ღ CAPÍTULO 39 ღ

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Beatriz

      SUAS MÃOS AGARRAM AS MINHAS. O sinto segurá-las como se necessitasse delas para mantê-lo vivo. Os olhos azuis presos em mim ansiando alguma resposta diante das múltiplas perguntas que me foram lançadas. Dante sabe escolher uma música tão bem quanto Hercule Poirot sabe dizer quem é o assassino.

      — Me encontre mais tarde nesta noite? — As ondas de seus olhos suplicam para mim.

      — Dante...

      — Merecemos essa chance. Você sabe que a merece. — Me interrompe antes que eu possa dizer alguma coisa.

      — Eu sei que preciso me arriscar e quero isso, mas tenho medo... — Pauso controlando a respiração. — Medo de me machucar novamente.

      Dante se põe de joelhos encurtando o espaço que nos separa. Suas mãos ainda seguram firmes as minhas. Ele as puxa levemente me indicando para refazer os mesmos movimentos que os seus e eu os faço. Estamos de joelhos na grama levemente úmida por conta do orvalho, mas tampouco se importamos com isso. Tudo o que importa neste momento é exatamente isso, o momento. Meus olhos receosos presos nos olhos tempestuosos que são os seus, ambos desejando apenas uma única coisa em comum, o amor.

      — Não podemos tirar ele de nós.

      — Tampouco podemos fugir dele. — Completo encarando o meu destino.

      — E qual a sua resposta para isso? — Pergunta passando a segurar o meu rosto em suas mãos.

      — Vamos nos amar esta noite.

      Um sorriso satisfeito preenche o rosto de Dante enquanto o mesmo se aproxima do meu. Nossas respirações se tornam ofegantes quase que num passe de mágica bem diante de nossos olhos e ali, se condensam causando leves arrepios que percorrem completamente entorpecidos toda a extensão da minha pele. Sinto uma energia diferente envolver nossos corpos, trazendo um calor inumano para dentro de meu peito que sobe e desce em um descompasso sem fim, assim como vejo que o de Dante também faz.

      Quero findar essa maldição. Me livrar das cicatrizes e de todo o passado que apesar de me pertencer, já devia ter sido superado a muito tempo atrás. E finalmente, me encontrar livre.

      Livre para amar.

      — Espere.

      Peço colocando a mão sob a camisa de Dante impedindo a explosão que estava prestes a acontecer em nossos corpos. Deixando nossos lábios famintos a apenas milímetros de distância, quando os meus formigam querendo saciar o desejo que os domina.

      — Cline... — Ouço-o pronunciar em um sussurro contido.

      Praguejo mentalmente contra o meu outro eu que ainda acredita na extrema força que as palavras podem carregar quando bem utilizadas, e que por uma atitude impensada acabou de nos impedir de finalmente acabar logo com tudo isso, nos perdendo um no outro. Involuntariamente mordo meu lábio inferior para me punir. Dante sorri encarando a minha boca.

      — O que foi? — Seus dedos iniciam círculos calmos e intermináveis em minha bochecha.

      — Estou pensando em algo.

      — Alguma ideia que seja digna de um bom livro? — Sorrio afastando um pouco o rosto do seu.

      — Sim, uma ideia realmente digna de um bom livro.

      — Digna do Will? — Inquiri querendo saber.

      — Ahh, não sinto que seremos capazes de superar o amor de Julieta e seu Romeu.

      — Muito trágico?

      — Sim, muito trágico.

      E assim, conto a ele de forma rápida sobre a história louca que me cerca desde que despertei e Peter veio juntamente com as meninas até a minha casa. O simples costume de depositar palavras em um papel e logo após queimá-las. Desejando que as mesmas se tornem realidade. Não é que eu não acredite no poder que eu tenho sobre a minha própria história, este é apenas o modo que eu me vejo a escrevendo.

      — E então? — Pergunto almejando a sua resposta.

      — É estranho eu dizer que irei até o inferno por você?

      — Na verdade, é estranho sim.

      — Muito mesmo. — Diz rindo.

      Somos interrompidos quando o celular de Dante começa a tocar, vejo a palavra "Mãe" no visor quando ele atende e logo após já encerra a ligação.

      — Droga. Preciso ir buscar a Alicia.

      Rio com a forma que Dante fala as palavras.

      — Papel de irmão mais velho?

      — Sim, papel de irmão mais velho.

      — Vai ficar repetindo as minhas palavras? — Inquiro ao notar um tom alegre em sua voz.

      — Sim, vou ficar repetindo as suas palavras.

      — Não vejo problema algum em você ir. — Digo arqueando as sobrancelhas.

      — Já esperava essa resposta vindo de você, Cline. — Responde se levantando e pegando o violão. — Trinta minutos e já estou de volta.

      — Certo, capitão.

      — E só para lembrá-la, você me deve um beijo. — Minhas bochechas ardem com o comentário inesperado. Estreito os meus olhos.

      — E só para lembrá-lo, não me faça lhe odiar novamente, Dante Hawthorne.

      — Eu prometo que não irei, Beatriz Cline.

      Diz sério apesar de conter um sorriso em seu rosto. Seus olhos ficam em mim por mais alguns segundos, quase como se estivesse a tirar uma fotografia imaginária para guardá-la em sua mente. Retribuo o sorriso involuntariamente antes dele se virar e partir, seguindo o seu caminho.

      Seguindo o seu caminho para depois voltar. 

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora