Estirada em cima da cama olhando para o teto, esperando que haja alguma resposta nas hélices de madeira do ventilador que rodopiam nessa noite abafada.

      Será que estou a esperar novamente uma resposta ou sinal de alguma entidade divina?

      Será que ao menos acreditaria em algo?

      — Dormir não está sendo uma opção viável para essa noite, Beatriz. — Digo a mim bufando.

      Tateio o colchão até encontrar o aparelho e o acendo. Meus dedos digitam rapidamente a mensagem e já se encarregam de apertar o botão para enviar.

      Bea: Preciso de ajuda... Sem sono.

      Alguns segundos depois já sinto o celular vibrar em minhas mãos. Não é novidade ela não estar dormindo.

      Sam: Está morrendo? Se quiser posso ir até a sua casa agilizar o processo...

      Sam: É só me falar, aspirante a escritora. Sabe que guardo segredos.

      Sorrio ao ler a mensagem.

      Apesar da brincadeira, ela está certa.

      Samantha é a única pessoa que conhece todos os meus segredos e jamais, por mais graves que eles sejam, ela os contou a alguém. Assim como eu, por mais loucos que sejam, contei os dela para qualquer outra pessoa.

      Olha que engraçado, a vida é realmente incrível!

      Quando crianças, desejamos crescer e quando este desejo se realiza, tudo o que resta são crianças assustadas dentro de cascas de adultos.

      Bea: Lembra de quando lhe contei sobre tudo o que já passei? De como me senti?

      Digito.

      Sam: "Com um pressentimento ruim adornando o seu corpo, como se estivesse prestes a implodir e causar uma destruição em massa daqueles que ama sem sequer fazer nada. Completamente perdida, sem rumo, desejando o fim de tudo."?

      Sam: *Salvei a mensagem, você escreve muito bem quando não consegue lidar com as emoções mais simples.

      Outro bip.

      Sam: Isso tem algo a ver com um certo trabalho que precisa ser feito com um certo alguém inesperado? Dica: Esse alguém se chama Dante...

      Droga! Sam às vezes é direta de mais!

      Bea: Talvez... Estou sentindo algo estranho dentro de mim.

      Sam: Algo que te impede de dormir e faz com que você impeça sua amiga também?

      Bea: Elementar, minha cara Manson!

      Sam: Na mosca, Cline!

      Sam: Tenho uma ideia do que fazer. Topa?

      Okay, aquilo não poderia ser um bom sinal, porém já me encontro tão desnorteada quanto Sam.

      Uma dupla perfeita de malucas.

      Bea: Preciso me assustar com isso? Ou já posso encomendar o caixão?

      Sam: HAHA! Certamente será de matar!

      Sam: Domingo, no parque. Até lá a gente conversa.

      Bea: Vamos matar alguém?

      Bea: Certo. Boa noite, bruxa má.

      Me despeço de minha amiga com um velho apelido já mumificado. Levo a mão a boca ao bocejar. Talvez essa conversa esteja me deixando com sono. Perfeito.

      Sam: Carambola! Ainda se lembra desse vexame?

      Sam: Boa noite, aspirante a escritora.

      Bea: JAMAIS esquecerei. ;)

      Apago o celular e me encontro sorrindo sonolenta.

      Sozinha, em plena madrugada e sorrindo em meio a escuridão. Nada macabro.

      Sam apresentou aquela peça quando estávamos na sétima série. Lembro de tudo naquele dia. Ela ficou uma fera quando a professora lhe disse que ela havia se encaixado perfeitamente nas características da bruxa má da história da Branca de Neve. É claro que cai na gargalhada, ri até sentir minha barriga doer. Após isto, Sam entrou no personagem e fez sua atuação ser merecida de um Oscar. Parte dela adorou ter interpretado o papel. Super a cara dela mesmo.

      Agradeço aos céus por eu ter interpretado a Bela, apesar de Sam afirmar veementemente que eu nascera para ser a Fera. Lembro revirando os olhos.

      A história em si até pode ter feito um pouco, ou talvez muito sucesso, onde todos amam e tudo mais. Porém, é como se mostrasse que o amor pode mudar uma pessoa, que no caso, Bela transformou a Fera por amor. Acredito que se o que viveram fosse realmente amor, não haveria a necessidade de mudança, não haveria a necessidade de Fera mudar por Bela. Ela o aceitaria apesar de tudo e vice-versa. O que não aconteceu no conto.

      Sinto o celular vibrar ao meu lado e já o capturo sorrindo. Sam deve ter perdido o sono por minha causa. Posso ver a mensagem repleta de xingamentos e emojis enraivecidos me esperando no aplicativo de mensagens.

      Meu coração é o primeiro a sentir o baque ao notar de quem é a mensagem.

      Dante: Não sabia que era dessas que ficam até a madrugada acordada. Isso me surpreende de tão estranho... Nos encontramos amanhã às nove para discutir sobre o trabalho. Tenha bons sonhos, Cline.

      Há uma leve brincadeira em sua última frase e ele sabe disso. A essa hora ele já deve saber que não vou conseguir mais pregar os olhos por causa de sua mensagem e imagino o sorriso glorioso que estampa o seu rosto.

      — Droga! — Exclamo para o breu sentindo todo meu sono recém adquirido se dissipar nas trevas.

      Obrigada por tudo, Dante Hawthorne! 

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora